A catástrofe das enchentes trouxe ainda mais urgência ao debate sobre sustentabilidade no Estado. A reconstrução é árdua, e um ano e cinco meses depois, ainda há muito a ser feito. Esse foi o norte do evento de divulgação dos projetos selecionados na Teia de Soluções - Resiliência Climática para o RS, promovido pela Fundação Grupo Boticário, nesta segunda-feira (6), no Instituto Caldeira. A iniciativa visa tirar do papel 15 dos 174 projetos ambientais submetidos para avaliação. Também atuam como incentivadores com aportes o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, a Fundação Araucária e o RegeneraRS.
O diretor-presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, salienta que a integração faz a diferença de tudo. Também enfatizou a importância da valorização à ciência. “Cada vez mais quero reiterar a ciência, a pesquisa, a evidência técnica e científica, que são fundamentais”, disse.
Diretor-presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, exaltou a ciência em sua fala
TÂNIA MEINERZ/JC
Os valores foram definidos por cada instituição conforme sua capacidade financeira e os pagamentos não foram centralizados. Alguns já quitaram as pendências, outros estão nos últimos passos. A garantia do diretor Administrativo-Financeiro da Fapergs, Mauro Mastella, é que a implementação dos projetos é para este ano.
Mastella também trata da capacidade das universidades e do setor público de abordar e propor soluções para a crise climática. “Apenas 8,5% dos projetos submetidos foram aprovados. E com uma nota de avaliação muito alta. O que significa que os demais também tinham qualidade e merecem ser contemplados”, explicou. Ele também entende que esta não pode ser uma iniciativa pontual, e sim recorrente. Os recursos devem ser aportados várias vezes para que as ideias saiam do papel e a sociedade avance de fato em pautas sustentáveis de preservação, precaução e recuperação.
Dentre as cidades que receberão algum auxílio, está Estrela, severamente atingida pelas cheias em maio do ano passado — único prédio público que não ficou submerso foi o da prefeitura. Presente na solenidade,a prefeita do município, Carine Schwingel, embargou a voz ao fazer um relato das cicatrizes deixadas pela tragédia.
“Nossas crianças choravam nas creches porque não conseguem lidar com a pressão do que elas viveram. Temos essa dificuldade em reconstruir emocionalmente a nossa cidade. Acredito que isso é o mais importante a trabalhar, porque não tem nenhuma obra física mais importante que a qualidade de vida”, relembrou a prefeita.
O diretor de planejamento do BRDE, Leonardo Busatto, reafirmou que este é um projeto que se iniciou por conta das enchentes e falou sobre o interesse do banco em “ser protagonista como apoiador de iniciativas sustentáveis”. Para tanto, foi criado o Fundo Verde, que é abastecido com 1,5% do lucro do BRDE e está sendo utilizado para financiar estes projetos. Neste caso, o aporte será de R$ 4 milhões.
Confira os 15 projetos apoiados na Teia de Soluções
- Fundação Grupo Boticário
Corredores Bioclimáticos Porta de Torres: auxilia na mitigação e adaptação de espécies humanas e silvestres aos efeitos do clima. Uma estratégia para a região da borda de Torres para proteger a biodiversidade e promover a resiliência climática.
Tecendo Estratégias de Adaptação e Resiliência: apoia gestores públicos e técnicos do Rio Grande do Sul com diagnósticos e projetos piloto para incluir soluções baseadas na natureza no planejamento urbano.
Renascer do Rio Grande: produção de mudas, restauração de áreas degradadas e capacitação de comunidades para prevenir enchentes e regenerar ecossistemas na Bacia do Taquari-Antas.
- BRDE
SBNs Ferramenta de Saneamento e Resiliência: em Nova Santa Rita será implantado um sistema piloto que trata o esgoto de forma mais sustentável com o reuso da água no próprio local.
Resiliência em comunidade tradicional pesqueira: o projeto liderado pela prefeitura de Pelotas busca reduzir os impactos das inundações na Barra de Pelotas, restaurando ecossistemas costeiros, melhorando habitações e fortalecendo a pesca artesanal, o turismo biológico e a qualidade de vida.
Água e economia circular para revitalizar: visa a melhoria hídrica e vai utilizar a fitorremediação para tratar efluentes em bacias hidrográficas rurais.
Caminhos do Rio: o projeto vai implementar infraestruturas verdes nas ruas do bairro Centro, na cidade de Taquari, qualificando o espaço para enfrentar os desafios urbanos.
LAB RUA - Lab. de Resiliência Urbana Avançado: a região, afetada por inundações históricas, alagamentos recorrentes e degradação pós-industrial, enfrenta a vulnerabilidade climática e a fragmentação socioeconômica, além da baixa ocupação territorial e a ausência de organização comunitária. O objetivo é induzir a transformação do Setor Caldeira em um modelo inovador de regeneração territorial.
- RegeneraRS
Sementes da Vida Nova: projeto visa apoiar comunidades periféricas de Porto Alegre no enfrentamento da crise climática por meio da criação de hortas, jardins de chuva e compostagem em espaços públicos.
Tamanduá Caminhos Vivos: apoia a reconstrução de uma comunidade com envolvimento direto dos moradores, promove a restauração ambiental e oferece oficinas e atividades educativas reforçando a força coletiva e a resiliência local.
- Fapergs e Fundação Araucária
Restauração ecológica para a resiliência climática: integra a ciência e comunidades para elaborar o plano de restauração com base no potencial de regeneração natural, qualidade dos ecossistemas e prioridades de ação mapeando zonas prioritárias para restauração ecológica.
SOMA-Mirim: é um sistema integrado de monitoramento ambiental que ajuda gestores públicos e comunidades ribeirinhas a acompanhar, em tempo real, a qualidade da água, do ar e do clima da Lagoa Mirim, gerando alertas e marcos. A solução ajuda na tomada de decisões mais rápidas e conscientes diante das mudanças climáticas.
CLIMATE-AI-SBN: a plataforma educacional apoia escolas públicas na preparação para os efeitos da crise climática, traz trilhas de aprendizagem, simulações e planos de ação com base na natureza.
SACH-J - Sistema de Alerta de Cheias de Jaguarão: combina monitoramento em tempo real e barreiras móveis de contenção para prevenir cheias em Jaguarão.
SbN para resiliência climática na Região Metropolitana de Porto Alegre: propõe corredores ecológicos e ações baseadas na natureza para guiar o planejamento metropolitano com mapas, índices e cartilhas.