A prefeitura de Porto Alegre e a CEEE Equatorial assinaram nesta quinta-feira (6) contrato para implantar dupla alimentação de energia, em caráter exclusivo, nas principais unidades do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). O investimento é de R$ 18 milhões, com execução em até 12 meses, e visa reduzir interrupções em drenagem urbana, captação e tratamento de água e bombeamento de esgoto em períodos de instabilidade na rede. Esse tipo de falha foi um dos principais e mais recorrentes defeitos da infraestrutura da Capital durante a enchente histórica de maio do ano passado.
Serão cerca de 41 quilômetros de rede dedicados ao Dmae e 68 religadores telecomandados para manobras remotas e restabelecimento rápido do fornecimento. Ao todo, 37 unidades operacionais serão atendidas.
No sistema de drenagem, 22 das 23 Estações de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebap) terão fornecimento exclusivo - a exceção é a casa de bombas da Trincheira da Ceará, considerada de menor criticidade e já atendida por gerador.
Também entram no pacote as Estações de Bombeamento de Água Bruta Moinhos de Vento, São João, Menino Deus, Tristeza e Belém Novo, as cinco Estações de Tratamento de Água dessas localidades, a Estação de Bombeamento de Água Tratada São Manoel e o Centro de Controle Operacional (CCO). No esgotamento sanitário, as Estações de Bombeamento de Esgoto Baronesa do Gravataí, Cristal (C2) e Ponta da Cadeia terão redundância elétrica.
“O acionamento é automático: o sistema identifica a falha de um alimentador e entra o outro. Na prática, o impacto na casa de bombas é só uma ‘piscada’ na energia”, afirmou o diretor de Proteção Contra Cheias e Drenagem Urbana do Dmae, Alex Zanoteli. Segundo ele, a solução substitui gradualmente a dependência de geradores - hoje 26 unidades alugadas apenas para drenagem, a um custo anual de cerca de R$ 7 milhões.
“Em bombas de grande porte, o gerador é uma logística quase impensável. Cotamos R$ 3 milhões por 10 dias para manter uma captação; a rede dedicada dá confiabilidade permanente”, disse.
Para a CEEE Equatorial, a automação reduz de forma significativa o risco de desabastecimento, ainda que não o elimine em eventos sistêmicos. “Não zera a possibilidade de falta, mas muda a exposição das estações do Dmae de forma muito agressiva para melhor”, declarou o diretor-presidente, Riberto Barbanera. Ele adiantou que as obras ocorrerão em áreas de grande fluxo e podem exigir intervenções viárias: “Haverá transtornos pontuais para viabilizar um benefício futuro, então precisaremos da compreensão da população”.
Ainda, o Dmae classifica a contratação como um marco para a resiliência do saneamento. “É condição para que novos investimentos entrem em operação de fato, especialmente em áreas de cota baixa que dependem das casas de bombas para escoar após chuvas intensas”, afirmou o diretor-presidente, Vicente Perrone, minutos antes da assinatura do contrato, na manhã desta quinta, no Centro Administrativo Municipal.
A medida integra o conjunto de reconstrução pós-enchente: em maio de 2024, o desligamento preventivo da rede elétrica comprometeu o sistema de drenagem e ampliou a área afetada. “A cidade aprendeu com as crises e está se preparando cada vez mais para enfrentar os desafios climáticos”, disse o prefeito Sebastião Melo. “Estamos falando de mais segurança, planejamento e tranquilidade.”
Durante a execução, prefeitura e concessionária preveem frentes escalonadas, com possibilidade de entregas parciais antes do prazo final - em novembro de 2026. O projeto prevê rede aérea dedicada com proteção para minimizar interferências de vegetação, uma das causas recorrentes de desligamentos.