Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 09 de Abril de 2024 às 10:05

ENTREVISTA: quem é e o que pensa o norte-americano do Twitter Files Brazil

Elon Musk compartilhou a investigação de Michael Shellenberger

Elon Musk compartilhou a investigação de Michael Shellenberger

Reprodução/JC
Compartilhe:
Mauro Belo Schneider
Mauro Belo Schneider Editor-executivo
Depois de publicar o documento Twitter Files Brazil, revelando mensagens de antigos funcionários do Twitter sobre remoção de perfis da plataforma, o nome do jornalista norte-americano Michael Shellenberger tem sido muito citado no Brasil. A repercussão internacional gerou, inclusive, troca de farpas entre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o atual dono do X, Elon Musk. Em conversa com o Jornal do Comércio após sua passagem por Porto Alegre para o Fórum da Liberdade, Shellenberger falou sobre suas motivações para investigar o tema de censura nas redes sociais.
Depois de publicar o documento Twitter Files Brazil, revelando mensagens de antigos funcionários do Twitter sobre remoção de perfis da plataforma, o nome do jornalista norte-americano Michael Shellenberger tem sido muito citado no Brasil. A repercussão internacional gerou, inclusive, troca de farpas entre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o atual dono do X, Elon Musk. Em conversa com o Jornal do Comércio após sua passagem por Porto Alegre para o Fórum da Liberdade, Shellenberger falou sobre suas motivações para investigar o tema de censura nas redes sociais.
O jornalista morou no Brasil há 30 anos, quando era fã da esquerda, do PT e do presidente Lula. Fez trabalhos com o Movimento Sem Terra (MST), namorou uma carioca e chegou a pensar em ficar de vez no País. Se diz uma pessoa com estilo brasileiro e, em sua passagem atual pelo Rio Grande do Sul, São Paulo e Brasília, é ciceroneado pelo deputado federal Marcel van Hattem (Novo).
Jornal do Comércio – Como se sente com toda repercussão do Twitter Files Brazil?
Michael Shellenberger – Sou um jornalista muito competitivo, gosto de dar furos de reportagem, mas nesse caso só me sentia muito triste e com muito medo pelos brasileiros. Nesse momento, vários governos do mundo estão fazendo uma guerra contra a liberdade de expressão, mas o Brasil é um país que amo muito. No passado, há 30 anos, eu pensava em morar aqui, pois tinha uma namorada brasileira e me dou bem com a cultura. Sou uma pessoa com uma atitude brasileira, gosto muito deste País. Senti raiva, especialmente, pelo advogado Rafael Batista (ex-consultor jurídico do Twitter que informou que o ministro Alexandre de Moraes solicitou dados de contas de usuários), uma pessoa com integridade. Ele tinha medo do processo criminal contra ele. Sempre odeio os bullies, desde que eu era criança. E sentia muito disso no Alexandre de Moraes. A censura, em outras partes do mundo é muito desonesta, mas é feita através de ONGs, quando o governo dá dinheiro. Nesse caso, foi muito agressivo, diretamente contra o Twitter. Fiquei muito chocado pois ele pedia informações pessoais, queria ver mensagens, desmascarar identidades de pessoas que somente usaram uma hashtag ou fizeram um retuíte.

JC – Conte mais sobre sua relação com o Brasil?
Shellenberger – Eu era muito da esquerda, por isso fui atraído à América Latina. O Departamento de Estado deu bolsas para estudar português na Universidade de Michigan e fiquei muito apaixonado pelo PT. Saiu um livro que se chamava Without fear of being happy (Sem medo de ser feliz, em tradução livre), que era sobre o Lula. Parecia uma esquerda mais democrática, que não era como Cuba, não era contra a liberdade, era socialista, queria igualdade. Vim para o Brasil, morei no Ceará e depois no Maranhão. Fiz investigações no campo com o MST e com a sociedade maranhense em defesa dos direitos humanos. Tinha uma namorada carioca cineasta, a irmã de Fernando Meirelles. Era uma cena muito legal. Vim várias vezes: 1992, 1994, 1995 e 1996. Passei muito tempo, fiz entrevista com Lula em 1994, há 30 anos. Naquela época, perguntei ao Lula se ele queria fazer como Cuba e ele me disse que não, que respeitava as liberdades. E agora ele faz parte de um governo que está tratando de censurar as pessoas. A última vez que eu estive aqui a esquerda era esperança, e agora vejo a esquerda fazendo coisas ruins, as pessoas do PT exigindo censura através do X. Eu sei que eu mudei também.

JC – O que sua agenda inclui no País após sua passagem por Porto Alegre no Fórum da Liberdade?
Shellenberger – Vamos tentar falar com (Arthur) Lira (presidente da Câmara dos Deputados), líderes da oposição, fazer uma coletiva de imprensa e talvez uma audiência pública. Ficarei aqui até sábado.
JC – Elon Musk compartilhou seu conteúdo sobre o Twitter Files Brazil. Você já o conhecia? Ele estava sabendo desta investigação?
Shellenberger – Conheci ele em dezembro de 2022, quando entrei na sede do Twitter com minha amiga Bari Weiss, que era editora do The New York Times, muito famosa nos Estados Unidos. Ela me respeita como jornalista investigativo. Fui lá, conheci Elon e era meio estranho, pois fiz críticas muito duras a ele no meu livro Apocalipse Never, pois sou crítico de energias renováveis. No Brasil, isso é algo especial pois tem muitas hidrelétricas, mas não acho painéis solares muito bons. Então, eu fiz críticas e foi meio incômodo. Era cético sobre o espaço, tenho uma ideia mais convencional da natureza. Acho que a Terra é boa e não precisamos ir para Marte. Não era fã de nenhuma forma, mas a verdade é que em todas as situações Elon tem decisões corretas, de proteção da expressão da liberdade. Eu estava esperando que o Tribunal Superior dos Estados Unidos nos ajudasse com a situação da censura, mas eles não vão fazer nada para ajudar. Elon Musk é uma coisa estranha, mas a liberdade de expressão depende muito dele. Como jornalista independente, posso escrever, tenho meus próprios seguidores, que me pagam, sou livre. Pela primeira vez em toda minha vida, não tenho que trabalhar para outra pessoa. Ele não sabia que eu ia fazer os arquivos do Twitter para o Brasil, não tivemos a permissão dele. A única condição é que a gente publica primeiro no X, e eu tenho feito isso. Senti que coloquei ele numa briga com o Alexandre (de Moraes), mas não falei com ele. Houve mais coisas acontecendo, não foram somente os arquivos, mas forçou um pouco essa briga. Por isso estamos onde estamos agora.
JC – O que mais está por vir deste assunto?
Shellenberger – Elon Musk revelou agora que Alexandre pediu a censura do X de jornalistas e políticos e pediu que X dissesse que a censura foi da empresa. Talvez Alexandre vá negar, mas se for verdade, isso é uma coisa muito séria. É comum que as pessoas que querem fazer censura chamem o Twitter para dizer que é violação dos termos de serviço. Há uma operação de pessoas financiadas pelos governos para ajudar a mudar as regras. É muito desonesto, pois não se assume a responsabilidade do pedido.

Notícias relacionadas