Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 21 de Agosto de 2025 às 18:19

Entre danças, tecidos e textos, gaúcha completa 101 anos de vida

'Com toda essa idade, esse aqui é o primeiro aniversário com essa festividade toda', destaca Marlene Garcia Barreto

'Com toda essa idade, esse aqui é o primeiro aniversário com essa festividade toda', destaca Marlene Garcia Barreto

Jamil Aiquel/JC
Compartilhe:
Luana Pazutti
Luana Pazutti
“Mãe terra, quantas vezes já vivi em teu grande berço? Já fui e voltei. Nunca vim para ficar para sempre. Creio que, desta vez, é a primeira vez que me demoro tanto. Desta vez, fiquei dormindo em berço esplêndido e não vi que envelheci”, escreveu Marlene Garcia Barreto em abril de 2025. 
“Mãe terra, quantas vezes já vivi em teu grande berço? Já fui e voltei. Nunca vim para ficar para sempre. Creio que, desta vez, é a primeira vez que me demoro tanto. Desta vez, fiquei dormindo em berço esplêndido e não vi que envelheci”, escreveu Marlene Garcia Barreto em abril de 2025. 
A gaúcha, nascida em Encruzilhada do Sul, pode até não ter vindo para ficar para sempre. Mas, certamente veio para viver uma “vida bem vivida”. Com uma trajetória marcada pela costura e pela escrita, Marlene completou 101 anos na última terça-feira (19). A data foi celebrada com uma festa especial, rodeada de afeto e samba, no Asilo Padre Cacique, onde reside desde o início deste ano. 
“Com toda essa idade, esse aqui é o primeiro aniversário com essa festividade toda. Eu comemorava com bolinho, com meia dúzia de parentes. Uma festa assim é a primeira vez”, disse a aniversariante, que jamais imaginou viver mais de um século. Para ela, que sempre gostou de escrever, a emoção desse momento não cabe em palavras.
Marlene se mudou para Porto Alegre na década de 1940. Na sequência, foi morar no Rio de Janeiro, onde trabalhou como costureira para atrizes e celebridades durante 15 anos. “Vesti a mulher do Chacrinha e a cantora Wanderléa. Mas, foi há pouco tempo que descobri o que é alta costura. É quando a costura é bem arrematada por dentro”, explica. 
A paixão pela moda surgiu ainda na infância, quando vestia suas bonecas. Mais tarde, começou a fazer as suas próprias roupas até que ingressou na alta costura.  Nesse meio tempo, as linhas e agulhas se misturaram às tramas da vida real, e Marlene descobriu o gosto pela escrita. Foi aí que começou a compartilhar suas histórias em uma série de diários. “Eu tenho um caderno dessa grossura”, disse, enquanto gesticulava com as mãos sugerindo um grande número de páginas. 
Quando se trata dos planos para o futuro, a centenária coloca a escrita no topo da lista. “Ainda tenho muito o que escrever. Uma amiga me deu um caderno novo e disse que quer ele cheio”, completa. As memórias que preencherão essas páginas já tem um endereço marcado.
As próximas histórias se passarão no Asilo Padre Cacique, que ocupa um espaço especial no coração da centenária. "Sou muito feliz. Eu acho difícil ter um outro lugar que seja igual a esse. Pode ser parecido, mas igual ao Padre Cacique eu acho que não existe", destaca.
Alegria para viver e partilhar
Para Marlene, a idade avançada não guarda segredos nem mistérios. Mas, também não parece ser fruto do acaso. “Eu só acho que talvez eu tenha sido gerada com muito amor, porque eu não fiz nada pra isso”, afirma a centenária. 
Esse amor de família, que foi transmitido de geração em geração, não passa despercebido nas palavras de seu irmão, Sebastião Garcia Santos, de 92 anos. “Ela é formidável, é tudo pra mim, é a minha vida, né? A alegria que ela tem é tudo que a gente precisa”, explica. 
Com uma jornada dividida em capítulos bons e outros nem tanto, a centenária destaca que nunca se sentiu infeliz. Embora tenha conhecido a tristeza, o bom humor sempre pesou mais na balança. “Ela é muito brincalhona. Nunca vi ela brava. Ela é muito alegre com tudo”, diz Antônio Carlos dos Santos Krautheim, de 70 anos, que se autointitula como “o sobrinho preferido” da Marlene.
No início de 2025, a costureira se mudou para o Asilo Padre Cacique. E bastaram seis meses para que a leveza da nova vizinha se tornasse um consenso entre os moradores
A abelha-rainha 
“Uma abelha comum vive 72 dias. Uma abelha rainha vive 7 anos. A abelha rainha representa tudo na colmeia. E a Marlene representa tudo para nós com essa idade”, afirma Martinho von Muhlem, de 81 anos. Para ele, que reside no asilo há três anos, a breve convivência com a amiga já foi suficiente para ter certeza de que a sua longevidade vai além de uma coincidência do destino.
Não foi à toa que dedicou os seus votos à aniversariante durante a celebração. “Se Deus a empreendeu e a conservou nesta vida, certamente não foi por esquecimento e nem por acaso. Sua simples presença é um constante testemunho em , de vida e de amor, minha abelha rainha”, declarou.
Martinho, que quer chegar aos cem anos, encontrou em Marlene Garcia Barreto um exemplo de alguém que sabe viver intensamente. “Dançando do jeito que ela dança? Eu não tenho dúvidas disso!”, exclamou. E é assim - entre danças, tecidos e textos - que a gaúcha coleciona não apenas um século de vida, mas sim, uma eternidade de histórias e afetos
 

Notícias relacionadas