Curiosamente, e não por acaso, Passo Fundo, que liderou as exportações gaúchas em agosto, com 92% dessas exportações em soja em grão e triturada, já não conta com os trilhos para a logística da produção. O reflexo acontece nas rodovias. De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento, Adolfo de Freitas, em período de escoamento de safra, até 250 caminhões acabam circulando por dentro da cidade.
A Be8 que, na década passada, inovou com o transporte de biocombustível por trens para exportação e para distribuidoras, somente neste ano, conforme o presidente Erasmo Batistella, gastou R$ 7 milhões a mais em fretes, com 2,5 mil caminhões a mais contratados e circulando pelas rodovias gaúchas e brasileiras.
"Mesmo sem o trem, Passo Fundo seguirá sendo uma plataforma estratégica para as exportações e toda a produção rural do Norte do Estado. Estamos melhorando a infraestrutura desse fluxo crescente no município, tanto pelo agro quanto pelo crescimento industrial da região", diz o secretário.
Enquanto investe, inclusive custeando projetos estaduais, em pelo menos três trevos de acesso a áreas industriais da cidade - reduzindo o fluxo dos veículos pesados dentro da cidade -, Passo Fundo mobiliza-se para criar um Porto Seco, inclusive com um posto aduaneiro, já solicitado à Receita Federal. Segundo o secretário, o posto alfandegário atenderia empresas da cidade e de outros municípios da região, que atualmente despacham exportações a partir de estruturas localizadas em cidades mais distantes, como São Borja ou Canoas.
Seria um complemento à Plataforma Logística Industrial, um distrito com 55 hectares e capacidade para 70 empresas na área de logística, também em concretização na cidade, nas proximidades da BR-285.
A rodovia federal é um dos eixos da produção local, no caminho da ligação logística entre o litoral brasileiro e os portos do Chile. Em Panambi, onde está instalado um dos principais polos metalmecânicos gaúchos, com indústrias como a Kepler Weber, que movimentam o agro do Brasil inteiro, a BR-285 tem pista simples. Torna-se um obstáculo à logística da produção local.
"Sem uma estrutura de rodovias adequada, a nossa distância para os grandes centros de consumo acaba ficando ainda maior", comenta o diretor industrial da Kepler Weber, Fabiano Schneider.
Com um grupo de outras seis indústrias de Panambi, que formam o Instituto Integrar, há uma mobilização para a duplicação daquele trecho da rodovia, fundamental para escoar a produção para o Sudeste.
Na região, há dois trechos urbanos da rodovia federal em melhorias. Em Passo Fundo, está em fase de projetos a duplicação de 12 quilômetros, com viadutos e trevos de acesso a áreas economicamente vitais do município. A obra faz parte do Novo PAC e está orçada em R$ 290 milhões. Outro trecho urbano da BR-285, em Ijuí, já está mais adiantado. A movimentação das obras para duplicar 10 quilômetros da rodovia federal, com investimento de R$ 255 milhões, iniciou em fevereiro.
No eixo vertical, ligando o Brasil de norte a sul, os caminhos também cruzam a região, com a Transbrasiliana (BR-153). E depois de mais de 50 anos de mobilização, finalmente o Governo Federal tem, ao menos, o projeto executivo aprovado em julho, e agora trabalha nos licenciamentos, para finalmente pavimentar o trecho de 68 quilômetros entre Passo Fundo e Erechim, as duas principais economias da região.
A obra, que daria fim ao trecho de chão batido e encurtaria em mais de 10 quilômetros a atual travessia feita entre as duas cidades, é orçada em R$ 584 milhões. Está incluída no Novo PAC, mas ainda será preciso garantir o recurso no orçamento da União em 2026. Esta é uma das maiores rodovias do Brasil, em torno de quatro mil quilômetros entre o Pará e a fronteira com o Uruguai.
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Duplicação da ERS-135 faz parte de novo lote de concessões
Sem condições de tráfego pesado na Transbrasiliana, o intenso fluxo econômico entre Passo Fundo e Erechim acaba absorvido pela ERS-135 que, no entanto, é uma rodovia de pista simples e que não comporta, por exemplo, caminhões bitrens. Além da limitação logística, é um risco à segurança no trânsito. Não à toa, a rodovia é um dos principais eixos incluídos no Bloco 2 de concessões de rodovias planejado pelo Governo do Estado.
Conforme o projeto atualizado para a concessão de rodovias do Norte e do Vale do Taquari, que ainda não teve o leilão realizado, a ERS-135 terá 40,5 quilômetros duplicados e quase 26,8 quilômetros de terceira faixa. Pelo cronograma já definido, as obras de duplicação da rodovia iniciarão no terceiro ano de concessão, a partir de Erechim. No quinto ano, aconteceriam os trabalhos no contorno de Passo Fundo. Os investimentos na ERS-135 estariam concluídos em dez anos, com a duplicação do trecho de Getúlio Vargas.
No mesmo bloco de concessão está a ERS-324, entre Passo Fundo e Nova Prata, na Serra. Também em dez anos, a perspectiva é de que 60,6 quilômetros estejam duplicados e 22,5 quilômetros com implantação de terceira faixa. Neste caso, as obras têm previsão de início a partir do município da região da Produção, no terceiro ano de concessão.
Ao todo, os municípios da macrorregião teriam seis praças de pedágio no projeto revisado pelo governo.