De Rio Grande, especial para o JC
Mesmo com o retorno das atividades no polo naval de Rio Grande reacendendo a esperança de uma reação em cadeia na economia local, o setor da construção civil vive um cenário de desaceleração. Impactado por fatores acumulados, como a pandemia e, no ano passado, a enchente que afetou o estado e a cidade — o mercado imobiliário segue cauteloso, com queda no número de lançamentos e retração por parte das construtoras.
Segundo Rosane Barenho, diretora de integração feminina do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) em Rio Grande, o ritmo da construção civil no município é o mais lento dos últimos tempos. “Depois da pandemia e também da enchente, houve uma queda muito grande na área imobiliária em Rio Grande. A cidade sofreu bastante”, afirma.
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Rosane destaca que o segmento de locação é o único que mantém certa estabilidade, ainda que também tenha sido afetado pela insegurança provocada pelas inundações. “As locações continuam estáveis, não houve um aumento relativo ao polo naval até o momento, mas esperamos que essa situação mude futuramente”, projeta.
Um dos principais entraves para a retomada da confiança no setor é o receio com a localização dos imóveis. A enchente que atingiu bairros inteiros, sobretudo os mais próximos da Lagoa dos Patos, deixou marcas profundas na percepção de risco de compradores e investidores. “Quando procuram imóvel para comprar, a primeira coisa que pedem é que não seja em zona de alagamento. Isso dificultou bastante. Alguns bairros, principalmente na volta da Lagoa, foram muito atingidos e seguem desvalorizados”, relata a representante do Creci.
A exceção é o Balneário Cassino, que vem recebendo uma "migração" de moradores de outras áreas da cidade e aumentando a demanda por moradia, ao mesmo tempo que esvazia a oferta imobiliária na região central de Rio Grande.

De acordo com diretora do Creci de Rio Grande, segmento de locação é o único que mantém certa estabilidade
Josimara Megiato/Especial/JC
Além das perdas patrimoniais, a enchente também trouxe impactos logísticos e estruturais. Várias obras precisaram ser paralisadas, seja por danos no canteiro de obras ou pela dificuldade de acesso e fornecimento de insumos. Com isso, muitos projetos foram suspensos ou sequer saíram do papel.
O cenário atual contrasta com o otimismo que se espalha em outros segmentos da economia local, em especial no setor hoteleiro, que já começou a colher frutos com o anúncio de novos contratos para o Estaleiro Rio Grande. A previsão de chegada de trabalhadores especializados dá esperanças a áreas como hospedagem, alimentação e serviços — mas ainda não é suficiente para atrair novos empreendimentos imobiliários, especialmente na área central do município.
Apesar do momento desafiador, o setor imobiliário ainda vê a retomada do polo naval como um possível ponto de virada no médio prazo. A expectativa é que a demanda por moradias cresça à medida que os projetos avancem e a presença de trabalhadores de fora gere pressão por novas unidades habitacionais.