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Publicada em 24 de Agosto de 2025 às 00:25

Multinacionais do setor metalmecânico da Serra criam estratégias após tarifaço dos EUA

Tramontina tem operação diversificada em vários municípios da região, como Garibaldi

Tramontina tem operação diversificada em vários municípios da região, como Garibaldi

/Tramontina/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
O setor metalmecânico também está no alvo do tarifaço. Para que se tenha uma ideia, a macrorregião tem 10 municípios entre os 50 maiores exportadores gaúchos nos primeiros sete meses do ano, em cinco deles – Caxias do Sul, Montenegro, Carlos Barbosa, Nova Prata e Farroupilha –, as produções do setor respondem pelos maiores volumes negociados no Exterior, chegando a US$ 1 bilhão. E 60% deste volume em vendas aos Estados Unidos.
O setor metalmecânico também está no alvo do tarifaço. Para que se tenha uma ideia, a macrorregião tem 10 municípios entre os 50 maiores exportadores gaúchos nos primeiros sete meses do ano, em cinco deles – Caxias do Sul, Montenegro, Carlos Barbosa, Nova Prata e Farroupilha –, as produções do setor respondem pelos maiores volumes negociados no Exterior, chegando a US$ 1 bilhão. E 60% deste volume em vendas aos Estados Unidos.
Uma das soluções pode estar justamente no perfil internacional - e hoje multinacional - das principais indústrias da Serra Gaúcha. É o caso da Tramontina, que conta com seis plantas industriais na região, entre os Carlos Barbosa, Farroupilha e Garibaldi, e responsável direta pelos principais negócios no Exterior destes três municípios.
Desde a década de 1980 a empresa tem um Centro de Distribuição nos Estados Unidos, e não pensa em desmobilizar ou mudar a estratégia dessa estrutura. De acordo com o CEO da empresa, Marcos Tramontina, os negócios com o país representam um terço das exportações totais da Tramontina.
Por meio da assessoria de imprensa da empresa, o CEO reforça que esta não é a primeira vez que "vivenciamos ciclos preocupantes nas diferentes economias, e nossa amplitude de atuação nos ajuda a absorver momentos de dificuldades em mercados específicos". Hoje a Tramontina chega a 120 países, com representações comerciais próprias em 22 países. Ele admite, porém, que neste caso, pela relevância do mercado norte-americano, o desafio é bem maior.
Não à toa, a previsão de investimentos da empresa neste ano é superior a 2024. Entre as suas fábricas no Rio Grande do Sul, a Tramontina prevê desembolsar em aportes mais de 5% do faturamento previsto para 2025. No ano passado, este valor ficou em torno de 3%. De acordo com Marcos Tramontina, as prioridades de investimentos estão em novos softwares e equipamentos, estruturas logísticas e soluções para o aumento de produtividade em cada uma das unidades.
A empresa não detalha seus investimentos no ano. No ano passado, porém, teve aprovado um financiamento de R$ 135 milhões pelo BNDES para melhorias em suas unidades em todo o Brasil, principalmente no interior de São Paulo, Pernambuco e Pará. Para a Serra, porém, havia previsão de destinar R$ 25 milhões, com desembolso em dois anos, para a Tramontina Eletrik, com operação em Carlos Barbosa, cujo portfólio contempla cerca de 3.500 itens, incluindo tomadas, interruptores, disjuntores, duchas e extensões.
Na linha de utensílios domésticos, depois do aumento de 22% nos negócios, a partir da venda de produtos a preço de custo no Rio Grande do Sul em meio à reconstrução do Estado, entre junho e setembro, agora, a empresa prioriza o desenvolvimento de produtos que representem soluções a este consumidor, especialmente com a automação de cozinhas ou outros ambientes.
Entre os principais produtos exportados para os Estados Unidos estão panelas, itens de cutelaria, ferramentas agrícolas e de jardinagem. Por isso, conforme Marcos Tramontina, foi exigido um rápido ajuste nos planos de produção e nas estratégias comerciais para outros mercados, que vão da negociação de matérias-primas e outros insumos com outros mercados até a conquista de novos parceiros comerciais na América Latina, África e Oriente Médio.
"Ao final dessa escalada tarifária, sairemos mais fortalecidos, preparados para atender o mercado norte-americano e melhor posicionados em outros mercados", posiciona-se o executivo.
É também a partir da Serra que a Marcopolo garante a liderança brasileira na produção de carrocerias de ônibus e hoje tem unidades industriais espalhadas pelo mundo. O mercado interno respondeu, em 2024, por 63,7% da receita da empresa, com destaque para os segmentos rodoviário e escolar, enquanto as exportações cresceram 22,3%, impulsionadas por operações diretas da empresa na Austrália, México e Argentina. Essa estratégia descentralizada e multinacional garante uma salvaguarda às medidas norte-americanas. As exportações para os Estados Unidos, em geral, saem da unidade mexicana da Marcopolo.
Em 2025, os números foram bastante positivos no primeiro semestre. Enquanto o mercado interno garantiu 3% de crescimento ao setor, no externo, o crescimento foi de 21%, puxado pela Argentina.
Na Serra, são três unidades em Caxias do Sul e uma em Farroupilha. Na sede da empresa, no distrito de Ana Rech, são produzidos ônibus rodoviários, urbanos, ferroviários — por meio da divisão Marcopolo Rail — e chassis. A unidade São Cristóvão é especializada na produção de modelos urbanos e micros das marcas Marcopolo, Volare e Neobus. Já a unidade Apolo, em Farroupilha, é dedicada a peças poliméricas de alta tecnologia, inclusive componentes com grafeno. Na inovação, a Serra também é protagonista, com a atuação da Marcopolo Next, núcleo responsável por acelerar a transformação tecnológica e digital da companhia.
  | Arte/JC
Arte/JC
Há ainda a Randoncorp, que atua em 15 países fora do Brasil, com 38 unidades industriais e 18 centros de distribuição, com seus produtos em 120 países. Criada em Caxias do Sul há 76 anos, a empresa mantém na Serra o seu núcleo industrial, tecnológico e institucional. Trabalham entre as unidades locais metade dos 19 mil funcionários da corporação.
De acordo com o presidente da Randoncorp, Daniel Randon, o cenário tarifário dos Estados Unidos é monitorado com cautela. Entre as empresas do grupo, a Frasle Mobility e a que mais exporta para aquele país, mas parte do impacto é mitigado pela presença de uma fábrica no Alabama, dedicada à fabricação de materiais de fricção para o mercado norte-americano. A Randoncorp tem ainda operações industriais em Kentucky (AXN Heavy Duty) e Nova Jersey (Hercules Chassis).
Com uma receita líquida consolidada de R$ 3,3 bilhões no segundo trimestre deste ano – uma alta de 10,5% em relação ao mesmo período em 2024 –, as receitas internacionais, que somam as exportações brasileiras e a produção externa, representaram 34% do valor, em ata de 77,2% em relação ao ano passado. Houve, por exemplo, maior entrega de semirreboques nos Estados Unidos e Argentina.

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