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Internacional

Relações Internacionais

- Publicada em 15 de Março de 2023 às 17:54

Rússia adverte EUA após queda de drone no Mar Negro

Para o Kremlin, apoio dos EUA a Kiev equivale a guerra por procuração

Para o Kremlin, apoio dos EUA a Kiev equivale a guerra por procuração


NATALIA KOLESNIKOVA/AFP/JC
Um dia após ser acusada pelos Estados Unidos de ter provocado a queda de um drone norte-americano operando no Mar Negro, perto do conflito na Ucrânia, a Rússia disse para Washington parar sua atividade aérea perto das fronteiras russas.
Um dia após ser acusada pelos Estados Unidos de ter provocado a queda de um drone norte-americano operando no Mar Negro, perto do conflito na Ucrânia, a Rússia disse para Washington parar sua atividade aérea perto das fronteiras russas.
A advertência foi feita em um comunicado do embaixador russo nos EUA, Anatoli Antonov, na madrugada desta quarta (15). Ele havia sido convocado pelo Departamento de Estado para dar explicações sobre o episódio, o mais grave encontro de aeronaves russas e ocidentais desde o início da Guerra da Ucrânia.
"A atividade militar inaceitável dos EUA perto de nossas fronteiras é motivo de preocupação. Elas recolhem inteligência, que subsequentemente é usada pelo regime de Kiev para atacar nossas Forças Armadas e território", afirmou.
Na manhã de terça (14), dois caças russos interceptaram um drone de reconhecimento e ataque MQ-9 Reaper no mar Negro. Moscou disse que o aparelho havia violado o espaço aéreo delimitado pelos russos desde o começo da guerra, em fevereiro do ano passado, como restrito. Washington não reconhece essa fronteira.
Segundo o relato norte-americano, um dos Sukhoi Su-27 passou a interferir com o drone, despejando combustível à sua frente e fazendo manobras próximas, quando acabou batendo em sua hélice, levando o aparelho a cair. Os russos negam, dizendo que a queda foi provocada por uma manobra brusca do Reaper.
Os norte-americanos moderaram o tom, focando a acusação no que chamaram de antiprofissionalismo da abordagem russa. Insistiram em que o Reaper, um dos cerca de 300 aparelhos de até US$ 30 milhões cada (quase R$ 160 milhões hoje) que operam, estava desarmado e em ação de vigilância. Nesta quarta, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que os EUA pediram, na conversa com Antonov, que "os russos fossem mais cuidadosos".
Antonov jogou a bola de volta para o campo de Washington. "Deixe-nos fazer uma questão retórica: como a Força Aérea e a Marinha dos EUA iriam reagir se um drone de ataque russo aparecesse perto de Nova York ou São Francisco? Parem de fazer surtidas perto das fronteiras russas", afirmou.
O ponto do embaixador é óbvio e correto, embora ignore propositadamente a realidade: as fronteiras de atrito entre a Rússia e o Ocidente ficam em torno da antiga esfera soviética: mares Negro e Báltico, Pacífico Ocidental, por exemplo. E, se não têm nenhum drone perto da costa leste norte-americana, os russos voam suas próprias patrulhas de reconhecimento, quando não apenas para testar a velocidade de reação dos adversários, particularmente no norte da Europa.
O Mar Negro é palco costumeiro desses incidentes. Pouco antes da guerra, os russos jogaram bombas de um jato para afastar um navio de guerra britânico da costa da Crimeia, a península anexada em 2014 que sedia sua Frota do Mar Negro. E, em outubro, dispararam, segundo alegado, por acidente, um míssil perto de um avião-espião de Londres. O risco desses cenários é o de uma escalada não intencional em um cenário conturbado, exatamente o que há hoje entre Moscou e Washington, apesar de as partes estarem colocando panos quentes para evitá-la.
Na manhã desta quarta (madrugada no Brasil), o Ministério das Relações Exteriores russo disse que não iria mais comentar o episódio, mas repetiu que as relações com os EUA estão no pior nível da história. Para o governo de Vladimir Putin, o apoio maciço norte-americano a Kiev equivale a uma guerra por procuração, uma vez que os EUA já enviaram à Ucrânia US$ 47,3 bilhões em armas e defesa até janeiro.