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Publicada em 27 de Novembro de 2023 às 12:15

Prevenção de desastres exige articulação regional, diz prefeito de São Sebastião do Caí

Júlio César Campani, prefeito de São Sebastião do Caí, alega que ainda não há planejamento estratégico para prevenção de catástrofes dessa magnitude

Júlio César Campani, prefeito de São Sebastião do Caí, alega que ainda não há planejamento estratégico para prevenção de catástrofes dessa magnitude

São Sebastião do Caí/Divulgação/JC
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Lívia Araújo
Lívia Araújo
Ainda que defenda que a enchente que atingiu 80% da área do município de São Sebastião do Caí na tempestade que aconteceu em 17 de novembro tenha sido um “fato absolutamente isolado”, o prefeito do município, Júlio César Campani (PSDB), aponta a necessidade de uma articulação regional entre os municípios da região para a elaboração de uma política conjunta de prevenção de desastres que mude a situação atual.
Ainda que defenda que a enchente que atingiu 80% da área do município de São Sebastião do Caí na tempestade que aconteceu em 17 de novembro tenha sido um “fato absolutamente isolado”, o prefeito do município, Júlio César Campani (PSDB), aponta a necessidade de uma articulação regional entre os municípios da região para a elaboração de uma política conjunta de prevenção de desastres que mude a situação atual.
(Ainda) não existe planejamento estratégico que possa ser feito para prevenir os efeitos catastróficos que as enchentes trouxeram”, admite. Para o chefe do Executivo, uma solução futura deve envolver a participação de “algum especialista do governo do Estado, ou do governo federal, para que eles nos digam o que seria possível fazer, tecnicamente, para minimizar os impactos de uma catástrofe como essa que estamos enfrentando”, acredita.
Em entrevista ao Jornal do Comércio (leia a íntegra abaixo), Campani relatou que ainda há cerca de 500 pessoas fora de casa na cidade, entre desalojados e desabrigados, que estão sendo amparados em ginásios municipais e pela doação de diversos itens. “Precisamos agora de cestas básicas e colchões de solteiro e casal”, pontua.
O prefeito ainda espera a liberação de R$ 600 mil do governo do Estado, voltado para municípios em situação de calamidade pública – o decreto de São Sebastião do Caí foi assinado em 18 de novembro -, além de contar com recursos extras quando houver o reconhecimento do decreto pelo governo federal. Além disso, a prefeitura irá iniciar a análise para cadastramento dos moradores no aluguel social ou para serem beneficiados no programa Minha Casa, Minha Vida, voltado a situações de calamidade.
Doações de donativos como cestas básicas devem ser direcionados ao Salão Paroquial da Igreja São Sebastião, com acesso pela rua Mal. Floriano Peixoto, Centro, entre 8h às 17h; já colchões e móveis devem ser levados à Rua Pinheiro Machado, 625, no Centro de São Sebastião do Caí, das 8h às 18h.
Além disso, a prefeitura disponibilizou uma chave Pix para doações em dinheiro: CNPJ 88370879000104.

Jornal do Comércio – Passados dez dias da grande chuva que atingiu o município, qual a situação atual?
Júlio Campani - O Rio Caí já retornou para seu leito e estamos, desde a última segunda-feira (20), em uma verdadeira operação de guerra para limpar a cidade. Nós ficamos com praticamente 80% da cidade debaixo da água. Muitas famílias, muitas residências foram afetadas e as pessoas perderam praticamente tudo. O pessoal aproveitou e fez de novo a limpeza das residências nesse fim de semana, que teve tempo bom. Com a ajuda de várias equipes, inclusive do Exército, nossa expectativa é que talvez até a próxima sexta-feira (1), se não tivermos nenhuma intercorrência de chuva, a gente consiga já resolver o problema da limpeza. E, afora isso, estamos ainda recebendo doações em termos de cestas básicas, colchões e móveis, já recebendo o cadastro de pessoas que necessitam desses itens e iniciando a distribuição.
JC – Na questão das doações, do que o município está precisando agora?
Campani – De cestas básicas e colchões de solteiro e casal. Só isso. Roupas, material de limpeza, roupa de cama, já recebemos o suficiente.

JC – Qual é o número atual de pessoas desalojadas e desabrigadas?
Campani - Nós tínhamos, até sexta-feira (24), quase 500 pessoas entre desalojados e desabrigados, mas todos acolhidos nos nossos ginásios de esporte. Mas ontem já começou um movimento de retorno às casas, e vamos, ao longo do dia, atualizar esse número.
JC – Qual será o processo para as pessoas cujas residências não terão condições de ser reocupadas?
Campani – Em um primeiro momento, faremos uma análise de quem são essas pessoas, quem de fato é aqui do Caí ou não, ou por que vieram para cá. Segundo, teremos que disponibilizar o aluguel social. Teremos que ver quais imóveis estão disponíveis para serem locados, e colocar as suas famílias em uma condição digna de moradia. Eu devo ter uma reunião com a Caixa Econômica Federal na terça-feira (28) para tratarmos daquele programa Minha Casa Minha Vida Calamidade. Parece que são recursos a fundo perdido. Talvez pensando uma possibilidade de construção de casas populares assim para abrigar essas pessoas. Mas o certo é que estamos atentos, nossa Secretaria de Assistência Social está trabalhando, nós não deixaremos ninguém desassistido. Faremos todo o esforço possível para acolher e abraçar todos que necessitem.
JC – Com o decreto de calamidade pública, qual a expectativa da prefeitura de valores à disposição e no prazo de liberação? Qual o andamento?
Campani - O governador esteve conosco na segunda-feira passada, fez um sobrevoo, e ele anunciou que governo do Estado vai disponibilizar R$ 600 mil para os municípios em situação de calamidade fundo a fundo. Nosso decreto de calamidade já foi homologado pelo governo do Estado, falta só homologação pelo governo federal. Nós já encaminhamos a documentação para o governo do Estado, para receber com a maior celeridade possível esses R$ 600 mil. Em nível federal, recebi a visita do assessor especial do ministro Paulo Pimenta (PT) na sexta-feira, do ex-prefeito de Taquari e ex-presidente da Famurs, Maneco Hassen (PT), juntamente com o deputado estadual Miguel Rossetto (PT), e também temos a possibilidade de recursos da Defesa Civil nacional. Mas tudo isso são tratativas, são documentos que têm que ser enviados, com uma parte burocrática que tem que ser observada. Mas o fato concreto é que, até esse momento, ainda não recebemos nenhum recurso. Tem apenas uma semana, tem toda uma tramitação de documentos. Mas eu estou muito esperançoso de que tanto o governo do Estado quanto o governo federal venham nos ajudar.
JC - São Sebastião do Caí sempre teve problemas com inundações. Com o registro do aumento de ocorrências graves decorrentes do clima, como o município está pensando em políticas de longo prazo para prevenção e adaptação a desastres, tanto no nível administrativo e estrutural, mas também no individual, de preparação?
Campani - São duas situações bem distintas. Primeiro, quando existe a situação de cheia, um anúncio de que teremos uma cheia, nós fazemos um trabalho preventivo. A cota de inundação do Rio Caí é 10,5m. Quando chega nos 9m, nós já temos uma determinação de evacuação das zonas ribeirinhas e retirada da família. Então esse trabalho prévio nós fizemos sempre. Justamente para evitar maiores problemas. Mas essa enchente de agora, a exemplo do que ocorreu no Vale do Taquari, três meses atrás, e com uma reincidência... foram fatos absolutamente isolados para os quais não existe planejamento estratégico que possa ser feito para prevenir os efeitos catastróficos que as enchentes trouxeram. Aqui, sobrou só o centro da cidade que é elevado, a prefeitura, a praça, a igreja. As demais residências onde nunca se imaginou que pudessem entrar, tiveram água. Então assim, não existe, por mais que tu queira se planejar, não existe nada aí. Não existe técnicos que possam dizer que a gente fosse chegar a tal nível.
JC – Mas o intervalo de ocorrências extremas vem diminuindo.
Campani – É um tema delicado, que mexe com a sensibilidade das pessoas. Não se pode fazer política vazia em cima disso, mas obrigatoriamente, os municípios envolvidos, no meu entendimento, devem sentar e buscar uma orientação técnica, porque não é possível mitigar esse problema das cheias, cada um trabalhando de uma forma isolada. Isso é um trabalho conjunto. Um plano mitigatório tem que ser feito em conjunto com todas as prefeituras. A gente tem pela frente um trabalho muito cauteloso, com técnicos, pessoas entendidas, né? Não é assim no achismo que nós vamos resolver isso.
JC – E já está havendo algum início de articulação regional para endereçar essa questão?
Campani - Não, ainda não houve esse movimento. Na verdade, estamos iniciando um movimento sobre a estrada estadual, a ERS-124, que passa por São Sebastião do Caí, Harmonia, Pareci Novo e Montenegro. Para o lado de Pareci Novo, do outro lado do Rio, ela teve uma elevação na sua construção que serva como uma espécie de barreira. A cota de inundação dessa rodovia é quando o rio chega a 12,5m. Então isso já causou muitos estragos aqui no Caí. Então teremos uma agenda nesta semana com o governo do Estado, para fazer nessa rodovia algumas galerias que escoem a água para as várzeas que temos aqui, que são enormes. É um processo mais imediato que poderia auxiliar na questão. Mas, de resto, temos de reunir todos os municípios envolvidos e trazer algum especialista do governo do Estado, ou do governo federal, para que eles nos digam o que seria possível fazer, tecnicamente, para minimizar os impactos de uma catástrofe como essa que estamos enfrentando.
JC – Existe também o caso de preparar a população para futuras evacuações em cenários como o que ocorreu agora?
Campani – Tem aqui, próximo do Centro, um bairro de classe média alta, com casas boas, em que aconteceu de entrar um metro de água dentro de casa. Lógico que esse pessoal tem condições de ir para a residência de familiares, não precisa tanto do auxílio da prefeitura. Mas, quando se fala em evacuação, o município nem tem pernas para isso, diante de um desastre dessa magnitude. É um trabalho que tem de ser feito, tem de ser pautado obrigatoriamente, mas, repito, não é algo para ser pautado só por um prefeito ou município.

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