A 17ª edição do Congresso do Ensino Privado (Sinepe-RS), que acontece entre os dias 19 e 21 de julho, na PUCRS, em Porto Alegre, vai reunir diversos profissionais da educação para debater as oportunidades e os desafios do setor. Uma das palestrantes é a mestre em Educação e Head de Cursos Híbridos e Metodologias Ativas do Centro Universitário de Maringá (PR), Thuinie Daros. Na quinta-feira (20), ela irá refletir, junto à plateia, sobre experiências memoráveis na aprendizagem. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Daros afirmou que “cuidar da experiência do estudante e potencializar ao máximo as suas possibilidades deve ser o foco do professor.” Ela também avaliou o novo currículo do ensino médio, as novas tecnologias, como inteligência artificial, e a importância da neurociência e das metodologias ativas no aprendizado.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Jornal do Comércio - No Congresso, tu irás abordar experiências memoráveis de aprendizagem. Pode explicar esse conceito?
Daros - Quando a gente fala em 'memorável', às vezes, as pessoas ficam preocupadas, acham que o termo está relacionado ao decorar, memorizar. Mas memorável vem de célebre, de notável, de “digno” de ficar na memória, de ser inesquecível. Para isso, as experiências de aprendizagem precisam perpassar pelo relacional, pelo cognitivo e pelo emocional, é uma tríade que vai gerar o aprendizado de fato, ou seja, que vai fazer o estudante guardar o ensinamento na memória por um longo prazo, pois ele vai criar o que a gente chama de repertório.
JC- Qual o primeiro passo para desenvolver esse repertório na educação?
JC- Qual o primeiro passo para desenvolver esse repertório na educação?
Daros - O primeiro passo é entender melhor como funciona o cérebro. A neurociência contemporânea é essencial para entender que o estudante é capaz de aprender uma quantidade significativa de conhecimento. No entanto, para ele ter uma experiência memorável, o professor precisa saber sobre o processo da neuroplasticidade, que é a grande capacidade de adaptação que o cérebro tem, resultante de interações com as diferentes experiências e ambientes. O cérebro acaba aprendendo a se reprogramar. Aprender é um grande triunfo da nossa espécie, e a sala de aula acaba sendo uma das invenções humanas mais relevantes, justamente porque é nela que a gente desenvolve, hoje, todo esse potencial cerebral.
JC -E como é possível aprender uma quantidade significativa de conhecimento que tenha sentido e qualidade na vida do aluno?
Daros - O que dá qualidade ao conhecimento é o movimento do pensamento, através dos inputs e outputs. Para isso, precisamos falar das metodologias ativas. Elas são capazes de gerar mais qualidade nesse movimento do pensamento e de fortalecer as rotas de pensamentos existentes. É por isso que o estudante é capaz de aprender por toda a vida. Ele aprende e continua produzindo, e para isso precisa ter o processo de input e output.
JC - O que são input e output?
JC - O que são input e output?
Daros - Input é quando o estudante recebe o conhecimento, ele processa e gera fortalecimento das rotas de pensamento. Output significa que isso precisa sair dele. Tem que praticar em alguma situação. Se ele só receber, só ficar ouvindo, ele não consegue fazer todo o processo. E aí a experiência não fica memorável, não gera repertório.
JC - Quais são os exemplos de metodologias ativas?
Daros - As metodologias ativas são uma espécie de percurso metodológico, uma sequência didática que se baseia no estudante como centro do processo. O professor vai ter a intencionalidade educativa de gerar, por meio de estratégias pedagógicas, ação e a reflexão, fazendo o estudante assumir protagonismo. A partir disso, o professor consolida o conceito, ou o conhecimento.
JC - Além do funcionamento do cérebro, o que mais é necessário para gerar experiências memoráveis?
Daros - É preciso estabelecer vínculos com os estudantes. Dentro do conjunto da experiência de aprendizagem, o professor precisa ter dinâmicas que são capazes de gerar vínculo. E o vínculo não é só emocional, mas a conexão com o conteúdo. Então, é quando o educador faz uma problematização, quando ele traz uma pergunta relevante, quando ele ouve esse estudante. Já o emocional, é como o estudante se sente durante o processo. Pesquisas mostram que muitos estudantes não se sentem pertencentes aos ambientes que estão inseridos e, portanto, em metodologias ativas, em que ele vai ter que ter o processo output, ou seja, ele vai ter que praticar alguma estratégia, como fazer uma apresentação, colocar a mão na massa, se ele não se sente pertencente, a experiência se torna sofrida.
JC - Tu atuas na formação de professores, muitos que irão dar aulas no ensino básico. Achas que o novo ensino médio contempla as metodologias ativas?
Daros - Quando eu olho para os itinerários formativos e vejo o poder de escolha dos alunos, o currículo mais contemporâneo, eu me identifico. Do ponto de vista do currículos, daquilo que você vai colocar para o estudante aprender eu sou super favorável, eu entendo que os estudantes vão ganhar muito com esse processo, porque vai acabar gerando experiências muito mais ativas, com currículos mais atualizados.
JC - Para isso ser aplicável, precisa de uma mudança na formação superior dos professores?
JC - Para isso ser aplicável, precisa de uma mudança na formação superior dos professores?
Daros - Sim. Acho que a formação de professores precisa sofrer uma mudança significativa no seu modelo. É preciso fazer mapeamento de tecnologias, identificação das competências e trazer metodologias mais ativas no processo de formação, formar professores inspirados. Por isso, eu acredito numa formação de professores diferenciada, afinal, ninguém desenvolve no outro aquilo que não é desenvolvido em si mesmo. Como que eu vou ter professores empreendedores, inovadores, criativos, se eu não estou garantindo isso na formação? Acredito que é preciso ter formação continuada, além da inicial.
JC - Inteligência Artificial e ensino. Como tu avalias esse momento histórico?
Daros - O professor precisa entender que a inteligência artificial é uma assistente inteligente dele. Ela tem recursos poderosos para ajudar o docente a ganhar tempo, tanto no seu processo de planejamento das aulas, quanto nas estratégias que vão fazer com que o estudante desenvolva uma atividade mais crítica. Uma das minhas defesas é que precisamos, além de dominar essa tecnologia, saber desenvolver a mentalidade criativa dos estudantes para que eles possam explorar as potencialidades do recurso, existem até profissões que vão surgir dessa tecnologia. Tem que dominar, não tem outro caminho.
JC - As metodologias ativas podem gerar mais inclusão?
Daros - Sim, como o professor das metodologias ativas precisa ser multimodal, acaba contemplando mais pessoas, inclusive pessoas com necessidades educacionais especiais. É um desafio, mas, ao mesmo tempo, a gente tem muito mais recurso para o professor, então a questão é conhecer, mapear tecnologias assistivas, dominar e entender a necessidade do estudante e fazer as adaptações. É direito do estudante aprender e de ser assistido em sua necessidade.
JC - Gostarias de acrescentar algo?
Daros - O principal na educação, hoje, é cuidar da experiência do estudante e potencializar ao máximo as suas possibilidades. Esse deve ser o foco do professor. E aí para isso ele vai acabar percorrendo um conjunto de estratégias bastante interessantes. O maior ativo do professor da contemporaneidade é o conjunto de recursos e de estratégias que ele possui porque o conhecimento ele vai se tornando obsoleto muito rápido.
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