Com o impasse no campo diplomático, sem uma definição acerca da nova reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin, Rússia e Ucrânia escalaram ontem a violência da guerra. Como seria previsível, dada a assimetria das forças disponíveis para cada lado, Moscou comandou o maior ataque, ao lançar 433 mísseis e drones contra diversas regiões da Ucrânia, causando apagões e matando ao menos seis pessoas na capital, Kiev, inclusive uma criança.
Foi um ataque complexo e em camadas, para saturar as defesas aéreas. Os números da Força Aérea da Ucrânia apontam isso: dos 405 drones, armados ou apenas iscas, 333 foram derrubados. Dos mais lentos mísseis de cruzeiro subsônicos Iskander-K, 8 de 9. Já do modelo supersônico Kh-59, 2 de 4, e 6 de 11 balísticos Iskander-M.
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Por fim, os quatro hipersônicos Kinjal disparados voaram impunemente. Com isso, houve 12 impactos diretos de mísseis e 55 de drones em 26 locais do país, fora áreas atingidas por destroços. Foi o mais intenso ataque nas últimas semanas.
Em Kiev, o abastecimento de água quente foi cortado, assim como a luz em alguns bairros, em um dia com temperaturas na casa dos 9°C. O inverno do Hemisfério Norte começa em dezembro, e a infraestrutura de distribuição de gás do país está severamente afetada.
Em campo, os russos ainda anunciaram a tomada de mais duas vilas de linha de frente, ampliando a pressão sobre Kiev: os ucranianos conseguiram segurar uma ofensiva mais incisiva em Donetsk às expensas de reforços em outros pontos dos cerca de mil km de atrito com a Rússia, que invadiu o vizinho em 2022.
Já as forças de Volodymyr Zelensky apostaram nos drones e mísseis para fazer estragos pontuais, mas importantes. Ainda na noite de terça, uma ação conjunta de drones e mísseis conseguiu furar as defesas aéreas russas em Briansk (Sul), e uma fábrica de produtos químicos que fornece pólvora às Forças Amadas foi atingida.
Os ucranianos afirmam ter empregado na ação o míssil de cruzeiro franco-britânico Storm Shadow, como que querendo lembrar Trump sobre a diferença que armas de precisão podem fazer a seu favor - em encontro com Zelensky na sexta passada, o americano rejeitou fornecer modelos Tomahawk, de muito maior alcance, temendo uma escalada com Putin.
Zelensky voltou a dizer que topa parar com as linhas atuais congeladas, buscando agradar Trump, com quem tem difícil relação. Já o Kremlin disse que há muita fumaça em torno do assunto, e que as negociações para a realização da cúpula continuam.
Folhapress