No dia primeiro de maio de 1962, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foi inaugurado o Zoológico de Sapucaia do Sul. Inicialmente era uma atração popular com animais de diversos continentes, mas, nos dias de hoje, o espaço luta pela sobrevivência da fauna silvestre que abriga.
Até a década passada, a área era administrada pela Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB/RS), que teve a sua extinção aprovada pela Assembleia Legislativa em 2016 e consumada em 2018, com o argumento de racionalizar o uso de recursos públicos. A fundação foi criada em 1972, e ajudava com o apoio financeiro de parcerias privadas para manter o zoológico. Após a extinção, a administração do local foi passada para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema/RS).
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João da Silva, tratador de animais, funcionário há onze anos do zoológico, relata as dificuldades que passa no dia a dia após a transição da administração. Ele exemplifica com o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), que recebe espécies de apreensão e, após os cuidados necessários, é feita a destinação. "Diferentemente da época da Fundação, que era passado um recurso à parte para o Cetas e o zoológico, hoje, é apenas um recurso para ambos, dificultando nosso trabalho".
Sobre a gestão da Sema/RS, Silva aponta que a falta do contato diário com o zoológico prejudica no direcionamento dos recursos. Ele cita a questão do Pix, que gerou repercussão nas últimas semanas. "O zoológico não aceitava esta forma de pagamento, por não termos internet confiável aqui, então, isso vai dificultar na hora do pagamento. Não adianta oferecer o serviço, mas não ter a estrutura".
Outros pontos como reformas no pórtico e em prédios, que ele também considera importante, mas acredita que as prioridades deveriam ser outras, como as modificações estruturais para os animais. "Em determinados momentos, não temos roçadeiras suficientes para realizar os serviços. Recebemos maquinários precários, veículos de outras secretarias que não dão conta das estradas mais brutas", relata o tratador.
Silva ressalta que na época da Fundação havia um conselho, no qual os técnicos interagiam e decidiam o que era melhor para o zoológico. Hoje, o diretor do local define através do que a Sema/RS permite que ele defina, por meio das alternativas apresentadas pela secretaria.
A respeito da rotina com os animais, o tratador diz que faz as manutenções na base da emergência, sem conseguir um planejamento com antecedência. "Às vezes, há demora na compra de alimentação. Não chega a faltar, mas em alguns momentos temos que substituir um alimento de um animal por outro" finaliza.
Hoje, o espaço conta com aproximadamente 80 funcionários para cerca de 120 espécies e em torno de 1.200 animais. Sobre o funcionamento da rotina do trabalho, Silva diz que em alguns setores há baixa mão de obra, com um quadro de profissionais "bem apertado".
Deputada estadual relata condições precárias em áreas internas
A deputada estadual Luciana Genro esteve presente no zoológico recentemente e relata que a parte que o público visita não parece tão ruim, embora pudesse ter melhorias, entretanto, a parte interna é o que está mais abandonada. "No hospital veterinário, eu vi um monte de pássaros que foram resgatados do tráfico de animais, e que aguardam um trâmite para serem devolvidos à natureza ou um espaço mais adequado, mas é uma situação que não se resolve".
Outro exemplo exposto pela parlamentar é de um lobo-guará, que está em um espaço reduzido, no qual abriu uma vala, onde o animal aguarda a transferência para uma área mais adequada. Luciana afirma que foi visto a falta de interesse por parte do governo do Estado em garantir o bem-estar dos animais.
Ela também relatou que se deparou com um esforço dos funcionários em tentar resolver os problemas, mas "com muitas gambiarras". Ela enviou um ofício cobrando as questões que foram identificadas, como a situação do hospital e dos animais que aguardam espaços melhores.
Os funcionários criaram a Associação Zoo Melhor, com o intuito de ajudar o zoológico. Grande parte das manutenções emergenciais são feitas com recursos desse grupo, que capta recursos através de mensalidades e comercialização de brindes.
Em nota, a Sema/RS informa que o "Estado subsidia integralmente os custos com alimentação, medicamentos e tratamentos veterinários, garantindo suporte contínuo às demandas operacionais do parque". Além disso, o governo do Estado destina recursos regulares para aquisição de materiais, melhorias estruturais e ações voltadas tanto ao cuidado com os animais quanto à administração, recepção e atendimento ao público visitante.
Ainda de acordo com a manifestação por nota, a secretaria informa que nos últimos meses "foram iniciadas diversas melhorias no zoológico, incluindo o hospital veterinário e todos os recintos, temporários ou permanentes, são adequados para receber os animais".