É chover no molhado falar sobre a melancólica situação do Estádio Olímpico Monumental, uma sombra depredada quando comparada ao que foi o casarão gremista ao longo de seis décadas. No entanto, o que pode passar despercebido por quem não habita o entorno e costuma circular apenas pelas principais avenidas, é o abandono da região, registrado pelo jornalista Fernando Albrecht em sua coluna Começo de Conversa, no Jornal do Comércio.
Faz mais de 12 anos que o Grêmio jogou pela última vez no Olímpico. Foi contra o Veranópolis, no dia 17 de fevereiro de 2013, que o clube encerrou sua trajetória e foi definitivamente para a Arena. E desde então, ano após ano, moradores e comerciantes sentem cada vez mais o aumento da violência e a desocupação de ruas e praças no entorno.
As avenidas Azenha e Carlos Barbosa não aparentam, já que as lojas e apartamentos seguem, ainda que alguns imóveis descuidados estejam ocupados. Já a rua José de Alencar com a Carlos Barbosa e Azenha, aos fundos do Olímpico e em frente à Grêmio Mania, dentro do complexo, é triste. Por ali, predominam imóveis desabitados com as inúmeras placas de "Vende" e "Aluga-se".
Pinturas gastas, matagal e sujeira dominam o cenário. Um prédio construído há cerca de cinco anos com placas anunciando um "plantão de vendas" pelo corretor da construtora, além das clássicas de imobiliária, escancara a desvalorização da região degradada.
O Espaço Hélio Dourado, um ponto de esquina para tricolores em dias de jogo, em frente ao portão do Olímpico, também está largado. As calçadas destruídas contribuem para o cenário. Morador da rua há 53 anos, desde que nasceu, Alessandro Moura já está cansado de falar sobre o triste capítulo da história da região. "Enquanto não houver a demolição, as promessas não iludem mais", frisa.
A compra da Arena, que agora pertence ao Grêmio, não efetiva a troca de chaves entre o clube e as empresas Karagounis e OAS 26, apesar de o processo já ter começado e estar em fase de negociações.
Ainda na José de Alencar, Moura mostra casas desocupadas com grande potencial para aluguel. Conta que uma das moradoras buscava negociar seu espaço com uma pizzaria, pelo tamanho do terreno, mas as tratativas não andaram pela situação do entorno.
Também afirma que a segurança é precária e os assaltos e roubos de fio aumentaram substancialmente. Fala sobre uma pequena praça na esquina com a Azenha que é ocupada por pessoas em situação de rua e carece de cuidado da prefeitura. "Fica a torcida para que o Olímpico seja demolido e eu possa vender meu apartamento", conclui o morador, descrente pelos anos de abandono do Velho Casarão e sua volta.
Abandono, furtos e prejuízo aos negócios
Para os negócios, a expectativa é a mesma. O proprietário da concessionária Progresso Veículos, Vanderlei Dalberti, tem seu empreendimento há 25 anos na avenida Carlos Barbosa e, gremista de coração, ia a todos os jogos no Olímpico. Para as finanças, relata que o faturamento caiu em 70% desde o abandono do estádio e conta que a violência, por outro lado, decolou.
Mostrou, inclusive, um vidro quebrado da noite anterior em uma tentativa de assalto para roubar os rádios dos veículos deixados no local. Conta que foi preciso contratar seguranças e que mesmo assim as tentativas continuam. A lateral de sua concessionária, na rua Dr. Aurélio Py, está de frente para um muro que leva ao complexo e é utilizado como rota de fuga, explica.
"A região ficou muito abandonada. Ficou muito difícil trabalhar em torno do Olímpico. Fiquei aqui porque a loja é minha há muitos anos, o prédio também é meu. Estou esperando o Grêmio resolver esse problema para voltar à atividade normal”, afirma o empreendedor.
E mesmo com a perspectiva da troca de chaves e da tão aguardada demolição, ainda não há uma data prevista e este é um processo que pode demorar. Mas para quem já está há 12 anos no aguardo, a paciência não parece ser um impeditivo para Dalberti. "Vamos sofrer até terminar essa confusão."
Ele também é crítico à prefeitura de Porto Alegre e afirma que faltou cuidado para evitar que a situação chegasse a este ponto. A Praça Paulo Coelho, em frente ao seu negócio, foi adotada por ele mesmo para evitar os descuidos visíveis em outras áreas e a concentração de pessoas com más intenções, conta, sobre mais um custo para arcar.
Procurada pela reportagem, a prefeitura de Porto Alegre não quis falar e se manifestou através de nota. Já o Grêmio não se manifestou até o fechamento desta matéria, enquanto a próxima gestão do clube, que assume em 2026 encabeçada por Odorico Roman, não quis se pronunciar.
Confira a nota divulgada pela prefeitura
As negociações com todas as partes envolvidas, inclusive com a participação do Ministério Público, seguem em andamento. O objetivo da prefeitura é avançar na solução definitiva para destravar as obras do entorno da Arena e resolver a situação urbanística do antigo Estádio Olímpico, iniciativas que representam intervenções de interesse coletivo para a cidade.
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