De Pelotas, especial para o JC
Com origem acadêmica e foco em inovação no campo da saúde animal, a startup Ignis Animal Science, que iniciou suas atividades em 2018 a partir da Conectar – Incubadora de Base Tecnológica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) – está desenvolvendo um produto voltado à proteção do trato gástrico de animais como vacas e porcas.
A empresa foi uma das contempladas no edital voltado a ações de resiliência climática e enfrentamento aos impactos das enchentes que atingiram o Estado em 2024, e destinado especificamente a startups. O aporte recebido foi de R$ 132 mil, para projetos a serem desenvolvidos em um prazo de dois anos.
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O projeto da Ignis tem como objetivo o desenvolvimento de um “bypass natural” — um tipo de cápsula com película protetora capaz de atravessar o ambiente ruminal dos animais, sem sofrer degradação, para liberar diretamente no intestino o princípio ativo responsável por melhorar a saúde e o desempenho produtivo de vacas. A proposta da tecnologia é potencializar a absorção de nutrientes e medicamentos com menor impacto sobre o organismo dos animais.
“A vaca tem um ambiente ruminal, que é o estômago dela, com muitas bactérias, protozoários e muita água. O produto bypass vai ser protegido desse ambiente, com uma película de proteção, e vai ser absorvido diretamente no intestino”, explica Josiane Feijó, CEO da Ignis. Com isso, é possível utilizar menores doses dos princípios ativos, reduzindo os efeitos colaterais e aumentando a eficiência dos suplementos.
Até agora, segundo Josiane, os testes in vitro do produto garantiram uma proteção de 80% ao passar pelo ambiente ruminal dos animais. Novos testes serão realizados em exemplares de bovinos e suínos antes de ser comercializado.
Além de trazer ganhos para a saúde animal e aumentar a produtividade leiteira, o produto também busca contribuir com a sustentabilidade. De acordo com Josiane, a solução poderá ajudar na redução das emissões de metano — um dos principais gases do efeito estufa gerado na digestão de ruminantes. “Com isso, a gente melhora o nosso clima e auxilia o ambiente climático”, afirma a empreendedora.
A inovação também tem reflexo na formação acadêmica, já que a Ignis mantém vínculos com estudantes da UFPel e reforça a cultura de inovação. “É importante essa troca de conhecimento. A gente contribui com a formação dos alunos, fazendo com que eles queiram trabalhar com inovação e acreditar que ela é possível no nosso país”, acrescenta Josiane.
De acordo com a CEO, o apoio do Fundo do Plano Rio Grande chegou em um momento sensível para a empresa, que teve sua produção interrompida durante a cheia de 2024. Na ocasião, o depósito da Ignis em Porto Alegre foi atingido pelas águas, o que obrigou a startup a suspender parte de suas atividades. Agora, com o novo investimento, a expectativa é retomar a produção com foco em pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O primeiro produto da Ignis foi lançado em 2021: o Cal Up, suplemento que busca solucionar a hipocalcemia nas vacas, condição que atinge cerca de metade do rebanho justamente no momento se inicia a produção leiteira. Isso acontece porque, quando o cálcio é direcionado ao leite, acontece uma redução do nível de cálcio no organismo do animal. Com o emprego do suplemento, o nível de cálcio no organismo das vacas aumenta em cerca de trinta minutos após a ingestão.
O Cal Up foi o primeiro produto desenvolvido no contexto de um projeto de pesquisa da universidade que chegou às prateleiras para o consumidor, após ser patenteado e licenciado por meio de parceria entre a Ignis e a universidade.
Colaborou Lívia Araújo