Quase um ano e meio depois, o tema das enchentes segue aquecido na pauta do Estado e traz consigo debates e levantamentos para ampliar o conhecimento referente às catástrofes naturais. Com as cheias cada vez mais frequentes, ainda que em magnitudes abaixo do que foi registrado em maio do ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou, nesta segunda-feira (15), a Pesquisa Especial sobre as Enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul (PEERS), na sede da Secretaria Estadual da Fazenda, em Porto Alegre.
O intuito, além de levantar novos dados sobre os danos registrados, é entender a situação da população atingida e o que deveria e ainda deve ser feito para recuperar o padrão de vida anterior à catástrofe. O projeto com o slogan “Responder é Reconstruir” pretende entrar em contato com 34.072 domicílios em 133 municípios afetados, com número telefônico cadastrado no Censo Demográfico de 2022. A divulgação dos resultados está prevista para o primeiro semestre de 2026 e cada residência representa uma entrevista.
A pesquisa terá quatro perguntas norteadoras: As enchentes afetaram a sua casa? Sua qualidade de vida mudou? Os serviços públicos foram interrompidos? O que ainda precisa ser feito? As conversas, no entanto, podem se estender justamente para que as pessoas tenham o espaço e a oportunidade de falar sobre seus casos e angústias vividas no momento de crise.
“Vamos comparar a situação do transporte público e de acesso a serviços como saúde, qualidade da água e energia elétrica para poder subsidiar as políticas públicas e ações preventivas para o futuro”, explica a gerente substituta de Estudos e Pesquisas Sociais do IBGE, Juliana Paiva. Ela também frisa que a pesquisa possui um caráter experimental, já que é inédita no Brasil.
No entanto, é clara a preocupação dos integrantes do instituto com a dificuldade para contatar os entrevistados selecionados. Na base de dados do Censo de 2022, as pessoas escolhidas receberão uma notificação via e-mail ou carta, informando a situação. É preciso salvar o número do IBGE — (21) 2142-0123 — para que ele não seja confundido com telemarketings e afins.
Foi salientada por todos os envolvidos no anúncio a importância da clareza no primeiro contato, considerada a parte mais difícil do processo. O superintendente adjunto do IBGE no Rio Grande do Sul, Luís Eduardo Puchalski, concentrou sua fala em volta do tema, assim como o diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, Vladimir Miranda.
O diretor ainda destaca a expectativa pela nova base de dados. “Nunca fizemos esse tipo de levantamento junto com as pessoas diretamente. Os prefeitos, o governo estadual e o governo federal vão poder se basear para tomar novas ações para evitar que esse tipo de catástrofe tome uma dimensão tão grande”, completa. Já a secretária estadual da Fazenda, Pricilla Santana, enfatiza que “não interessa a dimensão política, e sim os dados para tornar o RS mais resiliente”.
E apesar do enfoque no Estado pela vivência de 2024, a coordenadora de Meio Ambiente da Diretoria de Geociências do instituto, Maria Luísa Pimenta, relata que 66% das cidades brasileiras têm baixa ou baixíssima capacidade adaptativa para desastres geo-hidrológicos. O número, segundo ela, reflete um “despreparo que mostra que a adaptação climática requer ações urgentes diante dos efeitos das alterações do clima”.
Por se tratar de um levantamento inédito, Maria Luísa traz as referências da iniciativa, oriundas de autoridades internacionais. Serão utilizados métodos de pesquisa para tragédias climáticas definidos pelo Banco Mundial e pela Organização das Nações Unidas (ONU). A pesquisa, portanto, não é apenas o retrato de um evento, mas também uma ferramenta para gestão socioambiental, define a coordenadora.