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Publicada em 21 de Julho de 2025 às 00:25

Produção integrada do tabaco impulsiona exportações no Vale do Rio Pardo

Entre Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, há 12 indústrias do setor

Entre Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, há 12 indústrias do setor

/Sinditabaco/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Mesmo com 50% dos municípios gaúchos apresentando pelo menos uma lavoura de tabaco, praticamente todo o parque fabril da industrialização do produto - desde o preparo das folhas até a produção de cigarros e charutos - historicamente se estabeleceu no Vale do Rio Pardo.
Mesmo com 50% dos municípios gaúchos apresentando pelo menos uma lavoura de tabaco, praticamente todo o parque fabril da industrialização do produto - desde o preparo das folhas até a produção de cigarros e charutos - historicamente se estabeleceu no Vale do Rio Pardo.
De acordo com o Sindicato da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), que concentra 80% das indústrias do setor no Sul do País, somente entre Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, são 4 milhões de metros quadrados entre 12 indústrias. E é algo ainda em expansão. O município de Vera Cruz, com 26,7 mil habitantes, chegou a figurar entre os 50 maiores exportadores do Rio Grande do Sul nos primeiros cinco meses do ano, mas fechou junho como o 52º.
O resultado aparece na balança comercial. Entre janeiro e junho deste ano, a exportação de tabaco respondeu por 14% dos volumes negociados pelo Estado. Somados, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Vera Cruz negociaram US$ 1,2 bilhão neste período. Nos três municípios, o tabaco e os produtos do tabaco respondem por mais de 95% dos produtos vendidos no exterior.
"É um produto muito valorizado no mercado internacional, e a indústria, muito bem estabelecida aqui, garante a absorção da demanda aos produtores. É uma cadeia produtiva centenária, que há muito tempo se organizou de maneira integrada entre os produtores e a indústria, com um canal direto e garantido. Foi justamente a produção integrada que nos garantiu, nestes últimos 30 anos, liderança mundial no setor", explica o presidente do Sinditabaco, Valmor Thesing.
Soma-se a isso o fato de que a cultura tem escapado pela tangente dos problemas climáticos no Rio Grande do Sul, o que acaba rendendo vantagem na produtividade e nos preços em relação a outros grandes cultivos no Estado.
"Fomos a cultura menos atingida pelos eventos de 2023 e 2024. O plantio com mudas é feito entre março e abril. Depois, a planta vai para viveiros e, em julho, é transplantada para a lavoura. Em novembro, já tem colheita. Quando houve enxurrada, o tabaco já estava na indústria e ainda não tinha sido plantado na lavoura, e elas não foram atingidas, e quando dá estiagem, já colhemos. Ainda assim, tivemos uma quebra de 17% no último ano e, claro, perdas no solo", aponta.
A estimativa é de que pelo menos 30% dos solos usados no plantio do tabaco foram afetados. E aí entra, literalmente, em campo a expertise da produção integrada. Se na ponta da indústria há alta tecnologia, na base, ela gera conhecimento e investimento em qualificação. Há pelo menos dois estudos em andamento, com apoio do Sinditabaco. Em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é feito um trabalho de reflorestamento junto aos produtores gaúchos, com o desenvolvimento inclusive de novas variedades de
eucaliptos.
Já com a Embrapa, foi lançada em janeiro uma pesquisa que visa qualificar, e recuperar, o solo das propriedades com o tabaco, especialmente após o evento das cheias dos dois últimos anos.
"Na fase final deste trabalho, faremos intervenções positivas em 11 propriedades selecionadas. Serão medidas de recuperação a partir do cenário de muitas perdas de solo que têm acontecido e tendem a continuar acontecendo, com eventos extremos. Do ponto de vista produtivo, há conhecimento acumulado e histórico na produção do tabaco, e, muitas vezes, não são as mais adequadas, com muitas áreas com erosão e manejo inadequado. Como a cultura tem valor elevado, alguns não levam essas questões tão a sério, porque a perda que há é compensada, mas a perda da camada superficial de solo pode levar ao ponto de não retorno. O manejo e a conservação são fundamentais", explica o coordenador do projeto, Adilson Bamberg.
Na pauta das possíveis intervenções estarão o uso de bioinsumos, a cobertura de solo e o uso de camalhões. A pretensão é de que o resultado, aponta Bamberg, garanta melhoria de solo e, principalmente, maior produtividade.
No momento, os pesquisadores preparam-se para ir a campo fazer o levantamento em um universo de até 400 propriedades. Em um ano, estima o coordenador do estudo, devem haver os primeiros dados importantes para os produtores gaúchos. A pesquisa tem duração prevista de cinco anos.
Depois da safra de 508 mil toneladas em 2024, com os preços atrativos da indústria e do mercado externo, a estimativa para 2025 é chegar a 700 mil toneladas colhidas. De acordo com Thesing, o volume exportado deve ficar entre 10% e 15% superior ao último ano. "Será a maior exportação da história, superando 2012", diz o presidente do Sinditabaco.
As boas condições comerciais, com garantias, refletem no campo. Para 2025, houve aumento de quase 4% no volume de produtores integrados e aumento de 9% na área plantada.
Lideranças do setor buscam sensibilizar o poder público para a importância desta cultura à economia gaúcha e do Sul do Brasil. Em virtude das restrições aos derivados do tabaco, mesmo que 90% da produção seja direcionada à exportação, os plantios do tabaco, em geral feitos por pequenos agricultores, não podem receber recursos do Pronaf.

Indústria descobre Vera Cruz

A oferta de terrenos às margens da rodovia RSC-287, com a perspectiva de duplicação nos próximos anos, tem garantido uma transformação na economia do município de Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo.
A produção rural do tabaco historicamente garante 70% da arrecadação do setor primário na prefeitura local. Levantamento da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) mostra que, na safra 2023/24, eram 1,6 mil famílias locais dedicadas à produção - o 11º município com mais produtores no Estado. Agora, a cadeia produtiva do tabaco avança e garante maior valor agregado, com o fortalecimento de indústrias fumageiras. "
O crescimento da cultura, e principalmente da integração, tem uma importância social fundamental no nosso município. Enquanto o setor industrial avança, no setor primário o poder público tem agido para dar o apoio a esses produtores, que têm pequenas propriedades. Neste ano, por exemplo, já fornecemos mais calcário e composto orgânico do que em todo o ano passado, no trabalho de recuperação do solo após as cheias. São famílias que tiram o seu sustento dessa produção e fazem a nossa economia girar. É um produto voltado à exportação, se não tivermos o máximo cuidado com a qualidade, outros mercados vão atender a essa demanda", explica o prefeito Gilson Becker, que preside a Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco).
 

Destaques entre municípios exportadores da faixa central do RS

 Santa Cruz do Sul (2º do RS) negociou US$ 738,3 milhões ( 10,4%/2024): 96,1% em tabaco e produtos do tabaco
 Venâncio Aires (5º do RS) negociou US$ 489,6 milhões (-0,7%/2024): 98% em tabaco e produtos do tabaco
 Santa Maria (16º do RS) negociou US$ 89,4 milhões (-12,7%/2024): 86,9% em grãos de soja, arroz e trigo
 Cruzeiro do Sul (19º do RS) negociou US$ 83,4 milhões (10,4%/2024): 81,6% em gorduras de animais
 Lajeado (22º do RS) negociou US$ 69,5 milhões (34,5%/2024): 44% em partes de calçados; 28% em doces; 20% em carnes suínas
 Cachoeira do Sul (25º do RS) negociou US$ 55,1 milhões (13,7%/2024): 76% em tortas e outro resíduos sólidos extraídos do óleo de soja
 Encantado (39º do RS) negociou US$ 40,5 milhões (8,7%/2024): 66% em mate

Dados de janeiro a junho de 2025
Fonte: Ministério do Comércio Exterior

A produção de tabaco nos municípios do Vale do Rio Pardo

 Venâncio Aires: 8,2 mil hectares, 15,1 mil toneladas produzidas (2º RS)
 Vale do Sol: 5,416 mil hectares, 9,435 mil toneladas produzidas (4º RS)
 Candelária 5,410 mil hectares, 9,424 mil toneladas produzidas (5º RS)
 Santa Cruz do Sul: 5,2 mil hectares, 9,08 mil toneladas produzidas (6º RS)
 Arroio do Tigre 3,8 mil hectares , 5,9 mil toneladas produzidas (9º RS)
Fonte: Afubra, 2024

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