Na manhã desta segunda-feira (19), o governo do Rio Grande do Sul decretou emergência em saúde pública com foco na prevenção e enfrentamento da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que tem atingido, principalmente, o público infantil.
A medida foi adotada com o objetivo de fortalecer a rede hospitalar, com a preparação e disponibilização de leitos de UTI e suporte ventilatório, devido ao expressivo aumento de casos da doença, que resultou em uma alta demanda nos serviços de emergência. O decreto deverá ser publicado na manhã desta terça-feira (20) e terá uma duração de 120 dias.
De acordo com dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), o RS registrou neste ano mais de 4 mil hospitalizações por SRAG, com 305 casos evoluindo para óbito. Outro dado preocupante é o número de casos em crianças menores de cinco anos: foram registradas 1.374 internações e dez mortes. As causas destas internações variam, mas casos de influenza (gripe), Covid-19, vírus sincicial respiratório (VSR) já foram registrados.
Segundo a Dra. Valèrie Kreutz, coordenadora do Núcleo de Pediatria do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a medida emergencial é justificada, porém, de maneira isolada, não resolve o problema.
A medida foi adotada com o objetivo de fortalecer a rede hospitalar, com a preparação e disponibilização de leitos de UTI e suporte ventilatório, devido ao expressivo aumento de casos da doença, que resultou em uma alta demanda nos serviços de emergência. O decreto deverá ser publicado na manhã desta terça-feira (20) e terá uma duração de 120 dias.
De acordo com dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), o RS registrou neste ano mais de 4 mil hospitalizações por SRAG, com 305 casos evoluindo para óbito. Outro dado preocupante é o número de casos em crianças menores de cinco anos: foram registradas 1.374 internações e dez mortes. As causas destas internações variam, mas casos de influenza (gripe), Covid-19, vírus sincicial respiratório (VSR) já foram registrados.
Segundo a Dra. Valèrie Kreutz, coordenadora do Núcleo de Pediatria do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a medida emergencial é justificada, porém, de maneira isolada, não resolve o problema.
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“A medida é um ato desesperado do momento em que nós estamos, com carência de profissionais adequados em todo o sistema de saúde. O que vem acontecendo na última década no Brasil como um todo, foi a mudança da maneira de contratação dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBS), que começou com a deturpação da estratégia de saúde da família, há 20 anos atrás. Para os gestores, acaba sendo mais barato trocar os médicos especializados por clínicos gerais. Esse projeto de saúde da família foi criado para ajudar e para ampliar o acesso à saúde, porém, foi deturpado e hoje estamos criando crianças sem acesso a pediatras”, afirma.
Valèrie destaca que a falta de acesso da população à pediatras é um problema sistêmico e grave, e que, se nada for feito, crises como a que estamos vivendo tendem a aumentar.
“O pediatra é aquele especialista na fase mais importante da vida. Ele dá todo o suporte para a família entender como lidar com a criança, as necessidades desse indivíduo, a prevenir comportamentos que podem dar problema mais tarde, e ter um desenvolvimento saudável. Ele é quem está com esse olhar de vigilância, correção, promoção, proteção. Esse sinal ficou perdido e agora, o que estamos vivendo, nada mais é do que a gota que faz derramar. Isso vai ser cada vez mais frequente se a gente não modificar essa maneira de ver”, pondera
Outro ponto que preocupa a pediatra é a alta no número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave nesta fase do ano. Quadros de doenças respiratórias tendem a se agravar no inverno, porém, neste ano, tivemos uma alta no número de ocorrências antes da estação mais fria do ano.
“A gente nem está no inverno ainda. Nós nem tivemos temperaturas frias e já estamos assim, então imagina quando o frio chegar. Hoje temos visto que estamos com um déficit tão grande em termos de leito, de estrutura e falta de profissionais adequados, que já está tendo dificuldade em ver aquela sazonalidade que víamos. Estamos tendo casos graves desde janeiro e fevereiro”, lamenta.
Além disso, Valèrie afirma que existem outros motivos para o aumento exacerbado no número de casos. A superlotação das emergências e a falta de acompanhamento no início da doença são alguns deles.
“Tem muitos casos de pacientes que normalmente não iriam para as emergências, pois teriam os cuidados na UBS. São pacientes que talvez não tivessem ficado graves se tivessem sido cuidados nas unidades de saúde. A gente sabe que tem um efeito pós-Covid, de ter ficado de todo aquele tempo que ficou sem circular vários tipos de vírus, mas isso já diminui bastante. Também estamos tendo mais acessos a diagnósticos que não tínhamos antes. Mas o principal é a falta de acompanhamento lá no começo, para que esses casos não sejam agravados”, destaca.
“A medida é um ato desesperado do momento em que nós estamos, com carência de profissionais adequados em todo o sistema de saúde. O que vem acontecendo na última década no Brasil como um todo, foi a mudança da maneira de contratação dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBS), que começou com a deturpação da estratégia de saúde da família, há 20 anos atrás. Para os gestores, acaba sendo mais barato trocar os médicos especializados por clínicos gerais. Esse projeto de saúde da família foi criado para ajudar e para ampliar o acesso à saúde, porém, foi deturpado e hoje estamos criando crianças sem acesso a pediatras”, afirma.
Valèrie destaca que a falta de acesso da população à pediatras é um problema sistêmico e grave, e que, se nada for feito, crises como a que estamos vivendo tendem a aumentar.
“O pediatra é aquele especialista na fase mais importante da vida. Ele dá todo o suporte para a família entender como lidar com a criança, as necessidades desse indivíduo, a prevenir comportamentos que podem dar problema mais tarde, e ter um desenvolvimento saudável. Ele é quem está com esse olhar de vigilância, correção, promoção, proteção. Esse sinal ficou perdido e agora, o que estamos vivendo, nada mais é do que a gota que faz derramar. Isso vai ser cada vez mais frequente se a gente não modificar essa maneira de ver”, pondera
Outro ponto que preocupa a pediatra é a alta no número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave nesta fase do ano. Quadros de doenças respiratórias tendem a se agravar no inverno, porém, neste ano, tivemos uma alta no número de ocorrências antes da estação mais fria do ano.
“A gente nem está no inverno ainda. Nós nem tivemos temperaturas frias e já estamos assim, então imagina quando o frio chegar. Hoje temos visto que estamos com um déficit tão grande em termos de leito, de estrutura e falta de profissionais adequados, que já está tendo dificuldade em ver aquela sazonalidade que víamos. Estamos tendo casos graves desde janeiro e fevereiro”, lamenta.
Além disso, Valèrie afirma que existem outros motivos para o aumento exacerbado no número de casos. A superlotação das emergências e a falta de acompanhamento no início da doença são alguns deles.
“Tem muitos casos de pacientes que normalmente não iriam para as emergências, pois teriam os cuidados na UBS. São pacientes que talvez não tivessem ficado graves se tivessem sido cuidados nas unidades de saúde. A gente sabe que tem um efeito pós-Covid, de ter ficado de todo aquele tempo que ficou sem circular vários tipos de vírus, mas isso já diminui bastante. Também estamos tendo mais acessos a diagnósticos que não tínhamos antes. Mas o principal é a falta de acompanhamento lá no começo, para que esses casos não sejam agravados”, destaca.
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Por fim, a especialista afirma que o problema é complexo, mas que existe uma necessidade urgente de rever a maneira como a saúde familiar é pensada no Brasil. Segundo ela, aumentar os leitos na emergência é como “colocar um curativo”, e que a melhor maneira de resolver o problema é por meio da prevenção.
“A solução é rever o modelo de atendimento. E a maneira que o fundo de financiamento da saúde é usado. Nós temos que fazer esse financiamento de uma maneira que garanta especialistas básicos dentro dos postos de saúde. É preciso ter contato com a população para que os casos não se agravem, assim, eles não precisam chegar na emergência, porque nós nunca vamos conseguir ter uma emergência grande o suficiente”, destacou.
Por fim, a especialista afirma que o problema é complexo, mas que existe uma necessidade urgente de rever a maneira como a saúde familiar é pensada no Brasil. Segundo ela, aumentar os leitos na emergência é como “colocar um curativo”, e que a melhor maneira de resolver o problema é por meio da prevenção.
“A solução é rever o modelo de atendimento. E a maneira que o fundo de financiamento da saúde é usado. Nós temos que fazer esse financiamento de uma maneira que garanta especialistas básicos dentro dos postos de saúde. É preciso ter contato com a população para que os casos não se agravem, assim, eles não precisam chegar na emergência, porque nós nunca vamos conseguir ter uma emergência grande o suficiente”, destacou.