O decreto do governo do Rio Grande do Sul, publicado na última sexta-feira (29) no Diário Oficial da União, que
torna obrigatório o retorno presencial das aulas em toda rede de educação básica a partir de 8 de novembro, gerou debates entre médicos e a comunidade escolar sobre o quão adequado é este retorno no atual momento do ano e da pandemia. Entre os argumentos a favor da medida, está o fato de que os alunos já acumulam um prejuízo de aprendizagem muito grande. Por outro lado, muitas escolas não têm estrutura para garantir a segurança sanitária dos alunos e funcionários.
“O decreto deveria ser bom para 100% da comunidade escolar. Alguns colégios estão muito bem organizados, mas essa não é a realidade de todos. Tem escolas que não têm água, sabonete, espaço para manter distanciamento e nem a ventilação adequada”, afirma o médico pediatra da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), José Paulo Ferreira. Ele pontua que essas medidas de segurança ainda são necessárias. “Crianças abaixo dos 12 anos ainda não foram vacinadas, então elas são mais suscetíveis. A única forma de proteção dessas crianças é através do uso de máscara, higienização de mãos e do distanciamento”, complementa. O retorno será para as escolas da rede pública e privada e para todos os anos, desde a educação infantil até o ensino médio.
O médico aponta que, com a vacinação, o número de casos de Covid-19 no Rio Grande do Sul reduziu bastante. Para ele, esse é um dos fatores que colaboram com o retorno, desde que com a segurança necessária. “Os colégios que já tinham condições de voltar com as aulas presenciais, já voltaram porque as pessoas se sentiram seguras. Não precisou de decreto. Mas atrás de uma obrigatoriedade tem a condição de quem obriga garantir o mínimo necessário para a segurança dos alunos”, ressalta.
A presidente do Cpers/Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, porém, acredita que não é um bom momento para essa medida. “Nós temos tido, nesses últimos dias, informes de contaminação de professores e alunos nas escolas. E veja bem, ainda não retornaram todos”, conta. Para ela, a decisão é preocupante porque os problemas estruturais das escolas ainda não foram resolvidos, dificultando a garantia de segurança nesses ambientes. “O que foi realizado pelo estado do RS para melhorar a condição das escolas?”, indagou o médico infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Alexandre Zavascki, contrário à medida, indagou, em seu perfil pessoal no Twitter, na última quinta-feira (28).
Zavascki também questionou, na rede social, a pressa em tornar esse retorno obrigatório agora, sem o planejamento adequado. “Crianças que tiveram adaptação de quase dois anos ao ensino remoto terão de retornar de pronto para atividades presenciais em salas lotadas e mal ventiladas no momento mais decisivo do ano letivo”, publicou. Para Helenir, o prejuízo do aprendizado é grande e preocupante sim. “Mas achamos ruim pôr em risco a vida das crianças por 40 dias de aulas”, defende. Para eles, seria possível planejar esse retorno para o próximo ano letivo, em 2022.
Ferreira sugere que os pais que não se sentem seguros com o retorno conversem com a associação de pais e mestres da escola. “Que os pais se envolvam na comunidade escolar e verifiquem se o colégio do filho oferece as condições mínimas de segurança. Para os colégios que têm segurança, podem mandar os filhos de olhos fechados. Mas os que não têm, os pais têm que avisar à comunidade e ao município que naquele espaço específico o decreto tem que ser adaptado para que haja as condições mínimas de segurança", afirma.