Júlia Fernandes

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Repórter

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Inspiração

Intercâmbio na Espanha transforma vida de jovens atingidos pelas enchentes de 2024

O Partiu Futuro Reconstrução, promovido pela Renapsi e realizado pelo governo do Rio Grande do Sul, selecionou cinco adolescentes impactados pelas enchentes de maio de 2024 para um intercâmbio na Espanha
Buscando promover educação, acolhimento e novas oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade social, o programa Partiu Futuro Reconstrução, promovido pela Renapsi e realizado pelo governo do Rio Grande do Sul, selecionou cinco adolescentes impactados pelas enchentes de maio de 2024 para um intercâmbio na Espanha. A viagem, realizada entre 20 e 28 de outubro, marcou a primeira experiência internacional desses estudantes - jovens que, pouco mais de um ano antes, enfrentavam perdas e incertezas.
Buscando promover educação, acolhimento e novas oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade social, o programa Partiu Futuro Reconstrução, promovido pela Renapsi e realizado pelo governo do Rio Grande do Sul, selecionou cinco adolescentes impactados pelas enchentes de maio de 2024 para um intercâmbio na Espanha. A viagem, realizada entre 20 e 28 de outubro, marcou a primeira experiência internacional desses estudantes - jovens que, pouco mais de um ano antes, enfrentavam perdas e incertezas.
Entre eles está Lukas Scheibler Kalkmann, morador do bairro Ponta Grossa, no Extremo Sul de Porto Alegre. A casa da família foi atingida pelas águas, obrigando-os a deixar o local por mais de um mês. “Quando eu ouvia o barulho da chuva, eu não conseguia dormir direito”, lembra o jovem. Foi nesse momento que sua mãe soube da iniciativa do governo do Estado e o incentivou a se inscrever. Segundo Lukas, o programa “ajudou a encher a cabeça”, oferecendo rotina, perspectiva e seu primeiro emprego com carteira assinada. “Consegui ter minhas coisinhas, meu próprio dinheiro. O Partiu Futuro me ajudou muito", afirma, Lukas. 
A coordenadora psicossocial da Demà, Ester Melo, acompanhou de perto os cinco selecionados, tanto no período de preparação quanto durante toda a viagem. Para ela, a oportunidade representou não apenas um intercâmbio, mas a abertura de um horizonte antes inimaginável. “Quando surgiu o intercâmbio, tratamos um tema muito importante: a ideia de poder sonhar. É mostrar que é possível, que mesmo em meio às dificuldades as coisas boas vêm”, explica.
Ester destaca que a seleção desses jovens exigiu um olhar sensível ao contexto pós-enchentes: muitos ficaram meses sem escola e ainda enfrentavam impactos emocionais profundos. O trabalho da equipe envolveu visitas domiciliares, acompanhamento psicossocial e articulação com as famílias, majoritariamente compostas por mães solo. “A gente precisa entender onde esse jovem está inserido. A família faz parte dessa construção”, afirma. Para ela, o intercâmbio também fortaleceu a confiança dos responsáveis. “Achei que seria mais desafiador, mas os pais entenderam que eles estariam bem amparados.”
Para Lukas, estar em Barcelona e Valência foi um choque positivo. Ele se encantou com as ruas largas, as ciclovias e a consciência ambiental das pessoas. “As calçadas são enormes. Eles priorizam o pedestre. E têm muita consciência de preservação”, descreve. Entre as atividades, o grupo visitou espaços de sustentabilidade, centros de inovação e locais marcados por tragédias climáticas — como o antigo curso do rio Turia, em Valência, transformado em parque após uma grande enchente. “O futuro está na mão deles”, reforça Ester, ao lembrar a importância de mostrar aos jovens como outras cidades se reconstruíram de forma sustentável.
De volta ao Brasil, Lukas afirma que quer levar para casa e para a comunidade o que aprendeu. “Eu vou trazer essa consciência para meus pais, meus amigos”, diz. O impacto também chegou ao irmão mais novo, de nove anos, que chorou ao vê-lo partir, mas agora se inspira no exemplo. “Eu disse para ele estudar bastante, porque um dia ele pode ter essa oportunidade.”
Para Ester, esse é o principal legado, o de romper ciclos e permitir que novas gerações enxerguem possibilidades. “Tu não vai almejar aquilo que tu desconhece. O acesso transforma. Quando o jovem vivencia algo maior, ele entende que é possível”, afirma. O Partiu Futuro Reconstrução, segundo ela, cumpre justamente esse papel de oferecer oportunidade, dar suporte emocional e social, e construir caminhos para que os adolescentes possam projetar um futuro diferente. “A gente busca que eles inspirem outros jovens. Que possam mostrar que existe algo muito maior e que eles podem chegar lá.”