As reclamações sobre a mobilidade urbana são frequentes entre os cidadãos de Porto Alegre. Ruas estreitas, com carros estacionados dos dois lados, prejudicam o fluxo de quem trafega por muitas vias da Capital. Já os pedestres, convivem com a insegurança de calçadas irregulares, a escassez de faixas de segurança para atravessar, ou, ainda, o pouco tempo em alguns semáforos.
Leitores do Jornal do Comércio enviaram reclamações referentes a algumas ruas de mão dupla, em que o estacionamento é permitido dos dois lados. Sendo, assim muitos carros não conseguem transitar com fluidez nas vias e, quando há um veículo maior, como ônibus ou caminhão, interrompe a passagem.
Foram citadas avenidas como a Capivari, na Zona Sul, e General Netto, na região central, e de ruas como Luis Luz, Passo da Pátria e Curvelo, na Zona Norte e São Manoel, Inácio Montanha e Barão de Santo Ângelo, na região central, entre outras.
A engenheira de tráfego e gerente de planejamento da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Aline Trindade, explica que da lista de vias apresentadas, apenas a rua Luis Luz, na Zona Norte, tem problemas de conhecimento do órgão.
A rua era sem saída até a construção de um novo prédio na rua Anita Garibaldi, após a obra, passou a ter fluxo de passagem na via. "No momento em que deixou de ser sem saída, mudou a característica da rua e o estacionamento precisa efetivamente ser proibido de um dos lados, tanto que é o que está sendo feito pelo próprio empreendedor".
A situação na rua São Manoel, no bairro Santana, também é comentada por Aline. "Por muito tempo ela era de mão dupla, e funcionava, mas se optou, em consenso com a população do local, por transformar uma das quadras em mão única". A equipe da EPTC avaliou que devido a grande quantidade de bares e restaurantes no local, retirar um lado de estacionamento, seria mais prejudicial. O órgão também pede para que os cidadãos façam as suas reclamações pelo formulário hospedado no site ou pelo telefone geral da prefeitura 156.
O arquiteto e urbanista Anthony Ling afirma que a questão a ser pensada é como usar a rua, um lugar que é escasso e valioso, da melhor maneira possível. "O espaço público é de todo mundo e o automóvel é um bem privado de uso exclusivo, ele ocupa muito espaço, que é concedido quase que indiscriminadamente."
Na questão de estacionamento em vias públicas, ele defende que devem ser reservadas algumas vagas para pessoas com dificuldades de locomoção, mas o resto deve estacionar em locais pagos, ou então, no mínimo, em uma Área Azul.
Para Ling, as cidades estão sendo pensadas apenas para os carros, o que fica evidente com as construções de viadutos, que tem um custo muito alto e demorado. Isso além da questão estética e de mobilidade. "É a coisa mais desagradável do planeta e basicamente mata tudo ao redor. Além de não ter como atravessar a pé e nem de bicicleta". Uma alternativa de cidade pensada para a população, e não para os carros, é o metrô.
Contudo, na visão do urbanista, seria difícil implementar em Porto Alegre, mais por questões políticas do que técnicas. "Outra ideia que eu gosto é de adotar vans ao sistema de transporte, como se fazia nos anos 1980", diz Ling. Contudo, a pressão das empresas de ônibus acabou com isso. O resquício dessas vans, seria a lotação.
Em Porto Alegre, a EPTC realiza fiscalização das vias, enquanto quem planeja a circulação é a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU).