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Publicada em 16 de Maio de 2024 às 14:38

Moradores reclamam da demora para volta da luz em Porto Alegre

Na rua José do Patrocínio, a luz ainda não voltou na quadra em frente à Praça Garibaldi

Na rua José do Patrocínio, a luz ainda não voltou na quadra em frente à Praça Garibaldi

THAYNÁ WEISSBACH/JC
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Luciane Medeiros
Luciane Medeiros Editora Assistente
O fornecimento de energia ainda não foi normalizado em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Na manhã desta quinta-feira (16), segundo levantamento divulgado pelo governo do Estado, cerca de 240 mil pontos seguiam sem luz - 112.488 na área atendida pela CEEE Equatorial e 124.400 na área da RGE Sul.
O fornecimento de energia ainda não foi normalizado em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Na manhã desta quinta-feira (16), segundo levantamento divulgado pelo governo do Estado, cerca de 240 mil pontos seguiam sem luz - 112.488 na área atendida pela CEEE Equatorial e 124.400 na área da RGE Sul.
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Em Porto Alegre, moradores de diferentes bairros ainda enfrentam o problema. No Centro Histórico, onde diversas ruas estão tomadas pela cheia do Guaíba, a energia foi cortada. Porém, em pontos onde a água não chegou, a luz ainda não voltou, afetando a vida de moradores e comerciantes.

É o caso de Sedenir José Sartori, proprietário do minimercado SC, na rua dos Andradas n° 327. Para poder reabrir, ele alugou um gerador, retomando a atividade na segunda-feira (13) após dois dias de organização e limpeza. “Estamos sem luz desde o dia 30 de abril. A água voltou na segunda-feira. A luz é muito interessante. Como a Equatorial não consegue resolver um problema no Centro de Porto Alegre e deixar tanto tempo a gente sem energia?”, questiona.
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Sartori diz que diversos moradores precisaram deixar suas casas devido à falta de luz, até em pontos onde a água do Guaíba não chegou, como no mercado dele. Todas as mercadorias que dependiam de refrigeração foram perdidas.

Na Cidade Baixa, a falta de luz na rua José do Patrocínio, em frente à Praça Garibaldi, também causa estranheza, uma vez que no espaço já voltou a energia. A professora Wali Petry mora em um edifício na frente da praça e está sem luz desde o dia 6 de maio. “Saí de casa no dia 11 em função do alagamento na rua e voltei no dia 13 porque a rua estava seca. A previsão teoricamente é que voltaríamos a ter luz. Voltei, mas hoje, dia 16, ainda não tenho luz, não tenho água e o telefone preciso sair para carregar”, conta.

Segundo Wali, a água que havia invadido a Praça Garibaldi já baixou e à noite o local está iluminado, mas o “pedacinho” da José do Patrocínio entre a Venâncio Aires e a Olavo Bilac está todo sem luz. No prédio onde mora são 8 andares, cada um com 4 apartamentos, e há vários idosos que enfrentam dificuldades para se locomover já que os elevadores estão fora de operação. Sem energia não é possível bombear a água para as caixas na cobertura, causando mais esse problema.

“Fico até sem graça de reclamar pela situação de outras pessoas, só que o fato da luz aqui é inexplicável. Todo mundo está fazendo protocolo, mas não se consegue falar com ninguém da CEEE Equatorial, só com ‘máquina’. Tem luz na praça, a praça estava toda alagada e aqui está seco, não subiu a água”, indaga Wali.

A reportagem do Jornal do Comércio entrou em contato com a CEEE Equatorial em busca de esclarecimentos. A assessoria de imprensa informou que uma entrevista coletiva será realizada na tarde desta quinta-feira para explicar sobre os trabalhos de reparo no serviço, mas até a publicação desta reportagem não foi confirmado o horário.

No caso do Centro Histórico, onde em parte das vias a fiação é subterrânea, a demora para o retorno do serviço deve-se ao fato de que as redes foram tomadas pela água. “Normalmente as redes subterrâneas são protegidas contra água e seus equipamentos e cabos podem ficar submersos, isso não seria um problema. Porém, como a altura da água superou os quadros de energia de cada residência, e também as instalações em subestações e postes, esses itens do sistema de energia podem ter sido danificados e precisarão ser trocados ou consertados”, avalia Juliano Gonçalves, engenheiro eletricista e Head da Divisão de Cabos Megger Brazil.

Gonçalves, que tem mais de 25 anos de experiência no mercado de energia, dos quais 10 foram na AES Eletropaulo, compara a situação na região do Centro Histórico de Porto Alegre com a de um quadro de energia em uma casa cheio de lama e sujeira. “Muito provavelmente será necessário substituir alguns itens como disjuntores, por isso um diagnóstico elétrico precisará ser feito. O mesmo vale para os terminais de cabos de tensão mais alta em subestações, também precisarão de avaliação”, diz.

Religar o sistema enquanto houver água pode trazer vários riscos, entre eles o de mortes por eletrocussão, curtos circuitos que danificarão a rede e até incêndios nas partes que não estão submersas, por isso o procedimento não é recomendado. “O tempo necessário para religamento da rede deverá ser longo. Há uma força tarefa específica para as redes subterrâneas na qual outras concessionárias enviaram equipamentos e profissionais e certamente levarão semanas para cobrir todo o sistema”, explica o engenheiro eletricista. À medida que os testes forem realizados e comprovarem a segurança, a rede poderá ser religada.

As redes de energia são planejadas não somente geograficamente, mas também por capacidade de carga. Os circuitos elétricos trabalham com equilíbrio entre as cargas, e por isso pode ocorrer que em uma mesma rua um lado seja alimentado por um circuito e o outro lado por um diferente, o que pode explicar a situação vivida pela moradora da rua José do Patrocínio em frente à Praça Garibaldi. “Isso foi necessário para o equilíbrio das cargas, para que um circuito não fique sobrecarregado, ou para que seja possível transferir parte dos consumidores de um circuito para outro quando um deles falha”, detalha Gonçalves.

Nos elementos das redes de energia que operam acima de 1.000 volts, o que compreende toda a rede em postes e subestações, os diagnósticos e testes devem ser realizados após uma limpeza desses elementos, que não podem ser colocados em operação com lama ou outros elementos presos a elas. “Somente depois dessa limpeza é que deverão ser realizados os testes”, recomenda o especialista.

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