As cheias do ano passado, mesmo não atingindo diretamente a Serra com tanta força, deixaram claro o nível de isolamento logístico da região que concentra o maior polo metalmecânico gaúcho. E reforçaram aquela que é considerada pelo vice-presidente do Simecs, Rubem Bisi, uma prioridade na região:
"Nosso principal desafio hoje é manter aqui as indústrias que já temos, porque muitos estão abrindo filiais ou até mesmo migrando, por exemplo, para Santa Catarina. E a infraestrutura e logística no estado vizinho têm sido atrativos difíceis de concorrer. Temos diversos movimentos de aproximação com o governo estadual para tratar dessa nossa competitividade. Infelizmente, a cheia mostrou o quanto estamos isolados na Serra em termos logísticos. E isso representa mais burocracia e custos para a produção", aponta o dirigente.
Para que se tenha uma ideia, em média, o custo logístico no Brasil é de 17%. Na Serra Gaúcha, sem o modal ferroviário, rodovias duplicadas e múltiplas opções portuárias, esse custo chega a 21%, em média. O ciclo produtivo deste setor industrial na Serra consiste em transformar o aço e outros metais, que vêm principalmente da região Sudeste do Brasil ou do Exterior, em produtos manufaturados que retornam a esses lugares. A logística pesa duas vezes.
De acordo com Bisi, o Rio Grande do Sul recebe anualmente 46 mil caminhões carregados com aço, e 60% deles são destinados à Serra.
"É uma operação muito onerosa, porque não contamos com trem, que poderia, por exemplo, ligar o Estado ao restante do País em Vacaria, e não temos cabotagem portuária, por exemplo, no Litoral Norte", diz Rubem Bisi.
Arte/JC
Um símbolo deste obstáculo está na BR-116, a rodovia federal que cerca Caxias do Sul e representa o principal eixo de ligação da região com o Brasil. Sem perspectiva de duplicação, é inviável, por exemplo, o tráfego de uma das especialidades da indústria local, os caminhões bi-trens produzidos na Serra em direção a Vacaria.
A partir da Marcopolo, Caxias do Sul responde pela maior produção mundial de ônibus, mas para enviar a produção de ônibus articulados pela ERS-122, por exemplo, cada veículo precisa de uma autorização específica do DAER.
"É difícil de acreditar, mas a indústria produz um veículo articulado em 12 dias, e a autorização estadual é liberada em 60 dias. A burocracia torna-se um entrave conjunto com a logística", exemplifica o vice-presidente do Simecs.
Durante a cheia, diversas empresas migraram suas produções temporariamente para a Serra, e passada a calamidade, muitas pessoas permaneceram na região. Ainda assim, segundo Bisi, esse acréscimo populacional ainda não se traduziu em garantia de mão de obra para o setor, que segue com déficit de 2,6% na região.
Segundo ele, além dos aspectos logísticos e de infraestrutura, para garantir, além da permanência de negócios na região, a atração de novas empresas, é preciso investir ainda mais na qualificação de mão de obra, apta a atuar em indústrias cada vez mais tecnológicas.
"Investir em educação é fundamental para garantir a manutenção do nosso potencial no futuro", avalia.