Com a entrada de uma massa de ar polar no Rio Grande do Sul nesta semana, trazendo temperaturas mínimas próximas de 2 °C em cidades da metade Sul do RS, muitos moradores da região já começaram a se questionar sobre o que esperar do inverno de 2025.
Segundo a meteorologista Jossana Ceolin Cera, do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), a resposta é que, pelo menos até o momento, o inverno não deve ser tão severo quanto muitos imaginam. Em entrevista ao Jornal do Comércio, ela explicou que o período será marcado pela neutralidade climática, ou seja, sem atuação clara dos fenômenos El Niño ou La Niña. E isso traz um cenário de maior imprevisibilidade.
“A gente está desde o final do ano passado em neutralidade. E muitas vezes se associa neutralidade a uma espécie de normalidade, mas não é bem assim. Podemos ter oscilações de temperatura e períodos tanto mais secos quanto mais chuvosos”, explicou Jossana.
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A especialista destaca que, mesmo sem o resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico – característica do fenômeno La Niña – o inverno ainda pode ter episódios pontuais de frio intenso. “O prognóstico para julho indica temperaturas de 1 °C a 2 °C abaixo da média, enquanto junho deve ser mais quente do que o normal”, pontua.
Jossana ressalta ainda que, para junho, os modelos meteorológicos indicam a continuidade das temperaturas mais elevadas e precipitações próximas da média na metade Sul do estado. Em julho, deve ocorrer a virada: o frio se intensifica e a média de temperaturas cai. Para agosto, a tendência é de normalidade, tanto para calor quanto para chuvas. Essas variações refletem o atual contexto de neutralidade climática, que dificulta prognósticos mais precisos. “Com a neutralidade, os modelos divergem mais. Alguns indicam chuvas abaixo da média, outros apontam volumes acima. Por isso, a recomendação é acompanhar as atualizações mensais”, afirma.
O inverno de 2025 não deverá causar grandes transtornos para as culturas de arroz e soja, já que nesse período não há essas plantações no campo. No entanto, há atenção com outras culturas de inverno, como o trigo e as pastagens, pontua a especialista. “Se o produtor tiver pastagem de inverno, temperaturas mais altas não são tão benéficas. Essas plantas precisam do frio para se desenvolver bem. Já o trigo é mais sensível. O risco está nas geadas na fase de floração, o que pode comprometer a produtividade”, alerta Jossana.
Ela também explica que a previsão de geadas não pode ser feita com grande antecedência. “Esse tipo de fenômeno é avaliado com no máximo três dias de antecedência. A gente pode ter uma ideia de massas de ar frio chegando, mas a confirmação da geada é de curtíssimo prazo”, esclarece.
O inverno de 2024 foi influenciado por um El Niño muito intenso, que gerou aumento de chuvas principalmente no primeiro semestre do ano. Para este ano, as expectativas são bem diferentes. O padrão climático é outro e a tendência de eventos extremos diminui. “A grande diferença é que agora estamos em um cenário sem atuação de El Niño ou La Niña. Isso torna as previsões mais desafiadoras, mas, ao mesmo tempo, reduz os extremos que esses fenômenos costumam provocar”, compara Jossana.
Jossana salienta que no IRGA, o trabalho da equipe de meteorologia é fundamental para orientar produtores rurais de todas as regiões do estado. A instituição fornece atualizações regulares de clima e tendências, com foco na produção de arroz e soja. Jossana, que é meteorologista há mais de oito anos no Instituto, também atua com foco em agrometeorologia, oferecendo suporte técnico em eventos e reuniões com agricultores.
O acompanhamento das previsões climáticas para os próximos meses continuará sendo essencial para tomada de decisões no campo. A recomendação é que produtores fiquem atentos às atualizações mensais dos principais institutos meteorológicos. “Por enquanto, podemos afirmar que até metade do inverno a neutralidade se mantém. E esse padrão deve garantir um inverno com alguns dias frios, mas sem grandes extremos”, conclui Jossana.