A afirmação da presidente da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA), Suzana Vellinho Englert resume não apenas o espírito de acolhida da associação, mas a própria história da ACPA. Em cada sala preservada, cada vitral centenário e cada desenho original do arquiteto alemão José Lutzenberger, o que permanece é o propósito de ser o espaço onde Porto Alegre aprende, troca e avança em direção ao empreendedorismo.
Fundada em 1858, ainda como Praça do Comércio, a entidade nasceu na casa de campo do político e comerciante Lopo Gonçalves Bastos, na antiga rua da Margem, hoje conhecida como João Alfredo. No lugar da casa, atualmente, está localizado o Museu Joaquim Felizardo.
A associação nasceu quando mercadores que chegavam pelo rio buscavam um local físico para realizar trocas e negociações. De acordo com a presidente, o térreo do Palácio do Comércio - com portões voltados à Mauá – era o espaço dedicado à circulação de cereais, carruagens e mercadorias que mantinham a cidade pulsante. Hoje, quase 168 anos depois, a lógica permanece: a ACPA segue sendo ponto de encontro entre quem produz, vende, cria e transforma.
Suzana garante que a entidade, apesar da idade, não parou no tempo. A retomada da independência institucional há oito anos, após um período dentro da Federasul, marcou uma virada. Desde então, a ACPA consolida uma atuação voltada à prestação de serviços e ao fortalecimento de redes de negócios. “É difícil trocar ideias com 500 pessoas, mas, em pequenos grupos, isso acontece com muita competência”, explicou, referindo-se aos seis núcleos temáticos que formam hoje o centro da estratégia de fomento ao empreendedorismo.
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Entre eles, destacam-se o Núcleo de Pequenas e Microempresas, que apoia quem está começando; o Núcleo de Economia Criativa, dedicado a profissionais de comunicação e cultura; e o Núcleo da Mulher Empreendedora (NuME), responsável por iniciativas como a recente Cartilha do Empreendedorismo Feminino, material que reconhece o ato de empreender como caminho de autonomia, propósito e transformação.
“Nós entendemos que tem uma coisa muito importante, que tem a ver com a vocação de uma entidade. Entendo que a vocação da Associação Comercial de Porto Alegre é ser uma entidade prestadora de serviços a seus associados e a comunidade. Esta casa é uma casa aberta a quem deseja empreender, e, hoje, nós estamos fazendo um trabalho muito forte, porque entendemos que se faz negócios a partir de pequenos grupos”, explica.
Os corredores do sexto andar, onde estão espaços importantes como a Sala de Honra, Sala da Presidência e a Sala Fábio Araújo Santos (FAS), reforçam a dimensão do trabalho por ali realizado. Com capacidade para receber cerca de 35 pessoas, a FAS é o local onde a diretoria e o conselho se reúnem quinzenalmente, de portas fechadas ou em modelo híbrido, para alinhar pautas estratégicas relacionadas à cidade e à própria entidade. “As pautas discutidas aqui são as mais diversas. Assuntos referentes a Porto Alegre, à própria Associação Comercial, porque nós entendemos que essas reuniões são superimportantes para fazermos um alinhamento, permitindo que todos os integrantes da diretoria, conselheiros, presidentes e diretores, estejam alinhados com o que estamos fazendo”, constata a presidente.
No mesmo andar, os corredores são estampados por quadros com o projeto arquitetônico do prédio histórico. Cada detalhe foi retratado em desenhos feitos à mão pelo arquiteto alemão, que além de projetar cada espaço, já ilustrava nas imagens de que forma via cada local do prédio sendo ocupado. O arquiteto retratou nas folhas em branco grandes reuniões, almoços e eventos que até hoje são realizados no local.
A memória permanece preservada não apenas nos livros de atas que remontam a 1948, mas também no cuidado com a arquitetura, desde os lustres às colunas. “A manutenção é um dos pilares centrais da associação e é uma grande responsabilidade”, afirmou Suzana.
Mesmo episódios recentes, como a enchente de 2024, que alcançou 1,8 m no térreo, atingindo toda a subestação da energia elétrica subterrânea e mantendo o prédio fechado por 40 dias, não limitaram o ritmo da ACPA. A reconstrução foi rápida, e o tradicional prédio de 1940 retomou sua rotina de eventos como o Bom Dia Associado, o Capacita ACPA e o Menu POA.
O movimento de modernização inclui ainda a inauguração do espaço no quarto andar – voltado para confrarias, eventos culturais, formações - e a composição do Ilhota Hub, sediado no quinto andar e voltado ao empreendedorismo negro. No sétimo, o restaurante e o salão continuam recebendo grandes encontros, como imaginado por Lutzenberger nas ilustrações originais hoje expostas nos corredores.
Se no século XIX o prédio acolhia mercadorias vindas pelo cais, no século XXI a associação acolhe ideias como ponte entre micro e grandes negócios, entre tradições e inovações, entre trajetórias individuais e projetos coletivos.

