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Publicada em 20 de Junho de 2025 às 00:25

Cadeia do arroz avança para agregar valor ao produto

Irgovel, Mapa Econômico do RS 2025

Irgovel, Mapa Econômico do RS 2025

/Irgovel/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Um ano após as cheias, com a recuperação de solos e retomada das safras, o momento, em 2025, é de aquecimento do mercado para o arroz gaúcho. Entre janeiro e abril, a exportação de arroz com casca, bruto, teve um aumento de 368% em relação ao mesmo período do ano passado. Somados, o arroz bruto e o arroz sem casca ou polido gaúchos movimentaram US$ 126 milhões nas vendas ao exterior nos primeiros quatro meses do ano, representando em torno de 2% das exportações gaúchas no período.
Um ano após as cheias, com a recuperação de solos e retomada das safras, o momento, em 2025, é de aquecimento do mercado para o arroz gaúcho. Entre janeiro e abril, a exportação de arroz com casca, bruto, teve um aumento de 368% em relação ao mesmo período do ano passado. Somados, o arroz bruto e o arroz sem casca ou polido gaúchos movimentaram US$ 126 milhões nas vendas ao exterior nos primeiros quatro meses do ano, representando em torno de 2% das exportações gaúchas no período.
O gráfico, mesmo positivo, aponta para engenhos e empresas relacionadas com a cultura do arroz a oportunidade de avançar em relação ao valor agregado na produção. Mesmo com uma queda de 41% em relação ao que era exportado no último ano, o grão descascado, polido ou com outro tratamento industrial gerou US$ 73,7 milhões ao Estado - 42% a mais do que os US$ 52,3 milhões movimentados com a alta do arroz bruto.
É neste espaço que a Irgovel, empresa com mais de 50 anos de atuação em Pelotas, tem crescido.
Se a casca do arroz vira gerador de energia e solução sustentável para os produtores, o destino do farelo, que é o que sobra dos engenhos após o polimento dos grãos, pode ser bem mais lucrativo. "A Irgovel foi pioneira com a produção de óleo refinado de arroz e farelo, em um primeiro momento, para a nutrição animal, mas temos avançado muito na pesquisa para os usos do arroz e, por consequência, temos ganhado mercados com isso. Estamos falando de 8% do peso total de um grão de arroz, que antes iria fora. Em Pelotas, onde se concentra o maior volume de engenhos do Estado, temos uma disponibilidade de 500 mil toneladas de farelo por ano", explica o presidente da Irgovel, Gilmar Pretto.
A mais recente linha de pesquisa desenvolvida pela empresa, em parceria com o IFSul, a Furg e a UFPel, é o desenvolvimento da proteína de arroz, com um possível novo produto para o mercado fit. É que o maior valor nutricional, e especialmente de proteínas, fica entre a casca e o grão do arroz. Após a extração do óleo, é obtido o farelo magro. O trabalho da indústria, que acaba funcionando como um laboratório, é o de desbloquear o valor nutricional que eles têm a partir disso.
No mercado interno, a Irgovel é considerada uma indústria de ingredientes, ou componentes para outros produtos, desde o óleo e farelo para indústrias de nutrição animal, até a lecitina, que é base para a indústria alimentícia, e produtos para a indústria de limpeza. No externo, a empresa já tem 20% do seu faturamento garantido pelas exportações e um potencial de crescimento ainda a ser explorado.
"A qualidade do arroz daqui é muito reconhecida internacionalmente. Estamos trabalhando para transformar essa qualidade em potencial tecnológico. Há dois anos, visitei clientes no Japão e o que se faz lá a partir do arroz é impressionante. Da indústria de cosméticos aos fármacos. Mas estamos evoluindo", garante.
Com uma planta industrial de 50 mil metros quadrados, Pretto garante ter ali uma das maiores capacidades industriais do setor no Brasil. E a matéria-prima quase 100% vinda de Pelotas - que tem 42% das suas exportações representadas pelo arroz. A produção é dividida em quatro produtos básicos: óleo de arroz, que já foi a marca própria Carreteiro e hoje é fornecido a outras empresas; farelo peletizado para nutrição animal; farelo para consumo humano, destinado a indústrias de massas, biscoitos e até embutidos; lecitina de arroz, com a única produção na América Latina, destinada para produção, por exemplo, de sorvete, leite em pó e achocolatados. E há planos de uma nova planta, dedicada à produção de proteínas.
"No último ano, recebemos o selo verde pela produção 100% circular, porque tudo é utilizado, sem geração de resíduos", garante. Da casca do arroz, a empresa gera vapor para movimentar a produção, e as cinzas que sobram são destinadas à agricultura familiar no Sul do Estado. E até o que sobra do refino do óleo tem destino para produção de lubrificantes, produtos de limpeza e tratamento em curtumes.
 

Maiores produtores de arroz nas Regiões da Campanha e Fronteira Oeste

Município - área plantada - produção
_ Uruguaiana 72,2 mil hectares / 663,8 mil toneladas
_ Santa Vitória do Palmar 66,6 mil hectares / 650,4 mil toneladas
_ Itaqui 57,2 mil hectares / 430,2 mil toneladas
_ Alegrete 50,5 mil hectares / 404,6 mil toneladas
_ Dom Pedrito 36,06 mil hectares / 306,8 mil toneladas

Fonte: Irga

Maiores indústrias de arroz nas Regiões Sul, Campanha e Fronteira Oeste

_ Camil Alimentos
_ Josapar
_ Pirahy Alimentos
_ Arrozeira Pelotas
_ Urbano Agroindustrial
Fonte: IRGA 2023/2024


Avança a geração de luz a partir das cascas do cereal na Campanha, Sul e Fronteira Oeste

Com um investimento de R$ 65 milhões, no segundo semestre de 2026 deve entrar em operação uma nova usina termelétrica. Mas, diferente das usinas térmicas com alto potencial poluidor, esta, que vai operar em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, é uma solução ambiental tanto ao setor agrícola quanto ao energético. A energia será gerada a partir de cascas de arroz.
"É um projeto quase sem impacto ambiental. A queima da casca de arroz na caldeira é incomparavelmente mais simples do que uma termelétrica tradicional ou hidrelétrica. Nosso projeto é mitigador de danos, muito viável pela disponibilidade da biomassa, e com um custo muito razoável e abaixo de outras biomassas. Todos os fornecedores, por exemplo, estão a 1 quilômetro da usina. É um projeto voltado à geração distribuída direta ao mercado", explica o CEO da Nova Participações, José Antunes Sobrinho, que lidera o projeto.
A cinza resultante da queima do arroz também terá destinação como matéria-prima na construção civil, cerâmica, indústria química e até fabricação de células fotovoltaicas. O projeto não é exatamente uma novidade na região. Entre as regiões da Fronteira Oeste, Campanha e Sul, são pelo menos dez usinas com geração de energia a partir da queima de cascas de arroz. Um processo que começou por São Borja, em 2012, com capacidade de geração de 12 MW. Foi a primeira a vender a energia gerada ali para o mercado livre.
Somente a Fronteira Oeste concentra, conforme os dados da safra de 2024, 30% da área plantada e da produção gaúcha de arroz - 663,1 mil toneladas colhidas em 72,2 mil hectares em 2024 só em Uruguaiana. A estimativa da Nova Participações é de uma geração de 1 milhão de toneladas de cascas de arroz por ano no município da Fronteira. Na usina, com capacidade para gerar 5 MW a serem lançados na rede elétrica regional, garantirá a absorção de 55 mil toneladas por ano. "Somos parte de uma solução a um problema histórico destes produtores", avalia Sobrinho.
É que, historicamente, as cascas acabavam depositadas a céu aberto, com risco ambiental e potencial área de incêndio, e representavam uma limitação ambiental aos produtores, por exemplo, em relação ao aumento de áreas plantadas. Quadro que, a partir deste projeto e de outros, como a da Camil, em Itaqui, também na Fronteira Oeste, que já gera energia para as suas operações a partir das cascas e, a partir de 2026, com uma nova planta industrial no distrito de Cambaí, também em Itaqui, passará a gerar 11,5 MW também para distribuição comercial, poderá representar ganho de área à cultura do arroz. E a indústria trabalha com essa possibilidade. Na sua nova indústria, a Camil prevê uma ampliação de 150% na capacidade de armazenamento do grão.
De acordo com o CEO da Ecovix, grupo do qual faz parte a Nova Participações, Robson Passos, o projeto, que teve origem na Enerbio e foi adquirido pela empresa, vai gerar 200 empregos no período de implementação. Durante a operação, serão 30 vagas. A licença ambiental para a implementação da usina já foi concedida.
 

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