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Publicada em 02 de Abril de 2024 às 21:40

Comissão de Anistia concede reparação inédita a indígenas

Expulsão sistemática dos guarani-kaiowá do território Guyraroká ocorre desde a Era Vargas

Expulsão sistemática dos guarani-kaiowá do território Guyraroká ocorre desde a Era Vargas

EVARISTO SA/AFP/JC
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Folhapress
Após os 60 anos do golpe militar, com atos abafados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Comissão de Anistia julgou procedente os dois pedidos inéditos de perdão coletivo para atos cometidos pelo Estado contra povos indígenas.
Após os 60 anos do golpe militar, com atos abafados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Comissão de Anistia julgou procedente os dois pedidos inéditos de perdão coletivo para atos cometidos pelo Estado contra povos indígenas.
O colegiado concedeu nesta terça-feira (2) reparação aos povos guarani-kaiowá e krenak pela violência que sofreram no período autoritário (1946 a 1988). A Comissão Nacional da Verdade estima que pelo menos 8.350 indígenas foram mortos.
Os dois casos envolvem povos expulsos de seus territórios e foram indeferidos pela então ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, no governo Jair Bolsonaro (PL).
Agora, foram reavaliados. O pedido de anistia é um instrumento de reparação e preservação da memória e da verdade. Por meio dele, o Estado pede perdão às vítimas dos crimes cometidos pela ditadura militar.
Em 2023, o regimento da Comissão de Anistia - colegiado que analisa os pedidos- passou a prever explicitamente reparações coletivas. Este foi o primeiro julgamento de perdão a povos indígenas.
A expulsão sistemática dos guarani-kaiowá do território Guyraroká é anterior à ditadura militar e começa na Era Vargas. A terra chegou a ser delimitada e declarada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), mas a demarcação acabou barrada no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2014.
No ano seguinte, o procurador Marco Antonio Delfino de Almeida, do Ministério Público Federal (MPF), entrou com o pedido de perdão na Comissão de Anistia. O processo é relatado por Maira Pankararu, única indígena a compor o colegiado.
O documento mostra, baseado em estudos da Funai e relatos, como os guarani-kayowá de Guyraroká, a partir de 1940, foram alvo da política brasileira de remoção de indígenas de áreas de interesse do agronegócio - o que se intensifica a partir da década de 1970, na ditadura, com o Plano de Integração Nacional e a soja.
Os indígenas eram "expulsos" dos locais onde habitavam e "confinados" em reservas delimitadas pelo governo federal. O local original, então, era passado a fazendeiros.
 

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