A prefeitura de Porto Alegre estuda transformar as lotações em um serviço complementar do sistema de transporte coletivo. A proposta prevê que os veículos passem a operar como micro-ônibus em horários e trajetos de baixa demanda, em situações em que não compensa a circulação de coletivos de grande porte.
O tema foi trazido pelo vereador Marcos Felipi (Cidadania), que acompanha as tratativas. Segundo ele, o modelo em análise pode garantir sobrevida ao serviço de lotações, que já foi um dos mais valorizados pela população, mas enfrenta risco de desaparecer diante da queda na frota e no número de passageiros. “A ideia é dar nova função às lotações: atuar como transporte público complementar, menos engessado que o atual e mais barato e seguro que os aplicativos”, resume.
Antes da pandemia, Porto Alegre contava com cerca de 400 lotações, divididas por diversas áreas da cidade. Hoje, restam pouco mais de 130. O encolhimento foi provocado pela redução de passageiros, consequência da concorrência com aplicativos de transporte e da ausência de subsídios - que foram concedidos apenas ao sistema de ônibus.
O novo modelo, por sua vez, prevê que as lotações atuem em horários e regiões onde o ônibus não é viável, como no horário de fechamento de bares do 4º Distrito, por volta da meia-noite. “Não justificaria enviar um coletivo de 60 lugares, mas uma lotação com 20 ou 30 passageiros pode suprir a necessidade”, exemplifica Felipi. Situações semelhantes, segundo ele, se repetem em bairros como Sarandi, Menino Deus e Guarujá.
O estudo prevê um projeto-piloto, em que as lotações poderiam ser integradas ao sistema de transporte público, com possibilidade de recebimento de vale-transporte e até de redução da tarifa. Hoje, a passagem custa R$ 8,00. Com subsídio municipal, semelhante ao concedido aos ônibus, o valor poderia cair para cerca de R$ 7,00, segundo o vereador.
Projeto em análise
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) confirmou, em nota, que o conceito está em estudo desde 2022 e encontra-se em estágio avançado. A proposta, batizada de Sistema de Transporte Complementar Experimental, prevê início em caráter piloto de 12 meses, com possibilidade de ampliação.
De acordo com a autarquia, permissionários que aderirem poderão se organizar em consórcios, seguir tabela horária definida pelo município e oferecer informações em tempo real aos usuários, via aplicativo com GPS. As rotas e horários serão definidos como suplementares ao transporte por ônibus.
A EPTC destacou que o novo sistema “não se trata do atual transporte por lotação, mas de um modelo completamente diferente”. A autarquia não respondeu, porém, se já foram identificadas regiões e horários prioritários, nem se haverá subsídio, redução tarifária ou integração ao cartão TRI.
Para comerciantes e permissionários, a adoção de um modelo complementar representa chance de revitalização do serviço. “A volta da lotação para áreas centrais é um pedido antigo. Se o sistema desaparecer, é provável que surjam alternativas informais, como vans ou novos aplicativos, mais difíceis de regulamentar. Aproveitar a estrutura já existente é uma saída inteligente”, afirma Felipi.
Os primeiros detalhes sobre operação e eventuais mudanças de tarifa serão divulgados após análise da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), da EPTC e do Centro de Controle Operacional de Transportes (CCOt).