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Publicada em 23 de Janeiro de 2025 às 14:54

Retórica anti-imigração ganha força na Alemanha com novo ataque à faca

Um menino de dois anos e um homem de 41 anos não resistiram ao ataque em um parque de Aschaffenburg, na Baviera

Um menino de dois anos e um homem de 41 anos não resistiram ao ataque em um parque de Aschaffenburg, na Baviera

Kirill KUDRYAVTSEV/AFP/JC
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Folhapress
Em meio a uma campanha eleitoral intensa - ocorre em 23 de fevereiro -, a Alemanha dá novos contornos à discussão sobre imigração no país. Um afegão de 28 anos, sem motivação aparente, usou uma faca de cozinha para atacar pessoas em um parque público, incluindo um grupo de crianças, em Aschaffenburg, na Baviera, na quarta-feira (23). Um menino de dois anos e um homem de 41 anos não resistiram aos ataques. Outras três pessoas ficaram feridas.
As manchetes de sites e jornais destacavam a nacionalidade do agressor, contudo, a característica mais forte do homem, no entanto, não era exatamente ser imigrante, mas uma pessoa com histórico de violência e desequilíbrio mental documentado. A criança morta era de origem marroquina; entre os feridos, havia uma menina, também de dois anos, da Síria.
Como no caso do atropelamento de centenas de pessoas em um mercado de Natal, em Magdeburgo, em dezembro, a nacionalidade do envolvido mais confunde do que explica o ataque. O médico saudita que matou seis pessoas e feriu mais de 300 tinha situação regular e uma militância anti-Islã, voltada contra o regime de seu país de origem. Nas redes sociais, celebrava a ascensão da AfD, o partido de extrema direita. Promotores descartaram motivação política no ato.
O agressor desta semana, que entrou na Europa pela Bulgária, passou pela França e estava na Alemanha desde 2022, tinha solicitado a própria deportação. Ele já tinha sido preso por porte de drogas e por ao menos três episódios de violência. Também passou por instituições de tratamento psiquiátrico.
Nada disso foi capaz de ao menos matizar o discurso político. O chanceler Olaf Scholz falou de "ato de terror injustificável", mesmo depois de a polícia local considerar ser difícil qualquer motivação política. O primeiro-ministro convocou um gabinete de crise. A ministra do Interior, Nancy Faeser, declarou que o sistema europeu de controle imigratório não está funcionando e que o "governo trabalha intensamente para deportar criminosos para o Afeganistão".
Foi exatamente o que o líder parlamentar da AfD, o partido da extrema direita da Alemanha, pediu ao comentar sobre o ataque. Tino Chrupalla declarou que é preciso acelerar a deportação de solicitantes de asilo que são perigosos. Há tempos a sigla, que tem integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo, aponta que os políticos mais moderados estão absorvendo suas bandeiras mais populares. Medidas contra imigrantes lideram a lista.
Christian Lindner, do FDP, a sigla liberal, descreveu "um fracasso estatal" no episódio. Friedrich Merz, da CDU, que lidera as pesquisas eleitorais, pediu uma "apuração de responsabilidades" e falou de "fronteiras fechadas". O governo do estado da Baviera, da CSU, sigla conservadora que trabalha em coalizão permanente com a CDU, falou da necessidade de rever os alojamentos para doentes mentais.
A exceção foi o prefeito de Aschaffenburg, que preferiu fazer um alerta no lugar das palavras de ordem. "Não podemos e não devemos jamais atribuir o ato de um indivíduo a todo um grupo populacional", disse Jürgen Herzing, notando "pensamentos de vingança" entre os moradores de sua cidade.
"Um ato terrível não deve desencadear uma espiral de violência e ódio", afirmou o prefeito, durante uma cerimônia no parque Schöntal, local do ataque, conhecido por ser frequentado por usuários de drogas. O suspeito era um deles. "Temos que conviver com a percepção de que a segurança absoluta não é possível."

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