A insegurança enfrentada por milhares de usuárias do transporte público em Rio Grande está no centro de uma pesquisa realizada por estudantes e professores da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), em parceria com a prefeitura. A iniciativa, coordenada pela professora Ana Maria Azambuja, integra a atividade de extensão "Problemas de Trânsito e Transporte", e tem como principal objetivo mapear casos de assédio e avaliar as condições de segurança nas paradas e nos veículos de transporte coletivo da cidade.
O levantamento é feito por meio de um questionário on-line, acessível por QR Code, que está afixado em pontos estratégicos como a Praça Tamandaré, no Centro da cidade, que concentra as paradas de várias linhas dos coletivos riograndinos. A pesquisa é anônima e aberta a todas as pessoas maiores de 18 anos que utilizam o transporte coletivo com frequência — incluindo mulheres, homens e pessoas da comunidade LGBTQIAP+.
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A professora Ana Maria destaca que o foco do estudo é compreender a experiência de segurança das usuárias e usuários do transporte público, desde o momento em que esperam pelo ônibus até o trajeto dentro do veículo. “O questionário inclui perguntas como horário e linha mais utilizada, se há iluminação na parada de ônibus, se a pessoa costuma estar acompanhada, e se já presenciou ou vivenciou situações de assédio”, explica.
Segundo a coordenadora do trabalho, os impactos do assédio não se restringem ao momento da ocorrência. “Esses crimes têm efeitos muito negativos. A pessoa pode deixar de usar o transporte coletivo por medo, o que implica em perda de passageiros e, consequentemente, em prejuízos ao sistema de transporte público da cidade”, afirma.
Um dos pontos levantados pela pesquisa é a subnotificação dos casos. Muitas mulheres não denunciam por medo ou por não reconhecerem de imediato que sofreram assédio. “O assédio não acontece apenas com o toque físico. Pode ser um olhar, uma aproximação invasiva. É fundamental que as pessoas saibam identificar essas situações e tenham segurança para relatar”, pontua Ana Maria.
A pesquisa também considera sugestões para aumentar a segurança dos usuários, como a instalação de câmeras dentro dos ônibus. “É uma das medidas que poderiam inibir o assédio. As imagens podem ser utilizadas como prova e também funcionam como fator de dissuasão”, acrescenta a professora.
A percepção de insegurança é compartilhada por usuárias do sistema, como Vanimar Fonseca, que utiliza o ônibus diariamente. “Dá bastante medo. Nunca passei por isso, mas já tive amigas que passaram. A gente fica sempre em alerta”, relata.
Após a conclusão da coleta de dados, a equipe da Furg irá tabular e sistematizar os resultados em um relatório que será entregue à Prefeitura de Rio Grande. A expectativa é que os dados subsidiem decisões do poder público para melhorar as condições de segurança no transporte coletivo, incluindo nas paradas e nos ônibus. “A pesquisa é uma ferramenta para aproximar a universidade da comunidade e trazer dados concretos que ajudem na formulação de políticas públicas. Queremos que o transporte público seja um espaço seguro para todos”, finaliza Ana Maria Azambuja.
Segundo o site da prefeitura, outra pesquisa sobre o tema já havia sido realizada em 2023 pela administração municipal. Os resultados da sondagem identificaram que cerca de 20% das mulheres entrevistadas já haviam sido importunadas verbal ou fisicamente ao utilizarem o sistema público de transporte do Rio Grande. Do total de assédios, 60% dos casos ocorreram dentro dos próprios ônibus, incluindo comentários ou atos de cunho sexual. Esses dados levaram ao lançamento, pelo governo municipal, da ferramenta JU.LI.A, disponível dentro do aplicativo para celular do sistema de bilhetagem Cartão Rio Grande.
O formulário da pesquisa pode ser acessado e respondido aqui.