A estabilidade e a segurança dos diques da Capital nunca foram avaliadas. Isso é o que disse o ex-diretor do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Darcy Nunes dos Santos, em depoimento prestado à CPI do Dmae na manhã desta segunda-feira (25), ao contextualizar que a estabilidade dos diques nunca foi um parâmetro de segurança, já que o volume de água da enchente de maio de 2024 foi uma exceção. Santos, que atualmente trabalha na assessoria da presidência da autarquia, não reconheceu que o órgão passa por um processo de sucateamento e reiterou que todas as Casas de Bomba do município estavam funcionando normalmente antes das enchentes de 2024 e que, mesmo se tivessem geradores, seriam desligadas por causa do volume de água.
Em sua fala, o servidor confirmou que várias funções previstas não são mais desempenhadas no Dmae, especialmente porque o plano de cargos da autarquia foi mapeado em 1988. Além disso, Santos destaca que as contratações vêm sofrendo mudanças por causa das terceirizações. “A gente tem, às vezes, a percepção de fora que é fácil contratar funcionário por concurso, não é fácil”, pontuou.
Mesmo trabalhando no Dmae durante a gestão de Alexandre Garcia, denunciado por corrupção no órgão, o ex-diretor afirma que ficou sabendo sobre denúncias de má conduta na autarquia pela imprensa e que o processo de investigação interna foi conduzido pelo Gabinete do Prefeito.
De acordo com a vereadora Natasha Ferreira (PT), presidente da comissão, as respostas do depoente foram confusas. "O desmonte do Dmae, na verdade, é apontado inclusive pelo Ministério Público de Contas, quando fala da questão do caixa, da não-execução de obras, do déficit de pessoal", afirmou a parlamentar. Sobre a situação das Casas de Bomba, Natasha reitera que um diagnóstico feito em 2018 por engenheiros da própria autarquia mostrou a necessidade urgente de modernização e reforma dos mecanismos. Além disso, segundo ela, o documento também mostra que as comportas do Guaíba deveriam ser acompanhadas com atenção pela gestão pública, o que também não foi feito.
Por outro lado, a vereadora Cláudia Araújo (PSD), vice-presidente do colegiado, avaliou que a sessão foi positiva e que Santos trouxe pontos relevantes para a investigação. Dentre as considerações do ex-diretor, a parlamentar destacou o fato de que foi pedido um repasse de R$ 66 milhões ao governo federal para manutenções no sistema de proteção da Capital. Até o momento, apenas R$ 4 milhões foram entregues. "A gente ficou muito aquém daquilo que precisávamos", pontuou.
A próxima oitiva será com o pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e ex-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Carlos Bulhões, no dia 8 de setembro. O comparecimento de Bulhões foi solicitado por vereadores da base. De acordo com Cláudia, o testemunho do pesquisador será importante de um ponto de vista acadêmico, pensando na parte técnica dos processos.