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Publicada em 28 de Julho de 2025 às 19:43

Estudo aponta epidemia generalizada de HIV na Grande Porto Alegre

Uso correto e regular de preservativos é uma das melhores formas de prevenir a doença

Uso correto e regular de preservativos é uma das melhores formas de prevenir a doença

CRISTINE ROCHOL/PMPA/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Um estudo coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento revelou que a prevalência do HIV na Região Metropolitana da Capital ultrapassa o limiar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para caracterizar uma epidemia generalizada. Realizada entre 2020 e 2022, a pesquisa envolveu mais de 8 mil pessoas em todo o Rio Grande do Sul e estimou que 1,64% dos adultos da Grande Porto Alegre vivem com o vírus - índice 64% acima do limite de 1% adotado como referência internacional.
Um estudo coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento revelou que a prevalência do HIV na Região Metropolitana da Capital ultrapassa o limiar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para caracterizar uma epidemia generalizada. Realizada entre 2020 e 2022, a pesquisa envolveu mais de 8 mil pessoas em todo o Rio Grande do Sul e estimou que 1,64% dos adultos da Grande Porto Alegre vivem com o vírus - índice 64% acima do limite de 1% adotado como referência internacional.
"É um número muito elevado. Isso significa que, a cada 50 pessoas, uma vive com HIV. Para uma doença infecciosa, essa taxa é altíssima", afirma a epidemiologista Eliana Wendland, coordenadora do estudo. Por outro lado, enquanto a média nacional gira em torno de 0,7%, a prevalência no Interior do Estado é de 0,5%, três vezes menor que na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Trata-se de um dos primeiros inquéritos sorológicos sobre HIV com base populacional feito no Brasil. Os pesquisadores visitaram residências e aplicaram testes rápidos, o que permite inferência estatística para toda a população adulta. Os dados mostram que a maioria dos casos está concentrada em pessoas de 30 a 49 anos, especialmente entre a população negra, com menor escolaridade e em situação de vulnerabilidade social.
"Mesmo assim, é uma epidemia sustentada na população geral, não restrita a grupos específicos. Se nada for feito, esses números tendem a crescer ainda mais rapidamente e se espalhar", alerta Eliana. Para ela, são urgentes campanhas amplas de prevenção, principalmente através do uso de preservativos, testagem e enfrentamento do estigma. "Muita gente ainda não se testa por medo do diagnóstico. Estimamos que um terço das pessoas que vivem com HIV não sabe da própria condição."
A prefeitura de Porto Alegre, no entanto, adota uma leitura cautelosa dos dados. Daila Raenck, coordenadora municipal de Atenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis, reforça que o estudo, ainda não publicado oficialmente, foi conduzido durante a pandemia de Covid-19, o que pode afastar sua aplicação imediata à realidade atual. "É uma pesquisa importante, mas precisa ser contextualizada. Nas políticas públicas, trabalhamos com os dados oficiais do Ministério da Saúde, baseados em notificações feitas pelas equipes de saúde. É assim que temos segurança das nossas ações", explica.
Segundo o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2024, Porto Alegre teve, em 2023, a maior taxa de detecção do vírus em gestantes no Brasil: 16,2 casos por mil nascidos vivos, quase cinco vezes acima da média nacional (3,3). Apesar disso, a transmissão vertical (da mãe para o bebê) segue controlada, com taxa inferior a 2% desde 2021, dentro da meta da OMS. "O Ministério da Saúde já iniciou o processo de validação da eliminação da transmissão vertical na cidade", afirma Daila.
Outro avanço apontado pela gestora é a queda no coeficiente de mortalidade por HIV/Aids, que passou de 24 para 14 óbitos por 100 mil habitantes entre os anos anteriores e 2023. "A morte é o pior desfecho possível de uma epidemia. Reduzi-la mostra que o cuidado está funcionando", avalia. Ainda assim, ela reconhece que a Capital enfrenta muitos diagnósticos tardios, o que compromete o início do tratamento em tempo adequado.
De acordo com o painel do Ministério da Saúde, Porto Alegre tem 27.497 pessoas notificadas com HIV. Dessas, 22.789 estão em uso de antirretrovirais - 83% dos vinculados ao cuidado. Entre os que aderem ao tratamento, 94% apresentam carga viral indetectável, ou seja, não transmitem mais o vírus. O desafio agora é garantir a continuidade do tratamento: atualmente, o Brasil ainda não atinge a meta de manter 95% dos pacientes em acompanhamento regular.
Ampliando o debate, o Rio Grande do Sul como um todo segue entre os estados mais afetados. Em 2023, teve a segunda maior taxa de HIV em gestantes e a quinta maior taxa de detecção de Aids no País. Foram registrados 7.619 novos casos de HIV e 801 notificações de crianças expostas ao vírus, número superado apenas por São Paulo. A taxa estadual de detecção de HIV (25,1 por 100 mil habitantes) segue acima da média nacional (21,8). Apenas 46,2% dos casos de Aids, contudo, foram registrados no sistema principal de notificação, o Sinan.
 

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