No ano seguinte à maior cheia da história do Rio Grande do Sul, o desafio para os produtores agrícolas mais uma vez é a estiagem. Na Região da Campanha, a expectativa é de que nos próximos meses tenham reinício, finalmente, as obras para erguer a barragem do Arroio Taquarembó, que criará um imenso reservatório para possibilitar o cultivo irrigado na região que é para onde aponta a expansão agrícola, especialmente de soja, no Rio Grande do Sul.
A rotina de estiagens e cheias, no limite da segurança hídrica para a produção agrícola, mexe, diretamente com os números da economia gaúcha. Depois de uma alta superior a 10% no PIB do Estado em 2021, quando se verificou uma superssafra de soja, em 2022, com escassez de água, o ritmo da economia gaúcha caiu. Conforme o IBGE, com um PIB de R$ 593,6 bilhões em 2022 (em valores atualizados, R$ 661 bilhões), o Rio Grande do Sul apresentou a maior retração entre os estados.
Os dados oficiais do PIB municipal de 2022 ainda não foram divulgados para se perceber a consequência nas economias locais, que devem ter sido impactadas, já que o resultado negativo está diretamente relacionado aos resultados agropecuários. O Valor Adicionado Brutro Agrícola teve variação de -42,9% depois da superssafra anterior.
A resposta ao problema é o investimento em irrigação. E a perspectiva agora é de que a barragem esteja pronta nos primeiros meses de 2027. Atualmente, só 3% da área total de soja no Estado é cultivada com irrigação. Conforme a Secretaria Estadual da Agricultura e Irrigação do Rio Grande do Sul, a produtividade nas áreas irrigadas de soja chegou a ser 23% superior às demais. Uma relação que também é observada no cultivo do arroz, também bastante destacado entre a Campanha, a Fronteira Oeste e o Sul do Estado. Neste caso, a produtividade em áreas irrigadas chega a ser três vezes maior.
A barragem, que teve o início das obras em 2009, mas cuja empreitada foi paralisada diversas vezes até 2017, quando cessou definitivamente, fica em Dom Pedrito, onde, conforme dados do IBGE, está a maior área plantada de soja no Rio Grande do Sul, com 160 mil hectares em 2023, e também a maior produção do grão, com 367,5 mil toneladas colhidas.
"O tamanho do benefício que Taquarembó garantirá para Dom Pedrito e região é incalculável. Mesmo sendo hoje o maior produtor de soja do Rio Grande do Sul, ainda temos muita área propícia para plantar, mas todos os anos enfrentamos o mesmo dilema, porque a segurança hídrica está no limite, e o produtor precisa de tranquilidade para plantar e investir. Com a barragem, acredito que esse ambiente será muito mais favorável, inclusive aos nossos planos de diversificação da economia a partir do agro", diz o prefeito de Dom Pedrito, Diego da Rosa Cruz.
A estimativa dos produtores locais é de que, com a barragem, será possível um incremento de pelo menos 30% na produção. Uma realidade que também se observa na cultura do arroz, que já foi o principal produto de Dom Pedrito e hoje ocupa 48 mil hectares.
"O crescimento da área de soja foi muito grande nos últimos cinco anos, ao mesmo tempo em que houve a redução da área de arroz. É uma relação que pode ser mais equilibrada se não dependermos somente da chuva, porque temos muita área para ser explorada pela agricultura", avalia o prefeito.
A assinatura do contrato pelo governo do Estado junto ao consórcio das empresas Sultepa e Bourscheid Engenharia que vai tocar a obra aconteceu ainda em 2024, mas somente em fevereiro deste ano, após ultrapassados novos entraves judiciais, foi possível tornar este contrato concreto, com investimento de R$ 151 milhões – R$ 88,6 milhões do Estado, por meio do Fundo de Recursos Hídricos, e R$ 62,3 milhões do governo federal.
Ao todo, desde o seu início, em 2009, a estrutura terá absorvido R$ 251 milhões em aportes. A barragem está com 58% da obra já executada. Até maio, o projeto seguia em fase de contratação de pessoal, que deve chegar a 400 trabalhadores, ainda sem movimentação no canteiro de obras.
Faltam finalizar as construções de três diques, a conclusão do barramento, a ponte sobre o Arroio Taquarembó e o complemento dos programas ambientais envolvidos neste projeto. Quando concluída, Taquarembó terá 350 metros de comprimento e 34 metros de altura, o equivalente a um prédio de 11 andares, e uma área de inundação, com o volume total de 116 milhões de metros cúbicos, equivalente a 1.240 campos de futebol.
Regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste
Principais municípios irrigantes por aspersão
* São Borja (1º no RS)
* Itaqui (3º no RS)
* Dom Pedrito (7º no RS)
* Itaqui (3º no RS)
* Dom Pedrito (7º no RS)
Principais municípios irrigantes por inundação (arroz)
* Uruguaiana (1º no RS)
* Santa VItória do Palmar (2º no RS)
* Itaqui (3º no RS)
* Alegrete (4º no RS)
* Camaquã (5º no RS)
* Santa VItória do Palmar (2º no RS)
* Itaqui (3º no RS)
* Alegrete (4º no RS)
* Camaquã (5º no RS)
Fonte: Secretaria Estadual da Agricultura do RS (2024)
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Sistema inclui Barragem de Jaguari, em São Gabriel

Barragem Jaguari, em São Gabriel, será importante para a irrigação de diversos municípios
CONSÓRCIO SULTEPA-BOURSCHEID/DIVULGAÇÃO/JCA barragem Taquarembó funcionará como parte fundamental de um sistema mais complexo, que inclui a Barragem de Jaguari, de terra e com altura máxima de 25 metros. Essa, com 80% da obra já executada, é erguida em São Gabriel, na Fronteira Oeste, onde está a terceira maior área cultivada de soja no Estado – 136 mil hectares – e a segunda maior safra do grão, 262,4 mil toneladas. Somadas, a expectativa é de que as duas estruturas garantam irrigação para 117 mil hectares. Além de São Gabriel e Dom Pedrito, o sistema atenderá Lavras do Sul, Cacequi, Rosário do Sul e Santana do Livramento.
O cronograma da empresa Sultepa prevê a conclusão das obras de Jaguari no início de 2026. Estado e União já aportaram R$ 205 milhões neste projeto, também iniciado em 2009. Além de soja, arroz e milho, também serão beneficiadas culturas como a da uva, também em expansão na região, e dos cítricos. E ainda o abastecimento público, com uma estimativa de 240 mil pessoas beneficiadas na Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria.