O Ambulatório Trans Centro de Porto Alegre completa quatro anos de atendimento nesta quinta-feira (31). A primeira unidade específica para o público transexual da Capital já atendeu cerca de 1,8 mil pessoas, com acolhimento integral para homens e mulheres transexuais e travestis.
Há um ano, o atendimento é feito no Centro de Saúde Santa Marta (rua Capitão Montanha, 27, 1° andar - Centro Histórico). Vinculado à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o ambulatório disponibiliza consultas, exames, hormonização, grupo de convivência, acolhimento e encaminhamentos.
A equipe é composta por médicas de família e comunidade, enfermeira, psicólogo, assistente social, técnico em enfermagem, recepcionista e residentes multiprofissionais das áreas de saúde coletiva e saúde mental. Integram ainda o programa de atendimento estagiários de diversas áreas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Projetos de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) ofertam atendimentos em fonoaudiologia e em práticas integrativas e complementares em saúde.
• LEIA MAIS: Com duas unidades, Ambulatório Trans acompanha mais de 1,6 mil pessoas na Capital
Um dos profissionais que atende no local é o técnico de enfermagem Fabrício da Luz, que integra a equipe fixa do ambulatório há um ano. "É muito importante ter uma equipe fixa no ambulatório. Eu faço a parte de dispensação de medicação e de aplicação. Se não tem um técnico, fica muito difícil para o atendimento", explica.

O técnico de enfermagem Fabrício Souza da Luz está há um ano no ambulatório. Foto: Maria Welter/Especial/JC
Ele conta que é gratificante poder atender à população trans de forma que se sintam acolhidas e de maneira gratuita. "Uma grande parcela dessa população não tem condições de pagar por um tratamento, justamente porque a realidade, muitas vezes, é de não conseguir emprego e de ter dificuldade de entrar no mercado de trabalho", relata.
Para celebrar os quatro anos de história, uma programação especial foi realizada nesta quinta, com apresentação musical, roda de conversa, sarau, realização de exames, orientações jurídicas e de trabalho.
Presente na comemoração, a coordenadora da Diversidade Sexual e de Gênero da Secretaria de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, Maria Odete Bento, destacou que pretende propor políticas públicas com foco na população transexual e travesti. "Temos os nossos gostos políticos, cada um tem o seu, mas as nossas políticas transcendem os políticos e para isso estamos unidos", afirma.
A chefe do Departamento de Diversidade Sexual da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do RS, Glória Crystal, ressaltou a importância de espaços como o ambulatório para o acolhimento da população. "A população trans é a que mais sofre segregação, muitas vezes tentam nos invisibilizar – a maioria das vezes. Vivemos em um País onde a expectativa de vida de uma travesti ou de um homem trans é de 35 anos", alerta.
Já o diretor Estadual Diversidade Sexual, Dani Morethson, destacou as iniciativas do governo do Estado na criaçao de ambulatórios regionais. Além dos já inaugurados em Santa Maria, Pelotas e Canoas, ele conta que o governo planeja ter 14 unidades regionais, sendo sete especializados no processo transexualizador, destinado ao atendimento clínico e psicossocial de pessoas trans.
Lucca Rodrigues, 27 anos, vai ao ambulatório há cerca de um ano. Ele afirma que frequentava a rede privada para atendimento de saúde em Santa Maria, antes de se mudar para Porto Alegre, mas que se sente melhor com o atendimento que tem hoje. "Fui melhor acolhido aqui do que com minha médica particular, tanto é que deixei de ser acompanhado lá e passei tudo para o SUS, achei muito melhor", conta Lucca.
Em Porto Alegre, a população trans e travesti também pode buscar atendimento no Ambulatório T Zona Sul, inaugurado em abril de 2022. Ele funciona na Clínica da Família Álvaro Difini, bairro Restinga, nas sextas-feiras, das 8h30min às 12h30min.