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Porto Alegre, domingo, 14 de maio de 2017. Atualizado �s 22h33.

Jornal do Com�rcio

Panorama

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LITERATURA

Not�cia da edi��o impressa de 15/05/2017. Alterada em 14/05 �s 19h39min

Novo t�tulo de Gon�alo M. Tavares chega ao Brasil

Livro do escritor luso-angolano Gon�alo M. Tavares ganha edi��o brasileira

Livro do escritor luso-angolano Gon�alo M. Tavares ganha edi��o brasileira


TERASA S/DIVULGA��O/JC
Ricardo Gruner
Aos 46 anos, o luso-angolano Gonçalo M. Tavares já tem mais de 35 livros publicados e carrega na bagagem destaques como o Prêmio Literário José Saramago e o Prêmio Portugal Telecom de Literatura. A partir de hoje, mais um título do escritor pode ser encontrado em edição nacional nas livrarias: O torcicologologista, excelência (Dublinense, 256 págs., R$ 39,90). Formado basicamente por diálogos entre "excelências", o lançamento inclui debates sobre o corpo, o tempo, a linguagem e o espaço, entre outros temas - que aparecem de maneira irônica e lúdica. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o escritor falou sobre o trabalho.
JC Panorama - Em certo momento de O torcicologologista, excelência, o comportamento racional é ligado aos números. O que a leitura e a escrita podem fazer pelo corpo humano?
Gonçalo M. Tavares - É evidente que os números e a contabilidade são necessários, mas uma espécie de imaginário é também necessária ao homem. De alguma maneira, nesses diálogos, há um contraponto entre uma espécie de racionalidade fechada e, depois, um salto súbito que entra logo em um devaneio. A vida tem muito disto. Nossa cabeça, por um lado, é muito concreta, tem que resolver obstáculos que estão à frente, mas, por outro, tem direito ao devaneio, à imaginação.
Panorama - Supostamente, um diálogo envolve a troca de ideias, o que não ocorre em todas as conversas cotidianas. Como surgiu este formato para a primeira parte do livro?
Tavares - Há a questão do diálogo filosófico, que permite duas pessoas a chegarem a um ponto em que não chegariam sozinhas. O que ouço faz com que eu fale de uma forma diferente. É o que diz o outro que me permite dizer coisas que eu não tinha dito antes. A grande diferença entre o monólogo e o diálogo, em termos de pensamento, é essa. O diálogo platônico leva uma pessoa a caminhos que nunca foi. O verdadeiro diálogo é esse. Infelizmente, no cotidiano, muitas vezes, o diálogo é só um somatório de dois monólogos. Me interessava retomar essa forma clássica, de maneira lúdica - mas, ao mesmo tempo, tentando chegar a algo mais consistente e conseguindo apanhar algumas contradições do pensamento, do raciocínio e da própria vida.
Panorama - A ironia aparece em vários trechos da obra. O que lhe interessa nessa ferramenta como uma forma de expressão literária?
Tavares - A ironia é a arte de ganhar distância em relação às coisas. É um afastamento, quer físico, quer emocional. É quase ver de helicóptero os acontecimentos, ou ver dentro do interior de um vidro, como se o que acontecesse estivesse dentro do aquário. O interessante é essa desconstrução da seriedade. A ironia não se entrega, não está ligada ao entusiasmo. Pelo contrário, está ligada a uma certa prudência, a um certo não acreditar. O crente é o contrário do irônico. Nesse caso, estão dois homens a falar, e, muitas vezes, parecem ser apenas um, e há uma descrença, claramente. Não no sentido religioso, mas no sentido do próprio pensamento.
Panorama - Assim como outros trabalhos seus, é difícil definir o livro dentro de um gênero. No entanto, você mesmo separa seus títulos em séries. Por que começou a fazer isso?
Tavares - Acho que os gêneros não devem participar da atividade do emissor, do escritor. Julgo que o material do escritor é o alfabeto, e, depois, claro, as emoções, os acontecimentos, o estudo do homem, do comportamento humano. Acho que uma pessoa deve escrever um texto com determinado objetivo - e depois, sim, olhar para ele e pensar se é mais romance, mais poesia, ensaio. Mas não acredito nessas formas puras. Tentei organizar meus livros tendo esse ponto bem claro. Acabei de escrever. Então que tipo de animal é este livro? Gosto muito dessa expressão do livro como um animal. Que característica tem? E a partir das características, muitas vezes, senti que eles não se encaixavam em nenhum gênero literário clássico. A partir daí, fui construindo os meus próprios, de alguma maneira. Acredito que um livro pode e deve construir um gênero.
Panorama - O que move seus hábitos literários? A essência da literatura que produz é a mesma que lhe encanta como leitor?
Tavares - Escrevo porque tenho necessidade, fico bastante irritado quando não escrevo. É essa necessidade que me faz escrever, uma necessidade quase animalesca. Quando escrevo, meu corpo fica contente. Quando não escrevo, não fica contente. Como leitor, é muito diferente. Gosto de coisas completamente distintas umas das outras - tal como escritor; escrevo, julgo eu, coisas muito diferentes. Normalmente, de manhã, leio ensaios, é raro ler ficção ou poesia de manhã. Preciso de estímulos fortes, ligados a ensaio e filosofia. Às vezes, à tarde ou à noite, quando estou mais cansado, leio ficção, poesia, ciência. Meu modo de leitura é nunca ler nada que, naquele momento, eu não queira ler. Nunca li nenhum livro por obrigação.
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