Um estudo realizado pelo Hospital Moinhos de Vento, em parceria com o Ministério da Saúde, mostra a elevada incidência de sífilis em Porto Alegre. Conforme os dados do levantamento SIM – Saúde, Informação e Monitoramento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), realizado entre 2021 e 2023, a taxa de casos da doença na capital gaúcha foi de 3,74%, o que representa 1.870 casos a cada 100 mil pessoas por ano. Os resultados foram apresentados nesta segunda-feira (11).
No período, foram feitos 10.878 testes de sífilis, HIV e hepatites B e C, a maioria em mulheres (55,7%). A testagem ocorreu em uma unidade móvel em áreas de grande circulação, como o Centro Histórico e o Parque da Redenção. Além dos testes, os participantes respondiam a um questionário.
Nos casos em que o resultado da testagem deu positivo para sífilis reagente (quando já houve contato com a sífilis ou o vírus está ativo), foi coletado sangue para confirmação do diagnóstico e aplicada primeira dose de penicilina já no local.
O percentual de testes rápidos reagentes para sífilis foi de 14,3% - 1.559 pessoas das 10.878 que participaram do estudo tiveram resultados reagentes positivos. O grupo foi procurado pela equipe da pesquisa para realização de coleta de sangue, sendo que 1.053 pessoas passaram pela segunda etapa, que teve 543 exames positivos. Alguns resultados foram discordantes e as amostras foram submetidas ao teste TPHA, mais específico, que indicou 407 casos de sífilis ativa em Porto Alegre, número considerado elevado.
“Encontramos taxas muito altas de sífilis na população de Porto Alegre. Quando se compara com o Boletim Epidemiológico nº 86, da Secretaria Municipal da Saúde, com índices de 135,5 casos a cada 100 mil habitantes em 2021, e de 52,7 em 2022, o estudo SIM encontrou 1.870 casos por 100 mil habitantes. É um número bastante significativo, que mostra o quanto ainda não diagnosticamos a sífilis. O que vemos nos boletins é só uma ponta do iceberg”, destaca a investigadora principal do SIM, a médica epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento Eliana Wendland.
A pesquisa evidencia que a sífilis tem relação com a classe social. A maioria dos casos ocorre em homens, autodenominados pretos ou pardos, das classes C ou D-E, com menos de 45 anos, separados, divorciados ou viúvos. “O uso de preservativo foi extremamente baixo entre os positivos – somente 9% disseram usar”, destaca Eliana. Como o diagnóstico de sífilis é cumulativo ao longo dos anos, as taxas de infecção entre pessoas com mais de 60 anos é alta, representando 19,3% dos testes rápidos reagentes.
Entre os participantes do estudo, apenas 51% completaram o tratamento, que é simples e consiste em apenas uma dose de penicilina benzetacil, que pode ser aplicada em qualquer unidade básica do Sistema Único de Saúde (SUS).
As outras doenças que foram investigadas no estudo SIM tiveram percentuais menores nos testes rápidos reagentes: HIV, de 2,8%; hepatite C, de 2,6%; e hepatite B, de 0,3%. Dos participantes do estudo, 293 (2,78%) tiveram teste rápido reagente positivo para HIV. Eles foram submetidos a um segundo teste, para analisar a carga viral do vírus. No total, 131 (1,21%) das pessoas estão com carga viral de HIV ativa – ou seja, não estão fazendo nenhum tipo de tratamento.
Para hepatite C, dos participantes do estudo, 290 (2,678%) tiveram teste rápido reagente positivo para hepatite C. Para saber a carga viral, é necessário fazer um exame adicional. No total, 81 (0,74%) das pessoas estão com carga viral de hepatite C ativa.
No caso da hepatite B, somente 36 (0,34%) pessoas tiveram o teste rápido reagente positivo. A análise da carga viral foi feita em 31 indivíduos, e foi detectada a carga viral ativa para hepatite B em 28 (0,26%) dessas pessoas.