Diversificar. Entre localidades, estilo e atrações. Essa é a ordem de quem investe no turismo e hotelaria na Serra, especialmente após o decreto da prefeitura de Gramado que suspendeu até o final deste ano o recebimento e análise para novos projetos de hotelaria e gastronomia na cidade. O Grupo Casa Hotéis, que já conta com três hotéis na cidade da região das Hortênsias, mirou no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e, com isso, garantiu um dos planos da empresa, de estar presente nos três principais destinos turísticos da região.
"Será possível ao turista manter um roteiro para desfrutar as regiões das Hortênsias, dos cânions e dos vinhedos dentro da nossa rede de hotéis", comenta o diretor de marketing do Grupo Casa, Rafael Peccin.
Já começa a tomar forma o Parador Vale dos Vinhedos, com investimento de R$ 50 milhões em uma obra iniciada neste ano e com previsão de inauguração em 2027. Serão 30 apartamentos e 24 cabanas instaladas, literalmente, dentro de um vinhedo.
"O vinho é o protagonista deste projeto, e nós fizemos questão, inclusive com a aprovação da associação dos produtores locais, de respeitar o que é prioridade ali, que são os vinhedos. É um projeto que segue a linha que já adotamos no Parador de Cambará do Sul, essencialmente para o turismo de experiência, integração com a paisagem e menor impacto possível no ambiente local. O Vale dos Vinhedos sempre esteve nos nossos planos. Estávamos esperando o momento e o local certos", diz Rafael Peccin.
Ao todo, o projeto tem 20 hectares, sendo 10 ocupados por vinhedos e outros cinco preservados com a mata nativa. De acordo com Peccin, todo o vinhedo na propriedade é produtivo, e os empreendedores buscam parceria com uma vinícola da região para garantir a experiência aos turistas na produção do vinho.
"O turismo de experiência é a nossa essência. Em cada projeto, trabalhamos toda a experiência que estará envolvida para o visitante. Desde o cheiro, o som do local. Costumo dizer que não vendemos quartos ou estadia, mas uma experiência que garanta o acolhimento e o encantamento do cliente", explica Peccin.
Em alta nos principais roteiros turísticos do mundo, o chamado turismo de experiência já é prática do grupo, que chegará ao seu quinto hotel na macrorregião retratada neste capítulo do Mapa. Iniciou seus empreendimentos com o Casa da Montanha, em Gramado. Na mesma cidade, foi inaugurado em 2018 o Wood Hotel, que aposta na experiência do sono, também tendência no turismo mundial, e por isso, aceita somente hóspedes acima dos 14 anos.
"Neste hotel, é valorizada uma noite de sono reparador. A experiência inclui desde o travesseiro, a luz, a música em volume baixo. Todo um ambiente para que o bem-estar seja valorizado", conta o diretor.
Ainda em Gramado, a rede tem o Petit Casa da Montanha. Este, um hotel "pet lover", ou seja, com quartos, restaurante e ambientes plenamente adaptados para quem não viaja sem o seu pet.
Arte/JC
Já em Cambará do Sul, desde 2013 está instalada a grande aposta do grupo, com o primeiro "glamping" do Brasil, unindo o glamour de quartos de hotel à experiência do camping. São barracas de verdade, com todo o conforto da rede hoteleira, em meio à paisagem dos cânions.
"Fomos pioneiros, e apostamos alto na época. Somente agora a estrada que liga a região a Santa Catarina, por exemplo, está sendo asfaltada. A concessão dos parques permite investimentos e nos dá uma ideia de que, 20 anos depois de apostarmos na região, finalmente chegará o momento que esperávamos", avalia Peccin.
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Em busca da recuperação dos turistas no pós-cheia
O enoturismo, que é um dos grandes potenciais da Serra, trabalha, desde a pandemia, em busca da recuperação plena, que foi interrompida bruscamente pelas cheias do ano passado. Na Cooperativa Vinícola Garibaldi, foi criada uma unidade especificamente para os seus projetos turísticos, em Garibaldi.
Ali, o desafio está em garantir valor agregado à experiência, mesmo que os números de visitantes ainda não se aproximem dos índices observados até 2019. E tem funcionado.
"O ticket médio saltou de R$ 30 para mais de R$ 100. Estamos trabalhando agora para movimentar este potencial turístico sem depender tanto da sazonalidade, por exemplo, da vindima ou do inverno", explica o gerente de marketing da vinícola, Maiquel Vignatti.
Na unidade turística, além da loja conceito, que oferece aos visitantes a experiência sobre a produção dos vinhos e espumantes da cooperativa, há cinco projetos possíveis de experiências aos turistas. Entre elas, uma imersão, por exemplo, na pipa usada para a reserva dos vinhos.
Para que se tenha uma ideia, antes da pandemia, a vinícola recebia até 145 mil visitantes por ano. No ano passado, mesmo com a paralisação do serviço durante um período, foram 45 mil, e a estimativa para este ano é fechar com 60 mil visitantes na vinícola. Nos meses seguintes à cheia, a redução do público nas vinícolas da região chegou a 90%.
Inundação freou a retomada
Entre os principais destinos do turismo gaúcho, é claro que os roteiros da Serra e das Hortênsias foram bastante impactados, mesmo sem estragos diretos, pelas dificuldades estruturais enfrentadas pelo Estado e, principalmente, pelo fechamento do Aeroporto Salgado Filho. Ao menos na oferta de gastronomia e atrações turísticas, o público regional garantiu a retomada já no ano passado.
Ainda assim, em Bento Gonçalves, por exemplo, enquanto o setor industrial registrou durante todo o segundo semestre do ano passado altas no saldo de empregos, o setor de serviços, especialmente em hotelaria, fechou 2024 em baixa e repetiu os números negativos no saldo de empregos nos primeiros meses de 2025. A recuperação no setor de serviços local começou a ser observada após o primeiro trimestre. Entre Gramado e Canela, até novembro do ano passado, eram estimadas perdas de até R$ 1 bilhão, com uma taxa de ocupação nos hotéis em torno de apenas 35%.
"Houve uma baixa enorme na ocupação e, mesmo com a malha aérea recuperada, há todo um desafio para retomarmos a preferência do cliente que, durante o fechamento do aeroporto, optou por outros roteiros. Mesmo com períodos de grande alta, como na Páscoa e em julho, estamos convivendo com outros de baixa. Na nossa rede, estamos com ocupação, em média, de 20% a 30% abaixo do que tínhamos em 2023, quando vínhamos em uma crescente pós-pandemia", explica o diretor de marketing do Grupo Casa Hotéis, Rafael Peccin.