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Publicada em 21 de Julho de 2025 às 00:25

Encruzilhada do Sul se destaca na produção de azeites e vinhos

Produtores de azeite trabalham pela criação da identificação geográfica

Produtores de azeite trabalham pela criação da identificação geográfica

/Pedras da Quinta/Divulgação/JC
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Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Encravada na Serra do Sudeste, a 400 metros de altitude, no Paralelo 31, Encruzilhada do Sul, no limite entre o Vale do Rio Pardo e a Campanha, tem um terroir que torna o município a nova fronteira de culturas com alto valor agregado, que resultam em azeites e vinhos consagrados em concursos internacionais.
Encravada na Serra do Sudeste, a 400 metros de altitude, no Paralelo 31, Encruzilhada do Sul, no limite entre o Vale do Rio Pardo e a Campanha, tem um terroir que torna o município a nova fronteira de culturas com alto valor agregado, que resultam em azeites e vinhos consagrados em concursos internacionais.
Reforçado ainda pelo boom do plantio florestal, a estimativa é de que, nos últimos 10 anos, o preço das áreas triplicou. "Estamos na Toscana brasileira", define Diogo Durigon, um dos sócios da vinícola Pedras da Quinta.
Não à toa, rapidamente Encruzilhada se tornou o município líder no cultivo de olivais no Estado. Conforme o governo municipal, são 27 propriedades, que totalizam 720 hectares. Representam 11% de toda a área plantada no RS. Boa parte desse prestígio foi desenvolvida pelo casal paulista Bia Pereira e Bob Vieira da Costa. Da Fazenda Sabiá da Vigia saem azeites com a marca Azeite Sabiá, que já acumula 140 prêmios nacionais e internacionais.
"Eu não tenho dúvida de que Encruzilhada é a nova fronteira produtiva. Temos aqui um solo com uma calota seca, pouco propício a outras culturas, mas para os olivais, as uvas e a noz-pecã, por exemplo, muito adequado. Tem o frio necessário para a cultura, com menores índices pluviométricos do que na Campanha, por exemplo, com luminosidade o dia todo e bastante vento. Além da resiliência de estarmos no alto da Serra do Sudeste, não tão sujeitos a eventos como a cheia do último ano", detalha Costa.
O casal já produzia na Serra da Mantiqueira, em São Paulo, e, com planos de expandir a produção, visitaram a Olivas do Sul, em Cachoeira do Sul. E logo conheceram o município vizinho. Foi certeiro. Em 2018, iniciaram o cultivo em uma área de 110 hectares. A primeira colheita aconteceu em 2023, ano de pico da produção gaúcha, com 22 mil litros de azeite. Em todo o Estado, houve 29% de crescimento naquele ano, chegando a 580,2 mil litros.
Já no ano passado, com o excesso de chuvas, houve quebra, e a produção caiu para 193,1 mil litros. Na Azeite Sabiá foram 10 mil litros. A perspectiva para este ano, aponta Bob da Costa, é uma pequena recuperação, chegando a 15 mil litros. "Mesmo com uma safra de quebra, no ano passado conseguimos resultados melhores do que em outras áreas do Estado. A nossa previsão é de que em 2026, sim, teremos um ano de plena recuperação. Tivemos uma boa quantidade de frio contínuo, garantindo boa floração. A expectativa, para podermos garantir a recuperação, é de que setembro não seja 100% chuvoso", prevê.
Entre as vantagens competitivas do azeite produzido em Encruzilhada do Sul está a presença do lagar dentro da propriedade. Em todo o RS, são 25 fábricas de azeite que dão vazão à produção local. No caso do Sabiá, há ainda mais uma vantagem na infraestrutura. Os empresários criaram um lagar subterrâneo, construído sob medida para a produção.
"Ter o lagar na propriedade nos dá um ganho logístico e de qualidade final no produto incrível. A deterioração da azeitona é imediata após a colheita. Quanto mais rápido é extraído, melhor é o azeite, e menor é o risco de fermentação. Assim, ganhamos maior proteção da luz e do calor, além de representar um ganho ambiental na nossa produção", conta Bia.
Todo o processamento é feito a 21 graus. Algo que, de modo convencional, exige um sistema de refrigeração artificial. Além da produção, eles também mantêm o armazenamento do azeite nessa estrutura abaixo da terra. E a cadeia verticalizada na propriedade conta ainda com um caminhão refrigerado que leva as azeitonas dos olivais ao lagar. É uma corrida contra o tempo. A estimativa é de que a extração precisa acontecer em no máximo duas horas após a colheita. O resultado, assegura Bia, é um produto diferenciado no mercado brasileiro, e com uma imensa oportunidade de crescimento. As entidades do setor estimam que menos de 1% dos consumidores brasileiros conhecem o azeite nacional.
"Claro, não é o mesmo produto dos grandes envasadores, que geralmente usam um blend de azeitonas. O nosso produto é diferenciado, e por isso o valor agregado também não se compara. Mas a qualidade é muito superior, e isso é o que estamos apresentando aos poucos ao consumidor brasileiro", garante Bia.
Os produtores de azeite da região trabalham atualmente pela criação de uma identificação geográfica para o produto de Encruzilhada do Sul e da Serra do Sudeste.
 

Fazenda no Vale do Rio Pardo desenvolve espumante que deve chegar ao mercado neste ano

Na mesma propriedade, o casal desenvolve o seu Cave Sabiá, um espumante que deve chegar ao mercado ainda neste ano. Será a primeira experiência comercial deles em relação ao cultivo de uvas em Encruzilhada do Sul. São seis hectares plantados, com a vinificação já nas duas últimas safras, ainda sem chegar ao mercado.
Mesmo não ocupando as posições de liderança do Estado, como já acontece com as azeitonas ou com a silvicultura, a produção de uvas de Encruzilhada do Sul já representam alto valor agregado. Um levantamento do IBGE mostra que a safra de 2023 de azeitonas, por exemplo, gerou R$ 4,9 milhões no município - o maior rendimento do Rio Grande do Sul. Já na produção de uvas, mesmo ocupando a 25ª posição no Estado na quantidade produzida, gerou, no mesmo ano, R$ 22,8 milhões aos produtores locais, ficando atrás, em rendimento, de Santana do Livramento entre os produtores da Metade Sul do Estado.
Em Encruzilhada do Sul, também pela sua geografia e característica do solo - que não são ideais para os grãos, como a soja -, os riscos da deriva de produtos químicos de outras lavouras, principalmente da soja, não atingem com tanta força as duas culturas altamente valorizadas. Em Jaguari, por exemplo, onde está a segunda maior produção de uvas deste eixo central do Estado, no Vale do Jaguari, nos últimos três anos, foram produzidos 820 mil litros de vinho.
No entanto, entre 2022 e 2024, a produção de vinhos na localidade, que está entre as grandes áreas de expansão da soja, reduziu em 51%, caindo de 350 mil litros em 2022 para 170 mil litros em 2024.
 

Vinhos do Vale do Rio Pardo chegam nas mesas da alta culinária

A maior parte da produção de uvas de Encruzilhada do Sul ainda é destinada a pelo menos quatro grandes vinícolas gaúchas, que já descobriram o potencial da região e industrializam as uvas colhidas ali em outras regiões do Estado. No Assentamento da Quinta, a propriedade de Olívio Maran, um dos assentados, com origem em Bento Gonçalves, na Serra, não é diferente. No entanto, há três anos, em sociedade com o advogado Diogo Durigon, uma pequena parte dos 20 hectares plantados se transformou no Pedras da Quinta. Com pequena quantidade e alta qualidade.
Como resultado, a vinícola hoje tem alguns dos seus 16 rótulos nos restaurantes do Copacabana Palace, no restaurante do renomado chef Alex Atala e no Catherine, em Gramado.
"Somos pequenos, produzimos de 10 a 12 mil garrafas por ano, temos um espumante, um rosé, três brancos e outros 13 rótulos de vinhos finos, com alta qualidade reconhecida pelos melhores restaurantes do País. Muito pelas características únicas que temos em Encruzilhada do Sul, a Toscana brasileira, que nós descobrimos primeiro, mas, aos poucos, tem atraído muitos interessados", comenta Durigon.
Conforme o Sistema de Declarações Vinícolas (Sisdevin), a Pedras da Quinta é a única vinícola em operação comercial atualmente em Encruzilhada do Sul. Em um projeto que começou com a compra de parte da uva produzida por Olívio há 25 anos para a produção de um vinho caseiro. A experiência deu muito certo e, nos últimos três anos, a Pedras da Quinta comercializa os seus rótulos.
Segundo Diogo Durigon, a vinícola tem um dos três únicos vinhedos certificados pela responsabilidade trabalhista, de meio ambiente e no manejo e qualidade das frutas. Nos planos deles está o investimento para ampliar em três hectares o plantio e na aquisição de maquinários. E neste ano, a Pedras da Quinta aposta ainda em uma cachaça premium, que leva o nome de João Cândido, o Almirante Negro, que era natural de Encruzilhada do Sul.
"O terroir da região é incrível. É um novo contexto de qualidade para a produção de vinhos no Brasil. A amplitude térmica ajuda muito, reforçada pelo manejo. Enquanto na Serra as condições locais de manejo da uva resultam em muitos espumantes e na Campanha, a presença do Sol resulta em vinhos de cor intensa, em Encruzilhada, e na Serra do Sudeste, se estabeleceu um ponto de equilíbrio, com solos variáveis e climas diferenciados", explica Durigon.
Ele exemplifica: "são cinco produtores locais, e se você pegar a Chardonnay cultivada por cada um, ela tem um gosto diferente, por essa grande variação de solos e climas em um mesmo lugar".
O levantamento do Sisdevin aponta que, nos últimos três anos, quando iniciou a produção de vinhos — além do cultivo das uvas, que já acontecia há mais tempo — em Encruzilhada, foram colhidos 8 milhões de quilos da fruta, a maior parte — 2,24 milhões de quilos —, Chardonnay. No mesmo período, foram produzidos 27,2 mil litros de vinho tinto fino e 6 mil litros de espumantes no município.

Azeites e vinhos na faixa central do RS

Cultivo de oliveiras
 Encruzilhada do Sul (R$ 4,9 milhões valor da produção)
 Cachoeira do Sul (R$ 993 mil valor da produção)
 São Sepé (R$ 530 mil valor da produção)
 Restinga Sêca (R$ 217 mil valor da produção)
 Pantano Grande (R$ 81 mil valor da produção)
Produção de azeites
 Encruzilhada do Sul
 Cachoeira do Sul
 Restinga Seca
Cultivo de uvas
 Encruzilhada do Sul (R$ 22,8 milhões valor da produção)
 Jaguari (R$ 3,4 milhões valor da produção)
 Sobradinho (R$ 2,4 milhões valor da produção)
 Ibarama (R$ 2,3 milhões valor da produção)
 Cacequi (R$ 1,6 milhão valor da produção)
Produção de vinhos
 Encruzilhada do Sul (1 vinícola ativa)
 Jaguari (2 vinícolas ativas)
 Sobradinho (2 vinícolas ativas)
 Ibarama (1 vinícola ativa)
 Cacequi (1 vinícola ativa)
Cultivo de noz-pecã
 Cachoeira do Sul (R$ 21,1 milhões valor da produção)
 Santa Maria (R$ 1,6 milhão valor da produção)
 São Pedro do Sul (R$ 667 mil valor da produção)
 Rio Pardo (R$ 637 mil valor da produção)
 Santiago (R$ 595 mil valor da produção)

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