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Investigação

- Publicada em 31 de Março de 2022 às 14:12

Canoas: MP-RS diz que 'organização criminosa' atuou em contratos de R$ 66 milhões

Procuradores deram detalhes de como os acusados atuavam durante coletiva na sede do MP-RS

Procuradores deram detalhes de como os acusados atuavam durante coletiva na sede do MP-RS


Fotos: MP-RS/DIVULGAÇÃO/JC
Atualizada às 18h58min
Atualizada às 18h58min
A megaoperação que provocou o afastamento do prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), secretários e outros executivos da prefeitura da segunda economia do Estado, na manhã desta quinta-feira (31), vai muito além dos limites do município.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), que comanda a investigação e montou a operação Copa Livre definiu as ações apuradas como sendo de uma organização formada por políticos, da esfera municipal à federal, e empresas prestadoras de serviços acusadas de fraudar os cofres públicos.
Jorge foi afastado das funções, que também atingiu mais dois secretários. Assume a gestão do município, então, o vice-prefeito Nedy de Vargas Marques. A ordem judicial para a medida foi do desembargador Newton Brasil de Leão, do Tribunal de Justiça gaúcho (TJ-RS).
A investigação encontrou irregularidades em contratos firmados com o município que somam cerca de R$ 66,7 milhões, apontou o subprocurador geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MP-RS, Júlio César de Melo, em entrevista coletiva no fim da manhã, na sede da instituição em Porto Alegre, quando uma força-tarefa detalhou o que estava sendo investigado e os encaminhamentos após a operação.
Também participaram o coordenador da Procuradoria da Função Penal Originária, Ricardo Herbstrith, o coordenador do núcleo de Saúde do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), Marcelo Dossena Lopes dos Santos, e o coordenador do Gaeco, João Afonso Silva Beltrame.
A "organização criminosa", segundo o Ministério Público, envolve uma série de representantes políticos e empresas prestadoras de serviços.
O órgão atribuiu o comando ao prefeito afastado, além do envolvimento dos secretários municipais da Saúde, Maicon de Barros Lemos - também presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS)-, e de Planejamento e Gestão, Fábio Cannas. Os dois secretários também foram afastados dos cargos por seis meses.
Os procuradores afirmam que o esquema inclui diversos outros servidores das esferas municipal, estadual e federal, além de alguns familiares de Jairo Jorge, como a primeira-dama de Canoas e esposa de Jairo Jorge, Thais Oliveira Pena, e a enteada do prefeito, Ana Cândida Pena Vieira Pinto.
Também foram listados como envolvidos os nomes do deputado federal Marcelo Squassoni (Republicanos-SP), do presidente do Avante no RS, Anderson Braga Dorneles, da empresa C.A.P. Serviços Médicos e do Instituto de Atenção à Saúde e Educação (Aceni), do presidente da Aceni, Sérgio Ricardo Peralta, do ex-secretário de Saúde da cidade de Guarujá (SP) Daniel Simões de Carvalho Costa, do empresário e ex-coordenador de Esporte e Lazer de São Paulo Flávio Godoy de Toledo, do empresário Paulo Sirqueira Korek Farias e da proprietária da Soccol Contabilidade, Tatiana Soccol.
A operação começou em maio de 2021, a partir de um relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) que apontavam fraude em um contrato relacionado à limpeza e de copa, firmado em Canoas, fato que originou o nome “Copa Livre”.
Melo relatou que “as irregularidades se estendiam, inclusive, para outros contratos". "Daí, desencadeou a necessidade da realização desta operação”, disse o subprocurador geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MP-RS.
Os procuradores apontam indícios de fraude relativos a cinco contratos de prestação de serviços firmados no município da Região Metropolitana. Foram identificados pelo menos oito delitos: peculato, corrupção ativa e passiva, supressão de documentos, falsidade ideológica, organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude em licitações.
Dois contratos abrangem diretamente a área da Saúde: um define a prestação de atendimento no Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC) e o outro, no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da cidade. Estão envolvidas a empresa C.A.P. Serviços Médicos e o Instituto de Atenção à Saúde e Educação (ACENI).
Segundo Melo, os representantes da operação se reuniram ainda nesta quinta com a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, para expor a “necessidade de uma intervenção estatal” na instituição de saúde canoense, para que o atendimento não seja prejudicado. Vai ser ajuizada uma ação para preservar o Samu.
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Com apoio da BM, a Operação Copa Livre fez buscas na sede da prefeitura de Canoas nesta manhã.
No começo da manhã, foram cumpridas 81 medidas cautelares no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais contra 24 pessoas físicas e 15 empresas — pelo menos sete companhias estão impedidas de firmar contratos com o poder público por tempo indeterminado.
“Lá (em São Paulo), a operação está muito maior que aqui. O núcleo empresarial para onde fluíram esses valores ilegais é lá. O centro financeiro destes fatos está em São Paulo, em Barueri, na região de Alphaville", informou Herbstrith, coordenador da operação.
Os procuradores solicitaram a prisão do prefeito afastado, mas o pedido foi negado. Herbstrith explicou:
"Na nossa compreensão, estavam presentes os requisitos que demandavam a prisão pela ofensa à ordem pública, que era presente. Esses contratos estão em vigor, e nós temos provas de que as coisas estavam se desenvolvendo. Não foi essa a compreensão do desembargador. Não no sentido de que estamos errados, mas de que outras medidas, diversas da prisão, seriam suficientes para fazer cessar essa ofensa".

Como era a organização criminosa, segundo o MP-RS

Segundo o MP-RS, a organização criminosa que lesou os cofres de Canoas é formada por dois núcleos que atuam de forma integrada: o núcleo político e o núcleo empresarial.
O núcleo empresarial é chefiado por empresários e políticos paulistas, que repassaram dinheiro ao então candidato à prefeitura de Canoas, Jairo Jorge, para que pudesse liderar as pesquisas eleitorais. O representante do PSD foi eleito dois meses após o recebimento do dinheiro, aponta a investigação.
O braço político é chefiado pelo prefeito afastado, que direciona os editais às empresas ligadas ao núcleo empresarial, para que vençam as licitações. Parte do dinheiro, então, retorna ao núcleo político. O MP-RS acusa as duas partes de fraude nos orçamentos para realizar o esquema.

Histórico de acusações contra Jairo Jorge

Prefeito de Canoas desde 2009, o terceiro mandato de Jairo Jorge não é o primeiro a apresentar irregularidades na prestação de contas. O executivo começou a ser investigado em 2016 pela Operação Suffragium, desencadeada pela Polícia Federal.
Os agentes de segurança apuravam um esquema de caixa dois na campanha da então candidata à prefeitura canoense, Beth Colombo. O envolvimento de Jorge estaria relacionado a doações feitas por empresas em contrato com o município, também para a prestação de serviços de Saúde.
A Justiça Federal o tornou réu, respondendo por um prejuízo de R$ 30 milhões nos cofres públicos devido a contratações irregulares para o gerenciamento do serviço de teleagendamento de consultas médicas. A denúncia contra Beth Colombo e Jairo Jorge foi arquivada em outubro de 2020, um mês depois.
A Operação Copa Livre começou, então, no ano seguinte. Segundo os procuradores, não há relação entre os fatos investigados de 2016 com as novas acusações.
Procurado pelo JC, o advogado de defesa, Jader Marques, afirmou: "Prefeito Jairo Jorge dará todas as explicações e prestará todas as informações, como faria se fosse solicitado pela forma não violenta. Eu vou buscar acesso às investigações e farei, no momento oportuno, a devida manifestação sobre as medidas que serão tomadas em defesa do Prefeito de Canoas".
A prefeitura divulgou, no meio da tarde, um comunicado oficial assinado pelo prefeito em exercício Nedy de Vargas Marques (Avante). Na nota, ele  afirma que a gestão municipal desconhece o inteiro teor das ações que pesam sobre alguns contratos e reitera a lisura dos mesmos.
Jairo, por sua vez, limitou-se a publicar postagens em suas redes sociais, após o lançamento da nota da prefeitura, demonstrando perplexidade com as acusações. Ele disse que foi surpreendido pela operação. "Estou perplexo com as graves acusações e ataques à minha honra, mas sigo acreditando na Justiça e tendo a convicção de que todos os fatos serão devidamente esclarecidos", destacou.
A reportagem também tentou contato com alguns dos citados, mas a maioria não quis se manifestar ou não respondeu às ligações. Dos que retornaram, a defesa do presidente estadual do Avante, Anderson Dorneles, disse que já solicitou e aguarda "vista do processo do expediente apresentado pelo Ministério Público para poder se manifestar." Segundo a assessoria jurídica do dirigente partidário, "Anderson é inocente de todas as acusações que estão sendo especuladas pela imprensa e irá colaborar totalmente com as autoridades."
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