O setor metalmecânico também está no alvo do tarifaço. Para que se tenha uma ideia, a macrorregião tem 10 municípios entre os 50 maiores exportadores gaúchos nos primeiros sete meses do ano, em cinco deles – Caxias do Sul, Montenegro, Carlos Barbosa, Nova Prata e Farroupilha –, as produções do setor respondem pelos maiores volumes negociados no Exterior, chegando a US$ 1 bilhão. E 60% deste volume em vendas aos Estados Unidos.
Uma das soluções pode estar justamente no perfil internacional - e hoje multinacional - das principais indústrias da Serra Gaúcha. É o caso da Tramontina, que conta com seis plantas industriais na região, entre os Carlos Barbosa, Farroupilha e Garibaldi, e responsável direta pelos principais negócios no Exterior destes três municípios.
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Desde a década de 1980 a empresa tem um Centro de Distribuição nos Estados Unidos, e não pensa em desmobilizar ou mudar a estratégia dessa estrutura. De acordo com o CEO da empresa, Marcos Tramontina, os negócios com o país representam um terço das exportações totais da Tramontina.
Por meio da assessoria de imprensa da empresa, o CEO reforça que esta não é a primeira vez que "vivenciamos ciclos preocupantes nas diferentes economias, e nossa amplitude de atuação nos ajuda a absorver momentos de dificuldades em mercados específicos". Hoje a Tramontina chega a 120 países, com representações comerciais próprias em 22 países. Ele admite, porém, que neste caso, pela relevância do mercado norte-americano, o desafio é bem maior.
Não à toa, a previsão de investimentos da empresa neste ano é superior a 2024. Entre as suas fábricas no Rio Grande do Sul, a Tramontina prevê desembolsar em aportes mais de 5% do faturamento previsto para 2025. No ano passado, este valor ficou em torno de 3%. De acordo com Marcos Tramontina, as prioridades de investimentos estão em novos softwares e equipamentos, estruturas logísticas e soluções para o aumento de produtividade em cada uma das unidades.
A empresa não detalha seus investimentos no ano. No ano passado, porém, teve aprovado um financiamento de R$ 135 milhões pelo BNDES para melhorias em suas unidades em todo o Brasil, principalmente no interior de São Paulo, Pernambuco e Pará. Para a Serra, porém, havia previsão de destinar R$ 25 milhões, com desembolso em dois anos, para a Tramontina Eletrik, com operação em Carlos Barbosa, cujo portfólio contempla cerca de 3.500 itens, incluindo tomadas, interruptores, disjuntores, duchas e extensões.
Na linha de utensílios domésticos, depois do aumento de 22% nos negócios, a partir da venda de produtos a preço de custo no Rio Grande do Sul em meio à reconstrução do Estado, entre junho e setembro, agora, a empresa prioriza o desenvolvimento de produtos que representem soluções a este consumidor, especialmente com a automação de cozinhas ou outros ambientes.
Entre os principais produtos exportados para os Estados Unidos estão panelas, itens de cutelaria, ferramentas agrícolas e de jardinagem. Por isso, conforme Marcos Tramontina, foi exigido um rápido ajuste nos planos de produção e nas estratégias comerciais para outros mercados, que vão da negociação de matérias-primas e outros insumos com outros mercados até a conquista de novos parceiros comerciais na América Latina, África e Oriente Médio.
"Ao final dessa escalada tarifária, sairemos mais fortalecidos, preparados para atender o mercado norte-americano e melhor posicionados em outros mercados", posiciona-se o executivo.
É também a partir da Serra que a Marcopolo garante a liderança brasileira na produção de carrocerias de ônibus e hoje tem unidades industriais espalhadas pelo mundo. O mercado interno respondeu, em 2024, por 63,7% da receita da empresa, com destaque para os segmentos rodoviário e escolar, enquanto as exportações cresceram 22,3%, impulsionadas por operações diretas da empresa na Austrália, México e Argentina. Essa estratégia descentralizada e multinacional garante uma salvaguarda às medidas norte-americanas. As exportações para os Estados Unidos, em geral, saem da unidade mexicana da Marcopolo.
Em 2025, os números foram bastante positivos no primeiro semestre. Enquanto o mercado interno garantiu 3% de crescimento ao setor, no externo, o crescimento foi de 21%, puxado pela Argentina.
Na Serra, são três unidades em Caxias do Sul e uma em Farroupilha. Na sede da empresa, no distrito de Ana Rech, são produzidos ônibus rodoviários, urbanos, ferroviários — por meio da divisão Marcopolo Rail — e chassis. A unidade São Cristóvão é especializada na produção de modelos urbanos e micros das marcas Marcopolo, Volare e Neobus. Já a unidade Apolo, em Farroupilha, é dedicada a peças poliméricas de alta tecnologia, inclusive componentes com grafeno. Na inovação, a Serra também é protagonista, com a atuação da Marcopolo Next, núcleo responsável por acelerar a transformação tecnológica e digital da companhia.
Arte/JC
Há ainda a Randoncorp, que atua em 15 países fora do Brasil, com 38 unidades industriais e 18 centros de distribuição, com seus produtos em 120 países. Criada em Caxias do Sul há 76 anos, a empresa mantém na Serra o seu núcleo industrial, tecnológico e institucional. Trabalham entre as unidades locais metade dos 19 mil funcionários da corporação.
De acordo com o presidente da Randoncorp, Daniel Randon, o cenário tarifário dos Estados Unidos é monitorado com cautela. Entre as empresas do grupo, a Frasle Mobility e a que mais exporta para aquele país, mas parte do impacto é mitigado pela presença de uma fábrica no Alabama, dedicada à fabricação de materiais de fricção para o mercado norte-americano. A Randoncorp tem ainda operações industriais em Kentucky (AXN Heavy Duty) e Nova Jersey (Hercules Chassis).
Com uma receita líquida consolidada de R$ 3,3 bilhões no segundo trimestre deste ano – uma alta de 10,5% em relação ao mesmo período em 2024 –, as receitas internacionais, que somam as exportações brasileiras e a produção externa, representaram 34% do valor, em ata de 77,2% em relação ao ano passado. Houve, por exemplo, maior entrega de semirreboques nos Estados Unidos e Argentina.
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