A tradição calçadista entre o Vale do Paranhana, a Serra e a Região das Hortênsias concentra 665 empresas do setor, com a geração de 27,2 mil empregos. No ano passado, conforme o levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), foram produzidos 47 milhões de pares entre as indústrias da região, em um polo que é especializado nos calçados em couro e material têxtil. Qualidade tipo exportação, como define o presidente do Sindicato das Indústrias Calçadistas de Três Coroas, no Vale do Paranhana, Márcio dos Santos.
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"A nossa produção calçadista responde por 80% da economia do município. Temos um produto muito bem elaborado, que garante um valor agregado e um público consumidor de padrão mais elevado. E temos ainda como diferencial um passivo ambiental zerado e alta capacidade de qualificação da mão de obra para essa produção. Já formamos mais de mil alunos na nossa escola, que inclui desde o manuseio da matéria-prima até os módulos mais avançados para atuação na indústria, e agora estamos levando essa ideia para a rede de ensino do município", aponta o presidente.
O setor é diretamente responsável pela retomada da economia de Três Coroas após a cheia de 2024. O Vale do Paranhana teve quase 8% do seu território tomado pela inundação do ano passado, conforme o Mapa Único do Plano Rio Grande, com 5,8 mil CNPJs atingidos. Entre as microrregiões mapeadas neste capítulo, foi a que teve o maior volume de empresas afetadas pela cheia. No caso das indústrias calçadistas de Três Coroas, mais de 90% foram atingidas de alguma maneira, com perdas superiores a R$ 100 milhões.
Arte/JC
E uma das receitas das empresas locais para saírem mais fortalecidas da calamidade do ano passado estava direcionada justamente aos Estados Unidos. Com o anúncio do tarifaço, que mantém as mais altas taxas de importação aos calçados brasileiros, há incerteza no setor.
"Vínhamos executando um projeto desenhado já há dois anos em conjunto com outros sindicatos, envolvendo o investimento de mais de R$ 600 mil, que chamamos de pacto calçadista direcionado aos Estados Unidos. Já houve feiras e, em junho, estivemos em Nova York, em um summit para conhecermos melhor o mercado. Temos um showroom programado para outubro, novamente em Nova York, onde pretendemos levar os nossos produtos para lá, agora, estamos em compasso de espera", diz Santos.
Conforme a Abicalçados, as vendas para os Estados Unidos responderam em 2024 por 21% das exportações calçadistas no Vale do Paranhana, com uma redução de 15,5% nos valores negociados, de US$ 23,8 milhões, em relação a 2023, refletindo as consequências da inundação na produção industrial local.
Nos primeiros sete meses do ano, 82,9% de tudo o que Rolante exportou foi destinado aos Estados Unidos. No município, são 3,7 mil trabalhadores dedicados à indústria calçadista, ou quase 20% da população local. Estão no Vale do Paranhana quatro dos 25 municípios brasileiros que mais empregam na produção de calçados e partes de calçados.
Em Três Coroas, o mercado norte-americano absorveu 10,1% de tudo o que foi exportado nos primeiros sete meses do ano. Parte deste volume sai da Variettá, que destina 25% da sua produção de até 800 pares por dia para o mercado externo.
A produção é de calçados femininos finalizados, que garantem maior valor agregado. E neste caso, com um atributo a mais para a entrada em mercados externos, com a numeração inclusiva, até o tamanho 46.