Em seu discurso no lançamento do projeto da Soli3, a prefeita de Cruz Alta, Paula Rubim Librelotto, não teve dúvidas ao listar o motivo da escolha das cooperativas pelo município do Alto Jacuí para levar adiante a sua indústria: o seu potencial logístico. Este foi também o fator preponderante quando a CCGL instalou a sua indústria e centralizou a sua rede de operações de grãos há 17 anos.
"Estamos em um eixo com muito boa capilaridade de rodovias e, principalmente, de ferrovias, que são fundamentais para as rotas de grãos, de gado de corte e de leite. Temos em Cruz Alta o nosso ponto central para o Porto de Rio Grande, por exemplo, mas, para avançarmos, é preciso investimentos na rota ferroviária", explica o presidente da CCGL, Caio Vianna.
Está em Cruz Alta um dos únicos ramais que ainda funcionam a pleno, mas com defasagem logística, no Rio Grande do Sul, passando por Tupanciretã, Júlio de Castilhos, Santa Maria e Cacequi. No caso da Soli3, por exemplo, as cooperativas estão em fase de projetos a serem apresentados à Rumo, que administra a concessão das linhas de trens no Estado até 2027, e ao Dnit para uma nova central de transbordo de grãos e de transporte do que for produzido na nova fábrica em direção ao porto.
Já a CCGL, que já utiliza plenamente este caminho por trilhos, está em compasso de espera. Há uma área já comprada pela cooperativa para erguer um novo terminal rodoferroviário em Cruz Alta, com maior capacidade e capilaridade. No entanto, o projeto não será levado adiante enquanto não houver definição sobre o destino da malha ferroviária gaúcha após 2027.
A estrutura será fundamental para otimizar ainda mais o complexo movimentado pela CCGL com seus dois terminais (Termasa e Tergasa) no Porto de Rio Grande. Um deles, o Termasa, inclusive, passa por obras de recuperação e ampliação, com investimento de R$ 550 milhões.
Hoje, a CCGL tem capacidade para transportar e despachar a partir do porto, entre rodovias e ferrovias, 50 mil toneladas de grãos por dia. Um montante que deve ser ampliado até 100 mil toneladas quando o novo Termasa estiver pleno. O problema é que só entre 15% e 20% dos grãos são escoados pelos trilhos.
"Para aumentarmos essa carga, os investimentos na malha são urgentes. Para ser competitivo, o transporte por trens precisa operar, em média, a 60 quilômetros por hora. Hoje, a malha gaúcha opera a 16 quilômetros por hora. Isso prejudica o nosso plano, porque não queremos aumentar a capacidade estática de grãos. A nossa lógica é de receber o grão e embarcar. As estruturas de armazenagem ficam no Interior. Quanto mais ágeis pudermos ser, mais eficazes seremos na operação", resume Vianna.
Levantamento contratado pelo governo do Estado mostra que, nos últimos 18 anos, houve redução de quase 50% nas movimentações de cargas nas ferrovias gaúchas. Neste período, pelas limitações das linhas, esse transporte também teve reduzida pela metade a sua velocidade de operação.