As quadras de areia, as três pracinhas com brinquedos e espaços para crianças do trecho 3 da Orla do Guaíba, em Porto Alegre devem ser liberadas novamente ao público neste sábado (9). A medida ocorre após interdição provocada por um laudo parasitológico da Unisinos, que detectou a presença de larvas e ovos de parasitas. O novo laudo declarou os locais próprios para uso. A Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude de Porto Alegre (Smelj) atribuiu descontaminação ao calor, enquanto o laboratório discorda.
Na época em que as quadras estavam contaminadas, foram coletadas amostras com presença de larvas de Strongyloides stercoralis e de ovos de Taenia sp. Como já foi apurado pela equipe do Jornal do Comércio, esses parasitas podem causar danos a saúde relacionados ao intestino como dores abdominais e diarreia e relacionados ao sistema respiratório, no caso das larvas e cisticercose para ingestão de ovos de Taenia Sp .
Segundo a secretaria Smelj, foi coletado novas amostras no dia 22 de fevereiro, cujo resultado foi apresentado nesta quinta-feira (07). O órgão relata que não há mais presença desses parasitas, nem coliformes fecais ou bactérias acima do nível seguro, e atribui a causa ao clima seco e quente que seguiu assolando a capital após a contaminação inicial. Por outro lado, o coordenador das análises parasitológicas do estudo, Victor Valiatti, definiu a questão como “especulação” por parte da prefeitura.
Ele explica que é muito difícil atribuir a descontaminação à raios UV. Isso porque, segundo ele, todo laudo tem um recorte temporal e espacial, então tudo que ele pode atestar é que as quadras 10 (futebol de areia), 19 e 26 (vôlei de praia, futevôlei e beach tennis) não estão mais contaminadas nesse momento, não sendo as causas uma abrangência de seu laudo.
Apesar disso, complementa Valiatti, que mesmo a enchente pode não ser a única causa possível e, por isso, a área necessita de uma vigilância recorrente. Ele argumenta que o Rio Guaíba é uma possível fonte, já que recebe esgoto não tratado. Porém, “Aqueles vermes podem ter vindo em decorrência das enchentes como podem ter vindo das pessoas que circulam naquele local”, relata. E complementa ainda que, como foi feito análises somente da areia, e não do Guaíba naquela época, não se pode atestar que essa é a fonte.
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Diante disso, o profissional recomenda “um plano, com um programa em que tenha um processo bem estabelecido de monitoramento da higienização desses locais. Então deve ser feito análises constantes”. Valiatti cita como exemplo análises mensais ou bimensais. Isso porque vermes aparecerem ou não presentes nas análises é uma questão amostral. Portanto, “só vai saber se permanece para o uso se tiver monitoramento”, como acontece normalmente para balneabilidade de praias, por exemplo.