Com data de retorno ainda incerta na manhã desta segunda-feira (10), a suspensão da volta às aulas da rede estadual alterou a rotina de pais, alunos e profissionais que atuam nessas escolas. Por um lado, a preocupação era com a exposição desse contingente ao calor extremo previsto para os próximos dias no Rio Grande do Sul. De outro, famílias que estavam programadas para o retorno das férias ficaram sem saber como se organizar à nova agenda.
A decisão veio após a decisão do Tribunal de Justiça gaúcho (TJ/RS) acatar, no domingo (9), pedido do Centro dos Professores Estaduais do RS (Cpers Sindicato) para adiamento do retorno às salas de aula devido ao prenúncio de temperaturas acima dos 40º, com picos no início desta semana.
Na análise do pedido, a desembargadora Lúcia Cerveira considerou que a falta de condições de inúmeras escolas gaúchas “é gritante”, pela falta de equipamentos de ventilação e bebedouros, e acrescentou um outro aspecto a ser levado em conta. “Inúmeras crianças e adolescentes, bem ainda, professores e demais funcionários, precisam se deslocar a pé, ou por transporte público, em meio a temperaturas altíssimas conforme previsto”, diz na decisão.
A secretaria da Educação recorre da decisão por diversas razões. Entre elas, o fato de que, segundo a titular da pasta, Raquel Teixeira, a decisão abrange todos os colégios da rede, mas há pelo menos 633 escolas (de um total de 2.320) equipadas com aparelhos de ar-condicionado.
Além disso, ela argumenta que 42% dos estudantes estão em condição de vulnerabilidade, aos quais o governo busca dar a segurança necessária ao bem-estar de estudantes, professores e funcionários. Por isso, a secretaria emitiu um ofício que orienta as escolas a mudarem a alimentação para a inclusão de frutas e alimentos favoráveis à hidratação. “Várias escolas já estão com essa merenda preparada. Tenho recebido fotos de diretores com muitos litros de água na geladeira“, destaca Raquel.
A presidente do Cpers, Rosane Zan, explica que o adiamento já vinha sendo debatido com a gestão estadual ainda antes da previsão da massa de ar quente ingressar no RS, pois “estava inconsonante com as da rede municipal”. Entretanto, o alerta meteorológico (MetSul) fez com que medidas mais urgentes fossem tomadas.
“A gente entende a situação de pais que estavam programados, precisam trabalhar e não têm onde deixar seus filhos, mas também estar em uma sala de aula apinhada, com 30, 40 alunos, isso é insalubre. Isso também é uma questão de adequação e de responsabilidade do Estado”, afirma a dirigente.
Em frente ao Colégio Júlio de Castilhos, uma placa anuncia o adiamento
Maria Amélia Vargas/Especial/JC
Segundo Rosane, nem todas as escolas da rede estadual equipadas com condicionadores têm um sistema de energia adequado para suportar vários aparelhos ligados ao mesmo tempo. Esse é o caso do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Em frente à instituição, a diretora da instituição, Paola Ribeiro, mostra uma placa de liberação de R$ 3 milhões de projetos do governo do Estado para obras de infraestrutura que não teriam ainda “saído do papel”.
“Esse valor pressupõe toda a reforma, inclusive da parte elétrica para a inclusão de um plano de climatização, mas o valor ainda está na mão da construtora, que não repassa para as empreiteiras contratadas. Cadê esse dinheiro, que é verba pública? Não tem um centavo na escola que a gente não preste contas, cadê essa prestação de contas desse valor?”, cobra a diretora.