Júlia Fernandes

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Repórter

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Tecnologia

Startup gaúcha que reproduz pele humana conquista primeiro lugar em programa nacional

Destaque na Região Sul do Brasil, a Núcleo Vitro reproduz pele humana em laboratório como alternativa ética aos testes em animais
Na sexta edição, o programa de aceleração Mulheres Inovadoras, idealizado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destacou a startup gaúcha Núcleo Vitro como primeira colocada na iniciativa em 2025. O programa, que iniciou em setembro e divulgou o resultado nesta terça-feira (16), já havia concedido R$ 52 mil em investimento a todas startups selecionadas para iniciativa. Agora, em reconhecimento à primeira colocação, a Núcleo Vitro recebeu um aporte de R$ 48 mil.
Na sexta edição, o programa de aceleração Mulheres Inovadoras, idealizado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destacou a startup gaúcha Núcleo Vitro como primeira colocada na iniciativa em 2025. O programa, que iniciou em setembro e divulgou o resultado nesta terça-feira (16), já havia concedido R$ 52 mil em investimento a todas startups selecionadas para iniciativa. Agora, em reconhecimento à primeira colocação, a Núcleo Vitro recebeu um aporte de R$ 48 mil.
A Núcleo Vitro é uma startup de biotecnologia especializada em testes laboratoriais de segurança e eficácia para produtos de saúde e cosméticos. A empresa usa métodos de biologia celular e engenharia de tecidos como alternativa ética aos testes em animais.

Bibiana Matte é a empreendedora à frente do negócio fundado em 2019. Graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com doutorado em Patologia Bucal pela mesma universidade, ela participou do programa Ciência Sem Fronteiras na University of Michigan (EUA), onde teve seu primeiro contato com cultivo celular.

“Durante o doutorado, me inquietava a forma como levávamos a pesquisa feita nas universidades para o mercado e como era realizada essa transição. Comecei a buscar maneiras de levar meu trabalho em laboratório para além dele. Toda a minha carreira de pesquisa na universidade sempre foi voltada a entender os processos usando modelos laboratoriais”, comenta Bibiana.
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Na época, Bibiana identificou uma demanda, principalmente no universo de cosméticos, por alternativas para a realização de testes de produtos. “Com o início da discussão sobre não fazer testes em animais, começamos a desenvolver um modelo de pele, que consiste em reproduzir a pele humana em laboratório”, explica.

Na prática, a Núcleo Vitro utiliza células da pele, como as que produzem colágeno ou têm ação antioxidante, para confirmar se um produto realmente possui o ativo que a empresa deseja anunciar.

O diferencial da Núcleo Vitro em relação aos concorrentes é o desenvolvimento de modelos de órgãos reproduzidos em laboratório, como a pele equivalente. Enquanto a maioria dos concorrentes trabalha apenas com células isoladas, a startup reconstrói as duas principais camadas da pele - a epiderme (camada superficial) e a derme (camada profunda, onde está o colágeno). Isso torna os testes da Núcleo Vitro mais fidedignos e reprodutíveis.
Bibiana Matte, Sócia-fundadora e diretora científica da Núcleo Vitro  | EVELYN REIS/NÚCLEO VITRO/DIVULGAÇÃO/JC
Bibiana Matte, Sócia-fundadora e diretora científica da Núcleo Vitro EVELYN REIS/NÚCLEO VITRO/DIVULGAÇÃO/JC


“Quando você compra um produto de uso noturno, por exemplo, que afirma ter ação antioxidante e estimulação de colágeno na pele, para as empresas incluírem isso nos rótulos, é preciso comprovar que realmente têm essa ação. Elas podem fazer testes em seres humanos (o que nem sempre é possível) e, anteriormente, faziam em animais”, exemplifica, afirmando que hoje os testes de produtos cosméticos em animais são proibidos. “Com os resultados que oferecemos a partir dos testes em peles produzidas por nós, as empresas podem usar isso na rotulagem dos seus produtos.”

A Núcleo Vitro possui seis modelos exclusivos e patenteados de pele equivalente in vitro, desenvolvidos para testes de produtos cosméticos, farmacêuticos e pet care. Recentemente, a companhia inovou ao se tornar a primeira no Brasil a adotar a tecnologia organ-on-a-chip, utilizando sistemas microfluídicos. Os sistemas simulam múltiplos órgãos conectados (como intestino e fígado), permitindo testes de segurança e eficácia sem o uso de animais. O avanço tem o potencial de acelerar significativamente as pesquisas em fármacos e nutracêuticos.

Em seis anos de operação, a empresa já avaliou mais de 2,4 mil produtos e desenvolveu mais de 50 metodologias diferentes, atendendo a mais de 240 empresas no Brasil e em outros 11 países. “Em relação às metodologias, significa que testamos 50 atributos diferentes em um mesmo produto, como ação antioxidante, estimulação de colágeno, melhora na barreira da pele. Atualmente, também temos a área de absorção intestinal”, explica Bibiana.

A startup relatou um crescimento significativo nos últimos anos. A Núcleo Vitro cresceu mais de 50% de 2023 para 2024, e o mesmo crescimento é projetado de 2024 para 2025.

Programa Mulheres Inovadoras

Desde a criação do programa de aceleração da Finep, em 2020, a Núcleo Vitro participa dos editais. “A oportunidade nunca havia surgido, mas fomos selecionados neste ano, creio que pela maturidade da empresa e pela demonstração das nossas conquistas ao longo dos anos”, conta Bibiana.
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O programa ofereceu mentoria especializada, treinamentos para acesso a investimentos e planejamento estratégico de crescimento. Ainda como parte do programa, a Núcleo Vitro recebeu durante o processo o investimento de R$ 52 mil.

“O processo foi bastante intenso, com vários temas relevantes para o negócio e que com certeza nos ajudaram a crescer ainda mais”, comenta Bibiana, afirmando que o projeto abrangeu temas como comunicação e a criação de robôs usando Inteligência Artificial, visando melhorias práticas e crescimento.
A Núcleo Vitro pretende direcionar todos os aportes recebidos no Mulheres Inovadoras na ampliação de pesquisas nos modelos organ-on-a-chip.
Nas quatro edições anteriores, foram aceleradas 143 startups, com mais de R$ 6,9 milhões em prêmios.

Mulheres na Ciência

A liderança feminina é um tema de destaque na trajetória da startup Núcleo Vitro, tendo Bibiana como sócia-fundadora e diretora científica. A equipe da empresa é majoritariamente feminina, o que, segundo Bibiana, é motivo de orgulho para a startup, que consegue manter um time muito qualificado.

“No início, foi um desafio falar de um assunto tão técnico e específico. Sempre havia a barreira por sermos mulheres e jovens tendo que falar para grandes empresas. Acho que, com o tempo, fomos ganhando notoriedade, adquirindo mais conhecimento e, consequentemente, nos sentimos mais empoderadas”, reflete.

Bibiana destaca que o universo do empreendedorismo ainda é em maioria masculino. Ela frequentemente se encontra como uma das poucas lideranças femininas nos ambientes de inovação. Essa realidade enfatiza a necessidade de programas voltados para mulheres. “Essas iniciativas são importantes para que as líderes possam se conectar, se conhecer e se sentir próximas umas das outras. Elas também permitem que as mulheres empreendedoras vejam outras líderes em diversos campos no Brasil", observa a empreendedora.