Nono maior colégio eleitoral do Rio Grande do Sul, São Leopoldo passará por mudanças na administração pública a partir de janeiro de 2025. Delegado Heliomar (PL) assumirá a prefeitura após dois mandatos de Ary Vanazzi (PT) na cidade. Para o prefeito eleito, a grande prioridade para a próxima gestão é melhorar a situação da saúde pública da cidade.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Heliomar aborda os planos para a gestão de São Leopoldo. O prefeito eleito destaca as metas de promover a inovação, a desburocratização, a informatização e o combate à corrupção como pilares fundamentais do governo que assumirá em janeiro.
Outra ênfase são as parcerias público-privadas, que o futuro chefe do Executivo do município da Região Metropolitana de Porto Alegre aponta como medidas que serão muito aplicadas durante o seu mandato, que se estende até dezembro de 2028.
Jornal do Comércio - Qual o balanço da campanha eleitoral?
Delegado Heliomar - Nossa campanha foi muito propositiva, em que pese termos uma polarização de candidaturas de direita e de esquerda. Acabamos optando por dialogar mais com o povo em relação às nossas propostas, porque já imaginávamos que tínhamos a preferência do eleitor ideologicamente identificado com o segmento da direita. E temos um bom percentual de pessoas que não vota nem na direita, nem na esquerda. Vota por propostas ou vota pela pessoa, e tem a fase também do voto útil. Então, com essas pessoas é que nós fomos dialogar, e aí nossas propostas chegaram até elas, conseguimos nos comunicar. E a campanha terminou com uma vitória bem consistente, eu diria, de quase 55 mil votos contra 45 mil.
JC - Como está sendo a transição de governo?
Heliomar - Agora já estamos numa fase de transição em que as equipes do governo que está saindo e do que está entrando estão dialogando. Procuramos manter em alto nível esse diálogo, tratando isso com muita ética, responsabilidade, e preservando as informações que têm que ser preservadas e que têm que ser, algumas delas, tratadas de forma reservada. E fizemos a primeira apresentação dos oito grupos temáticos da transição do governo. Essas pessoas apresentaram um diagnóstico baseado em números, alguns recebidos da própria prefeitura na época, na fase de transição, e outros que foram buscados por outras fontes, e que podem dar um panorama do que vamos realmente encontrar em janeiro em São Leopoldo. Esse mapa da cidade, esse quebra-cabeça financeiro e administrativo, ele vem sendo construído aos poucos. Pretendemos fazer também, a partir disso, uma reforma administrativa. Entendemos que o tamanho da máquina pode ser reduzido para se tornar mais eficiente, mais ágil. A nossa proposta de governo também trata de inovação, desburocratização, informatização e combate à corrupção. Esses quatro pontos são centrais no nosso projeto de governo de São Leopoldo.
JC - Como será esta reforma administrativa? Haverá redução de secretarias?
Heliomar - Vamos fazer, na maioria das vezes, uma incorporação entre secretarias que têm objetivos semelhantes, que não precisariam estar separadas e que podem usar a mesma estrutura administrativa. Também pretendemos criar um setor de projetos, que vai prospectar recursos e investimentos, elaborar projetos e fazer a prestação de contas desses projetos. Observamos que esse é um dos grandes gargalos da administração pública na cidade, que é essa questão de prospecção de recursos e apresentação de projetos para poder atraí-los, trazê-los para a cidade de São Leopoldo, nos mais diversos segmentos. Então, esse setor vai ser responsável, de forma transversal, por dialogar com as várias secretarias que ainda permanecerão, e será encarregado de construir os projetos para angariar os recursos e investimentos necessários e, depois, auxiliar na prestação de contas.
JC - Quais as prioridades a partir de 1º de janeiro?
Heliomar - Vamos trabalhar muito fortemente naquilo que a população nos pediu. Nós ficamos um ano e meio colhendo opiniões das pessoas para formular o projeto de governo. O problema da política pública de saúde nos foi relatado como o mais grave, e constatamos isso. Isso foi um pouco ofuscado pela enchente, que foi algo pontual, súbito, que trouxe um drama muito grande, temporário. Isso ofuscou um pouco o problema da saúde pública, mas talvez tenha até agravado, porque tem muitas pessoas que têm e tinham problemas mentais - procuravam o sistema de saúde pública por questões mentais. Isso tende a se agravar com a questão da perda dos seus entes queridos, dos seus bens, até dos seus animaizinhos de estimação, das suas casas. A saúde pública, certamente, vai sair bem pior do que já estava antes da enchente. Então, a partir do 1º de janeiro, o nosso foco é a saúde pública. Temos que melhorar, humanizar, a partir já de janeiro, o atendimento a essas pessoas, diminuir o tempo de espera, investir em teleatendimento, e já estamos olhando isso, mesmo agora na fase de transição, criando mecanismos para agilizar o atendimento das pessoas. Tem pessoas que ficam 10 horas esperando o atendimento, e nós não queremos mais isso. E, além disso, vamos para Brasília tratar de buscar programas federais para desafogar o represamento de cirurgias eletivas. Temos em torno de 10 mil cirurgias eletivas esperando para serem realizadas, 4 mil consultas e exames que estão represados também. Então, vamos em busca do mutirão. Vamos tentar um mutirão de saúde para janeiro para aliviar essa pressão sobre as consultas e cirurgias e exames laboratoriais.
JC - Essas são medidas de curto prazo. Quais propostas destaca para o futuro da saúde na cidade?
Heliomar - A médio e longo prazo, uma política pública para oxigenar essa área da saúde. Vamos consultar a população sobre os seus desejos, talvez haja necessidade de um novo hospital, talvez seja necessária a mudança da gestão hospitalar. Hoje tem um sistema de terceirização, talvez a gente tenha que buscar uma instituição filantrópica. Estamos conversando muito fortemente com a Unisinos, que tem uma escola de Medicina que não aproveita as estruturas do Hospital Centenário. Então, gostaríamos que o Hospital Centenário fosse um hospital-escola. Isso poderia também trazer benefícios ao atendimento à população, porque vamos ter mão de obra nova chegando, práticas hospitalares padronizadas sendo introduzidas, os protocolos médicos sendo seguidos, e os professores, a rede acadêmica abraçando o hospital. Então, uma nova cultura chegando dentro do Hospital Centenário, isso seria ótimo. Estamos em tratativas para que a Unisinos abrace essa questão, essa causa. E estamos dando todo o suporte a partir de janeiro para que isso aconteça. Então, a saúde pública vai ter uma atenção diferenciada na nossa gestão. E outra situação é da reconstrução da cidade.
JC - E o que ainda é necessário ser feito para recuperar a cidade?
Heliomar - Nós já estivemos, inclusive, com a administração pública federal, e estamos tratando na Secretaria de Reconstrução com o responsável, que é o secretário Maneco Hassen, sobre os recursos e os projetos que São Leopoldo tem apresentado. Não queremos perder nenhum tipo de recurso, nenhum tipo de investimento na cidade e daremos continuidade aos projetos que vêm sendo feitos no sentido de reconstrução e construção também de casas. Existem vários programas em nível federal, em nível estadual também há, e nós vamos nos cadastrar em todos. Aproveitar essa equipe de projetos que estamos montando para que faça a apresentação dos planos de trabalho. Alguns planos não foram ainda apresentados, já estamos quase terminando o ano, e sabemos que alguns recursos poderão até ser perdidos se não forem apresentados os planos de trabalho, os projetos. Então, estamos trabalhando, alertando a gestão atual, e a partir de janeiro as nossas equipes entrarão em cena. Estivemos com o governador Eduardo Leite (PSDB) conversando sobre isso, porque havia um certo distanciamento do Estado com relação ao município, um estremecimento. Resolvemos essa situação política, trabalharemos lado a lado com o governo estadual. Todos os programas, seja de assistência social, defesa civil ou saúde pública, serão compartilhados com o governo estadual. O município será parceiro e adentrará, irá aderir aos programas do governo do Estado em sua totalidade. Isso foi uma garantia que demos para o governador, então seremos parceiros a partir do ano que vem para implementar esses projetos do governo do Estado para as melhorias que a cidade precisa. Então, me parece que esses caminhos estão pavimentados. Sabemos que na contenção das cheias, no programa dos diques, das comportas e bombas, o programa é do governo federal, os recursos vêm do governo federal, e o governo estadual vai executar esses projetos, essas obras. E à prefeitura cabe a supervisão disso tudo, acompanhamento, e vamos estar muito próximos, tanto do governo estadual quanto do federal. Nesse ponto, não temos nenhum tipo de "ranço" político, queremos o melhor para a comunidade. Aqueles projetos que são bons e que estão entregando serviço público de qualidade à cidade vão ser continuados e até mesmo ampliados, se for possível. E vamos trazer outras coisas, vamos trazer a Lei de Liberdade Econômica, vamos trazer as parcerias público-privadas, vamos modernizar a cidade através da informatização, da desburocratização dos processos e da transparência com a comunidade.
JC - Além da questão da saúde pública, que outras áreas são fundamentais para melhorias em São Leopoldo?
Heliomar - São Leopoldo tem hoje mais de 40 mil pessoas que vivem de benefícios sociais, como Bolsa Família, por exemplo. Então, vamos fazer um trabalho muito forte para entregar dignidade para essas pessoas. As pessoas precisam de capacitação e oportunidades para poder resgatar a própria dignidade. Temos pessoas que precisam também de fornecimento de alimentos. Não podemos permitir que haja interrupção para essas pessoas que não conseguem manter o próprio sustento, mesmo com os benefícios sociais que recebem. Então, nessa área da ação social, vamos nos dedicar bastante também. Na área da segurança pública, vamos trabalhar muito fortemente, porque é a área de onde eu venho, é a minha origem. Queremos transformar São Leopoldo em uma das cidades mais seguras da Região Metropolitana através da integração das forças policiais e da instalação de uma central de comando integrada com câmeras e softwares de última geração para monitoramento com centenas de câmeras. Hoje temos 16 guardas municipais monitorando câmeras em turnos, e 50 câmeras. Nossa ideia é deixar apenas um. Tirar esses profissionais, devolver eles para as ruas, trazendo a ostensividade que a cidade precisa e substituir por um software inteligente, com o monitoramento dessas câmeras que já estão lá, além de aumentar o número de câmeras instaladas. Vamos aproximar a Guarda Municipal da comunidade, através de rondas nos casos de violência doméstica. Esses guardas irão mapear os locais onde ocorreu e irão fazer visitas periódicas. Vamos fazer também programas educacionais junto às crianças, programas de educação de trânsito, prevenção ao uso de entorpecentes, coisas assim. A parte de segurança pública vai entrar muito forte. Além disso, queremos impulsionar o desenvolvimento econômico da cidade através de parcerias público-privadas e da efetivação da Lei de Liberdade Econômica, que precisa ser imediatamente colocada em prática para que as empresas consigam superar os entraves burocráticos para se instalar na cidade. Então, queremos conferir a agilidade na instalação e na regularização das empresas que lá estão e atrair novos investimentos para a cidade, através de incentivos fiscais, da desburocratização e das parcerias público-privadas. E mais, na área da cultura, vamos resgatar a identidade cultural da cidade, que é um berço da colonização alemã e que hoje está ofuscada, esquecida, apagada. A própria Casa do Imigrante está em ruínas e está lá há 200 anos e não se consegue fazer com que ela tenha um mínimo de conservação. Então, vamos resgatar tudo isso, os museus da cidade, os locais históricos, prédios públicos históricos, a Casa do Imigrante, a festa tradicional da cidade, que é uma festa germânica, vai ter esse brilho, vai ter essa conotação. Neste ano já vimos que não teve, e nos outros anos também não estava tendo. São Leopoldo vai resgatar a cultura e a identidade de ser o berço da colonização alemã no Brasil.
JC - Ao final do seu mandato, que legado pretende deixar para São Leopoldo?
Heliomar - A cidade da inovação. Pelas parcerias que vamos formar com o Tecnosinos, com o polo de tecnologia, de inovação, de informática, com a universidade. São Leopoldo já tem os ativos para isso, porque ela tem o Tecnosinos, ela tem a universidade, ela tem grandes indústrias. Então, eu gostaria que ela fosse reconhecida como a cidade da inovação em todos os segmentos da administração pública e em todos os segmentos empresariais.
Perfil
Heliomar Franco é gaúcho e natural de Inhacorá. Serviu na Aeronáutica em Santa Maria, e depois foi aprovado em segundo lugar em concurso para Sargento no Rio de Janeiro. Formou-se em Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e, em seguida, foi aprovado como Delegado de Polícia. Atuou com destaque no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e no Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), na Polícia Civil do RS. Foi servidor público por 30 anos. Concorreu à prefeitura de São Leopoldo em 2020, ficando em segundo lugar. Em 2024, elegeu-se prefeito de São Leopoldo pelo PL na chapa formada com a vice Regina Caetano (Progressistas).