O presidente da cooperativa CCGL, Caio Vianna, avalia que o endividamento do produtor rural do Rio Grande do Sul representa uma ameaça ao principal setor econômico do Estado. Ele foi um dos painelistas do evento Mapa Econômico do RS realizado na sede da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Cruz Alta.
O dirigente da cooperativa, que emprega mais de 1,2 mil trabalhadores, destacou a importância das pessoas e da gestão local para o sucesso de empresas e ressaltou que as crises geram mudanças. "Sem pessoas, por mais que a tecnologia avance, não faremos nada", aponta.
O presidente da CCGL criticou a dependência da safra de verão para o resultado de uma temporada e propôs a adoção de uma agricultura diversificada, com duas ou três safras anuais, aproveitando as condições climáticas do Rio Grande do Sul, que avalia como favoráveis, considerando os índices pluviométricos ao longo do ano.
"O Rio Grande do Sul é um dos melhores lugares do planeta para se produzir, porque nós temos, diferente do Brasil Central, 12 meses de temperatura, luz e umidade", acrescenta. Sobre a seca, o dirigente da CCGL questiona quantos dias foram de seca. "Nos últimos eventos, 20 dias ou 30 dias e o resto do ano foi normal", comenta.
Com relação ao endividamento, Vianna diz que é preciso realizar um diagnóstico. "Nós não vamos reverter a situação se seguirmos fazendo a agricultura que nós vínhamos fazendo", comenta. O presidente da CCGL afirma que existem agricultores bem saudáveis, mas essa agricultura não será suficiente para esse novo momento.
Vianna citou a forte dependência da China, que compra 70% da soja brasileira, e o impacto de novas tarifas de exportação, como o imposto de 50% sobre a carne bovina brasileira nos Estados Unidos, embora o fluxo de carne tenha atingido um recorde absoluto mesmo com a taxação.
O presidente da CCGL ainda destaca a industrialização de grãos no Rio Grande do Sul, especialmente na Região Norte, como uma grande oportunidade de desenvolvimento, ressaltando que políticas públicas e o cenário tributário são cruciais para determinar se a soja será processada localmente ou exportada em grão.
O presidente da CCGL afirma que é preciso diversificar as receitas. "O agricultor precisa adequar as condições do Rio Grande do Sul. Temos 30 cooperativas que repartem a despesa da pesquisa, da experimentação e da assistência técnica", comenta. Vianna diz que hoje estão sendo produzidas algumas informações extremamente importantes para fazer a agricultura nova e a agricultura regenerativa com custo mais baixo e produtividade mais alta. Uma delas é a previsibilidade, com dados sobre o clima.
Vianna tratou também sobre a questão da sustentabilidade e emissões de gases, ao argumentar que a agricultura gaúcha é negativa em emissões de CO2, citando o trabalho da Embrapa para confirmar a informação. Vianna destacou o programa Operação 365 da CCGL e a Embrapa como uma iniciativa para implementar uma agricultura mais contínua e diversificada, protegendo o solo e garantindo plantas mais resistentes a adversidades climáticas.
Sobre os recentes investimentos realizados ou anunciados em Cruz Alta, o dirigente destacou o importante eixo logístico no município de 60 mil habitantes, ressaltando que as empresas também precisam, fundamentalmente, de pessoas. Neste aspecto, compartilhou com o público sua preocupação com investimentos em educação.