As eleições municipais trouxeram 14 novos nomes para a Câmara de Porto Alegre. Por isso, o Jornal do Comércio inicia uma série de entrevistas com os vereadores estreantes do Parlamento da Capital. No PSOL, que passou de quatro para cinco cadeiras, são duas novidades representativas de grupos sociais minoritários: Grazi Oliveira fará parte da bancada negra e Atena Roveda da LGBT.
Jornal do Comércio - O que essa vitória representa para você?
Grazi Oliveira - A luta do coletivo, que é possível chegarmos nos espaços políticos quando temos pessoas que acreditam na força do trabalho coletivo, da periferia, com as lideranças, do trabalho de base, construído com as pessoas.
Atena Roveda - Eu acredito que a minha vitória, antes de tudo, é uma vitória coletiva. Ela tem um nome por conta do processo eleitoral. Mas ela tem muitas participações, muitos corpos e muitas existências. Então, é o momento em que a gente consolida historicamente que as LGBTs estarão plenamente representadas dentro do parlamento porto-alegrense.
JC - Quais as principais pautas que pretende levar para a Câmara Municipal ao longo do mandato?
Grazi - A primeira pauta que a gente precisa debater é a reconstrução de Porto Alegre, é a pauta do clima. É discutir a possibilidade de decretarmos emergência climática, porque estamos vivendo uma situação gravíssima na cidade. Para além disso, tenho a pauta da educação, sou professora há mais de 20 anos. Então, tudo que está relacionado à educação vai ser o nosso mote de trabalho. Tudo que está ligado à luta antirracista e o combate ao racismo também, assim como pautas para as mulheres, somos minorias nesse espaço de poder e temos muitas coisas para pensar e construir no município. Sou uma mulher negra e periférica, não tem como não estar agarrada nas lutas antirracista e feminista.
Atena - Nosso mandato vai se constituir numa coluna vertebral formada por três grandes pautas. A primeira, é a questão ambiental, em que prioritariamente se vai colocar como necessidade a discussão da emergência climática. Concomitante, temos todos os direitos das pessoas LGBTs, não só as que estão no Centro da cidade, mas as que estão na periferia também. O nosso papel político é também identificar vulnerabilidades dessa população, entender quais são as causas dela e dar conta material de lidar com esses problemas. E a terceira pauta é a cultural, a gente precisa entender as pessoas que estão envolvidas na produção da cultura não apenas como artistas, mas como trabalhadores e trabalhadoras, que geram riqueza para Porto Alegre na perspectiva social e econômica.
JC - Quem é a sua principal inspiração política?
Grazi - Eu me inspiro, de verdade, na minha mãe, na luta que ela travou a vida toda. Mas sendo uma pessoa pública, eu tenho muita referência na Marielle Franco e no deputado estadual Matheus Gomes (PSOL).
Atena - Acredito que seja uma soma. Te cito três: os ex-governadores Leonel Brizola e Olívio Dutra, além da deputada federal Erika Hilton (PSOL).
Quem é Grazi Oliveira

Grazi Oliveira (PSOL) promete abordar pautas de educação na Câmara Municipal
Redes sociais/Reprodução/JCGrazi Oliveira, 43 anos, é mestra e doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com pesquisas voltadas à educação para as relações étnico-raciais. Nascida e criada na periferia da Zona Sul de Porto Alegre, ela é conhecida pela militância na luta antirracista. Na vida política, atuou como chefe de gabinete do deputado estadual Matheus Gomes (PSOL), coordenando os trabalhos nas pautas de gênero e combate ao racismo. Nas eleições deste ano foi a única entre os dez candidatos a vereador mais votados que não concorria à reeleição, ocupando a quinta posição no ranking, com 14.321 votos, e conquistando a segunda das cinco cadeiras do PSOL.
Quem é Atena Roveda

Atena Beauvoir (PSOL) quer pautar debate sobre a cultura em Porto Alegre
Elson Sempé Pedroso/CMPA/Divulgação/JCAtena Beauvoir Roveda, 33 anos, é professora de Filosofia e mestranda em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Filha de atores, iniciou sua vida cultural no teatro de rua aos 15 anos, posteriormente, passou a ser uma poeta do slam, um tipo de poesia falada. É autora de nove livros, incluindo Libertê: Poesia, Filosofia e Transantropologia (2018), inspirado na filosofia de Jean-Paul Sartre. Nas eleições de 2020, ficou como suplente na Câmara Municipal, à época, pelo PDT. Em dezembro do ano passado, tornou-se a primeira transsexual a aprovar um projeto de lei em Porto Alegre, que havia sido protocolado quando substituiu o vereador titular Márcio Bins Ely (PDT). Nas eleições deste ano, foi eleita com 4.260 votos, conquistando a quinta cadeira do PSOL.