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Publicada em 24 de Julho de 2025 às 20:40

Sistema de alerta no Guaíba consegue antecipar cheias

Outras sete operações devem ser incorporadas nos próximos meses

Outras sete operações devem ser incorporadas nos próximos meses

/BRENO BAUER/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Com tecnologia desenvolvida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e operação assumida pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), entrou em funcionamento no final de junho o primeiro Sistema de Alerta Hidrológico (SAH) da bacia do Guaíba. A iniciativa marca uma mudança estrutural na prevenção de desastres climáticos na Região Metropolitana de Porto Alegre, permitindo a previsão de inundações com até uma semana de antecedência, um avanço significativo frente às 12 horas de horizonte oferecidas pelos sistemas anteriores.
Com tecnologia desenvolvida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e operação assumida pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), entrou em funcionamento no final de junho o primeiro Sistema de Alerta Hidrológico (SAH) da bacia do Guaíba. A iniciativa marca uma mudança estrutural na prevenção de desastres climáticos na Região Metropolitana de Porto Alegre, permitindo a previsão de inundações com até uma semana de antecedência, um avanço significativo frente às 12 horas de horizonte oferecidas pelos sistemas anteriores.
O SAH foi concebido após a enchente histórica de maio de 2024, quando mais de 180 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas no Rio Grande do Sul. Na ocasião, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Ufrgs assumiu voluntariamente a responsabilidade de gerar previsões de cheias para o Guaíba. Agora, com financiamento federal e coordenação do SGB, a tarefa passa a integrar uma política pública oficial.
"A partir de agora, temos uma instituição federal, oficial, assumindo de forma consistente a previsão hidrológica da bacia do Guaíba. É uma ação que o IPH vinha fazendo de forma voluntária e que agora ganha um novo patamar", resume Fernando Meirelles, professor do Instituto.
O projeto foi viabilizado por um crédito emergencial de R$ 4 milhões da Casa Civil e uma emenda parlamentar de R$ 500 mil do senador Paulo Paim (PT). Com esses recursos foi possível não apenas desenvolver os modelos de previsão, mas também recuperar e ampliar a rede de monitoramento hidrometeorológico do Estado, especialmente nas bacias do Caí, Taquari, Jacuí, Sinos e Gravataí.
"O sistema já está em operação e foi liberado ao público emergencialmente durante o evento de chuva do final de junho. Começamos com previsão para Porto Alegre, mas a meta é atender ao menos 20 municípios até o fim de 2026", afirma Emanuel Duarte, chefe da Divisão de Hidrologia Aplicada do SGB.
Na prática, o sistema utiliza dados em tempo real das estações de monitoramento, somados a previsões meteorológicas, para alimentar o modelo hidrológico MGB — uma tecnologia nacional desenvolvida pelo IPH. O modelo transforma os dados de chuva prevista em vazão e, depois, em nível dos rios, com destaque para pontos críticos como a Usina do Gasômetro.
A cobertura atual já contempla 33 estações com transmissão automática de dados, e outras sete devem ser incorporadas nos próximos meses. As informações estão disponíveis ao público no site do SGB (sgb.gov.br/sace), onde é possível consultar os níveis dos rios em tempo real, registros de chuva e boletins com a previsão para os próximos dias.
Além do avanço tecnológico, o sistema representa uma resposta institucional a uma lacuna histórica no monitoramento da bacia do Guaíba. Até então, apenas as bacias do Caí, Taquari e Uruguai contavam com previsão hidrológica. A inclusão da região de Porto Alegre — responsável por cerca de 30% do território do Estado — preenche uma área crítica ainda desassistida. Para Meirelles, a operação oficial do sistema não diminui o papel da universidade no futuro. Pelo contrário: "seguimos desenvolvendo pesquisa, aprimorando os modelos e fornecendo apoio técnico. A diferença é que agora as previsões saem com o selo do SGB, o que dá mais autoridade e amplitude ao sistema".
A expectativa é de que o sistema contribua para decisões mais ágeis por parte das defesas civis municipais e estadual, ampliando o tempo de resposta para evacuações, proteção de infraestruturas e salvamento de vidas. Ainda assim, o especialista alerta: os modelos hidrológicos dependem fortemente da qualidade das previsões meteorológicas. E, para funcionar em sua plenitude, o sistema exige integração com outras iniciativas de monitoramento, como a Sala de Situação do Estado.
O custo de operação anual da rede de monitoramento é de cerca de R$ 1 milhão. Até o momento, os municípios atendidos são Porto Alegre, Lajeado, Estrela, Muçum, Encantado, Montenegro e São Sebastião do Caí. Até o final do ano que vem, cidades como Taquari, Gravataí e São Leopoldo também serão contempladas.
 

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