Apesar de abrigar uma ampla estrutura acadêmica, Bagé enfrenta um desafio que ameaça o desenvolvimento regional: a evasão de mão de obra qualificada. O alerta foi feito por Érico Amaral, diretor-geral do Ecossistema de Inovação da Região da Campanha e Fronteira Oeste (Ecobah), uma das entidades organizadoras da segunda edição do Pampa Summit, realizada nos dias 22 e 23 de maio em Bagé.
“Temos uma força acadêmica muito grande, com universidades federais, estaduais, comunitárias e institutos técnicos. Mas nossos profissionais se formam na sexta-feira e, no sábado, já estão indo embora trabalhar em grandes centros”, afirmou Amaral. Ele lamenta a perda de talentos inovadores e empreendedores que poderiam contribuir para transformar a realidade local, caso houvesse mais oportunidades na região.
Bagé é sede de campi da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), da Universidade da Região da Campanha (Urcamp) e do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), entre outras instituições. Essa infraestrutura permite a formação de profissionais altamente capacitados, pontua Amaral, que é professor da Unipampa na área de Engenharia da Computação. No entanto, a falta de mercado e iniciativas de retenção faz com que esses talentos deixem a cidade.
O Pampa Summit é uma das iniciativas criadas para enfrentar esse cenário. O evento, que nasceu em 2024 em Caçapava do Sul após a participação de representantes locais no South Summit, em Porto Alegre, tem como missão descentralizar o debate sobre inovação no Rio Grande do Sul. Sua proposta é levar discussões, oportunidades e networking para as cidades que sediam o evento.
Programação do Pampa Summit, que aconteceu em Bagé nos dias 22 e 23 de maio de 2025
Pampa Summit/Divulgação/JC
A edição de Bagé do Pampa Summit atraiu cerca de 1.200 participantes ao longo dos dois dias, com uma programação que incluiu atividades voltadas a estudantes do ensino médio e superior, reunindo também representantes do meio empresarial. Também foram expostas iniciativas de inovação de municípios vizinhos e de startups incubadas na Unipampa, como a Proby, a Ótimo, da área de energia e a Bientech, que atua no setor de healthtech.
Segundo Amaral, o evento foi uma oportunidade de mostrar que a inovação não está restrita às capitais. “Inovar não é só usar tecnologia, mas pensar diferente para resolver problemas. Isso precisa estar presente aqui também. Nosso desafio é criar condições para que as mentes brilhantes que formamos fiquem na região, empreendam, inovem e façam a diferença.”
A organização do Pampa Summit ficou a cargo do Ecobah, além do InovaFOC, projeto de inovação ligado ao Inova RS, programa do governo do Estado ligado à Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. “Ao longo do evento fortalecemos as parcerias com as instituições que nos apoiam e que fazem parte da quádrupla hélice, composta por instituições de ensino, empresas, poder público e sociedade civil”, reforçou Amaral.
Criado em 2022, o Ecobah teve sua governança consolidada em 2024, com a atualização da lei municipal de inovação. Em 2025, o ecossistema passou a englobar formalmente os municípios de Candiota, Hulha Negra e Aceguá. “Mostramos que é possível fazer diferente e trabalhar de forma colaborativa. O Pampa Summit fortaleceu isso, com integração entre prefeituras, instituições e empresários”, diz Amaral.
O próximo Pampa Summit será em São Borja, com data prevista para os dias 26 e 27 de agosto. A expectativa é de que o evento continue ampliando o alcance da inovação para além dos grandes centros e ajude a criar, nas palavras de Amaral, “um ambiente em que inovar, empreender e ficar na região seja uma escolha possível e viável”.