Tem tecnologia brasileira na linha de frente das soluções globais para a redução na emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Sendo o setor de transportes um dos principais poluentes, especialmente no espaço urbano, é esperada contribuição equivalente na mitigação. E a empresa gaúcha Marcopolo, que há tempos assumiu a responsabilidade de fazer parte da solução, apresentou na COP30 sua mais nova proposta: o primeiro ônibus híbrido elétrico/etanol.
Com propulsão elétrica, o veículo utiliza o etanol – biocombustível de referência no Brasil – para abastecer. "Ele é neutro em carbono porque o processo de produção da cana absorve o CO₂ e a pequena queima que acontece não é maior do que toda a absorção por parte da cana", explicou à Coluna o CEO da Marcopolo, André Armaganijan. O mesmo vale para outras fontes de etanol, como milho, sorgo ou trigo. O veículo está em fase de teste. A expectativa é que esteja nas ruas a partir de 2026.
A aposta da Marcopolo surge para responder um gargalo na eletrificação da frota do transporte coletivo nas cidades brasileiras: a falta de infraestrutura para a recarga. "O ônibus híbrido a etanol traz essa alternativa: não precisa de uma infraestrutura de recarga, utiliza o etanol para carregar as baterias", destaca o CEO. Ou seja, é uma solução viável para os municípios brasileiros e de rápida implementação.
Também na COP30 a empresa apresentou um micro-ônibus movido a biometano e gás natural, que reduz em até 84% as emissões de gases de efeito estufa. O executivo da Marcopolo destaca que a iniciativa "tira da atmosfera gases que estariam sendo emitidos e coloca no motor para justamente evitar uma segunda emissão de um motor à combustão".
Na Conferência do Clima em Belém do Pará, Armaganijan participou de um debate sobre transporte público e descarbonização, parte da programação da Casa C.A.S.E., iniciativa articulada por Bradesco, Itaúsa, Itaú, Marcopolo, Natura, Nestlé e Vale que destaca o setor privado brasileiro como articulador de soluções para os desafios relacionados a clima, natureza e pessoas. Confira a seguir a entrevista que o CEO da Marcopolo concedeu ao JC durante a COP30.
Jornal do Comércio – Na palestra você citou a contribuição que o setor de transportes pode dar para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Como se dá isso?
Jornal do Comércio – Na palestra você citou a contribuição que o setor de transportes pode dar para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Como se dá isso?
André Armaganijan – Grande parte das emissões globais do setor de transporte é referente ao transporte terrestre. E quando a gente olha para um ônibus, diversas soluções hoje estão disponíveis no mercado. Tem soluções de carbono zero, como é o exemplo do ônibus elétrico, e algumas soluções inovadoras, como a que a gente trouxe para a COP30.
JC – Quais?
Armaganijan – Nós apresentamos um micro-ônibus a biometano. Imagina, ele utiliza as emissões de gases, sejam animais, vegetais ou até de resíduos industriais. É interessante porque tira da atmosfera gases que estariam sendo emitidos e coloca no motor para justamente evitar uma segunda emissão de um motor à combustão. E a principal novidade é o ônibus híbrido a etanol (e elétrico). Ele é neutro em carbono porque o processo de produção da cana absorve o CO₂ e a pequena queima que acontece não é maior do que toda a absorção por parte da cana.
JC – Como funciona?
Armaganijan – É um motor que serve como gerador. O motor a etanol não é o responsável pela propulsão, pelo trem motriz. O ônibus é movido por um motor elétrico com baterias. Mas esse motor a etanol serve como um gerador para recarregar as baterias. E por que usar um motor como esse? Porque o que percebemos no processo de acelerar a descarbonização e trazer a solução elétrica como alternativa, é que a infraestrutura de recarga é um dos gargalos, com algumas cidades querendo acelerar o processo de eletrificação e tendo a indisponibilidade de energia para carregar esses ônibus. Então, o ônibus híbrido a etanol traz essa alternativa: não precisa de uma infraestrutura de recarga, utiliza o etanol para carregar as baterias.
JC – Qual a importância de inovações como esta?
Armaganijan – O que vemos, de uma forma geral, é que a indústria tem trazido diversas soluções. Tenho visto aqui na COP, não só no caso da Marcopolo, mas outras empresas apresentando soluções importantes para o mercado. O transporte emite, mas tem soluções disponíveis para acelerar esse processo e diminuir a quantidade de emissões. É algo disponível para ser praticado de forma imediata e tem um impacto gigante.
JC – O ônibus híbrido está circulando em alguma cidade?
Armaganijan – Não. O ônibus híbrido é muito novo e estamos apresentando aqui no Pará. É uma solução urbana, mas está em processo de testes. Estamos trabalhando de forma muito intensa para tê-lo disponível no próximo ano.
Ônibus híbrido elétrico/etanol foi apresentado pela Marcopolo na COP em Belém
C.A.S.E./DIVULGAÇÃO/JC
JC – A Marcopolo também está produzindo trens elétricos. Como eles contribuem para a descarbonização do setor de transporte?
Armaganijan – Nós vemos o trem como uma solução alternativa e complementar ao ônibus, são modais que se complementam e se interconectam. Lançamos uma linha turística no Sul do Brasil, depois levamos uma solução para o Chile e ganhamos também um processo para Teresina. É um projeto relativamente novo da empresa, mas é mais uma forma (de contribuir). Quando tiramos pessoas do transporte individual e levamos para um transporte público massivo, sem dúvida, estamos trabalhando em prol da diminuição da emissão de poluentes.
PARALELA
Menos emissão
Estudo da Coalizão dos Transportes, liderada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e divulgado na COP30, aponta que o uso do transporte coletivo pode resultar em até oito vezes menos emissão de CO₂ por pessoa do que o transporte individual motorizado.