A prefeitura de Porto Alegre retomou nesta terça-feira (8) as obras nas comportas do sistema de proteção contra cheias da Capital. Interrompidas há quase três semanas devido à elevação do nível do Guaíba, as intervenções agora concentram esforços na comporta 8, localizada no dique da avenida Castelo Branco, nas imediações do Cais Navegantes. A previsão é de que todo o conjunto de obras, iniciado após a enchente histórica de maio do ano passado, esteja concluído até o primeiro trimestre de 2026.
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A comporta 8 será completamente extinta e substituída por uma barreira definitiva em concreto armado. "Essa passagem não tem função de mobilidade, não dá acesso a veículos e a pedestres. Então, por critérios técnicos, decidimos fechar completamente com concreto, como já fizemos em outras passagens da Mauá", explica Vicente Perrone, diretor-executivo do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). A intervenção deve durar cerca de 30 dias.
A obra marca a retomada do cronograma das intervenções, que envolvem 14 comportas. Desde o fim de maio, quando as obras começaram, sete passagens já foram atendidas: três foram fechadas definitivamente (3, 5 e 7) e quatro passaram por revisão e melhorias na vedação (1, 2, 4 e 6). Com o reinício dos trabalhos, a previsão é concluir os fechamentos definitivos das comportas 8, 9, 10 e 13 nos próximos quatro a seis meses. Na sequência, serão substituídos os portões 11, 12 e 14, com conclusão estimada entre oito e dez meses.
As intervenções fazem parte de um pacote de obras no valor de R$ 11 milhões, com recursos do município. Além da requalificação das comportas, a prefeitura projeta novas casas de bombas e obras de micro e macrodrenagem.
O prefeito Sebastião Melo afirma que os investimentos são indispensáveis para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. "Estamos melhores hoje do que estávamos antes da enchente, mas o desafio ainda é enorme. Só as obras nas comportas não bastam. Precisamos também de sistemas eficientes para tirar a água da cidade quando ela entra, e isso envolve bombas, redes de drenagem e grandes investimentos", defende.
O prefeito reconhece que o período entre a enchente e a conclusão das obras não é o ideal, mas afirma que todos os trâmites legais foram seguidos, o que demandou um maior tempo. "Na gestão pública, você só pode fazer o que a lei permite. Não é possível contratar obra de um dia para o outro. Mesmo assim, estamos conseguindo avançar com segurança e qualidade técnica", afirma.
Fora do sistema de comportas do Cais Central, áreas como a Zona Sul da cidade seguem vulneráveis. Nesses casos, a prefeitura estuda a construção de diques provisórios, novas casas de bomba e outras soluções emergenciais, enquanto aguarda recursos para obras permanentes. "O estudo que contratamos contempla uma proteção que vai do Cristal até o Lami. Já pedi à equipe técnica que priorize os trechos mais sensíveis. Talvez, no bairro Guarujá, possamos instalar uma bomba provisória e elevar a calçada, mas tudo isso depende de dinheiro", diz Melo.
O prefeito também voltou a defender o debate técnico sobre dragagem e desassoreamento do Guaíba. Embora reconheça que essa atribuição é do Estado e da União, ele afirma que a retirada de areia pode ser parte da solução. "É preciso debater com base em estudos e dados, e não no achismo. Precisamos de um consenso técnico entre a academia, os gestores e a sociedade sobre o que fazer com o nosso sistema hídrico", declarou.